Felipão ainda tem dúvidas para definir a equipe

O Brasil da estréia no mundial pode não ser o mesmo que começou o amistoso com a inexpressiva seleção da Malásia, sábado, em Kuala Lumpur.

A dica partiu do único responsável pela escalação da equipe, o técnico Luiz Felipe Scolari. “Eu posso adiantar que 90% é aquele time.” A expectativa em torno do aproveitamento de Denílson, contra a Turquia, na segunda-feira, permanece. Outros jogadores, no entanto, parecem ter entrado na briga por uma vaga no meio-campo, onde deverá se efetuar a provável alteração.

Vampeta, Juninho Paulista e Gilberto Silva são hipóteses nada contestáveis. Embora tenha elogiado Edílson por seu desempenho nos treinos, o atacante do Cruzeiro não deve iniciar a partida. “Não posso deixar de observar os que entram no decorrer dos jogos e se saem bem.” A frase parece uma referência direta a Denílson. Ao mesmo tempo que faz mistério, afirma que vai atuar com três zagueiros na estréia. Depois, pode voltar atrás e compor a equipe com a dupla de alas Cafu e Roberto Carlos e dois defensores, num esquema que ele chama de 4-2-2-2.

Na entrevista de ontem, citou várias vezes Denílson. “Quando entra, revoluciona.” Mas Scolari pode estar despistando. “Posso começar com os três “erres” – Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho – e sem o Kléberson”, disse. “Quem entraria? Esperem os treinos da semana.” “O Denílson viu que estava esquecido e soube valorizar a chamada para a seleção”, prosseguiu Scolari, encantado com a produção do atleta do Real Bétis nos últimos jogos e treinos da seleção. Em seguida, declarou, porém, que os adversários já tem uma estratégia para bloquear Denílson, caso inicie a partida.

“Temos outros jogadores que corresponderam plenamente. O Edílson é um que sempre faz gol”, disse Scolari, acrescentando que o critério para a possível alteração vai levar em consideração dois aspectos: a “experiência e a qualidade”, itens em que Vampeta e Juninho Paulista se sobressaem em relação a Gilberto Silva.

Cansada, a Seleção treina chutes a gol

Ulsan

(AE) – O primeiro dia de atividades da seleção na Coréia do Sul foi marcado por exercícios leves, a fim de que os jogadores conhecessem o local de treinamento na cidade – um complexo esportivo arborizado e florido – e pudessem se desfazer do cansaço da viagem procedente da Malásia. O técnico Luiz Felipe Scolari preferiu não forçar a equipe. Insistiu, no entanto, numa jogada que é fundamental no futebol: o chute a gol.

Ensaiou cobranças de falta e de pênaltis, tabelas pelas duas pontas com cruzamento para finalização dos atacantes. Cobrou bastante atenção e precisão e reclamava quando o jogador, antes de concluir a gol, dominava a bola com pouca agilidade. Scolari gosta de treinar essas jogadas sem a marcação do adversário, o que facilita em quase 100% o chute final. Ronaldinho Gaúcho teve o melhor aproveitamento nessa parte do treino.

Ronaldo ficou em segundo e surpreendeu ao acertar várias cobranças de falta. Em compensação, desperdiçou dois pênaltis seguidos. Scolari ensaiou arremates de faltas na entrada da área sempre com Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos na posição de chute. Ora batiam direto, ora um dos dois tocava para algum jogador destacado, próximo à área, pela esquerda ou direita. Este então conduzia a bola até rente à linha final e cruzava para trás. Rivaldo e Ronaldo, numa série, e Kaká e Luizão, em outra, concluíam para o gol vazio.

Depois, como tem feito há duas semanas, o técnico treinou saída de bola e toques rápidos numa faixa reduzida do campo. Era a obsessão de Scolari em ver seu time exercendo marcação cerrada e se livrando dela quando a posse da bola estiver com os adversários.

Susto

O lateral-direito Belletti foi a primeira vítima das más condições do campo de treinamento da seleção brasileira em Ulsan. Na manhã de ontem (horário de Ulsan) o jogador sentiu uma pequena torção no tornozelo esquerdo durante o primeiro treino realizado em Ulsan. O jogador foi submetido a aplicações de gelo no local da contusão. O médico da seleção brasileira, José Luiz Runco, confirmou que Belletti sofreu uma entorse no tornozelo esquerdo, mas que a lesão não preocupa. (SB e WV)

Idioma: o maior contratempo

Ulsan

(AE) – Um dos objetivos da Copa das Confederações, disputada em meados de 2001, era o de servir como laboratório para problemas que o público, em geral, poderia ter durante o mundial. O principal deles, as dificuldades dos visitantes com os idiomas sul-coreano e japonês. Mas isso não vem ocorrendo, pelo menos em Ulsan, a capital industrial da Coréia. Percebe-se até o esforço da organização da Copa em reduzir contratempos. Alguns, porém, chegam a ser constrangedores.

Mesmo nos restaurantes internacionais do hotel onde está hospedada a seleção brasileira existe uma incrível falha de atendimento. Os garçons não conseguem entender os termos mais simples da língua inglesa. Beber uma xícara de café, por exemplo pode ser um exercício de paciência. É preciso em algumas situações repetir o pedido três, quatro ou cinco vezes. O garçom até consegue pronunciar a palavra, em inglês, no caso coffee, mas não sai do lugar, de olho nos clientes com caneta e bloco a postos. Mais complicado ainda é conseguir um copo de coca-cola sem muito gelo.

Uma alternativa é pedir o refrigerante em lata fechada e cubos de gelo à parte. Fazer-se entender neste caso não é uma tarefa fácil. Sempre muito educados e simpáticos, os atendentes não parecem acostumados com as solicitações dos brasileiros, por exemplo. Nesta segunda-feira, um grupo de amigos do Rio e de São Paulo almoçou no Live Restaurant, especializado em comidas italianas e localizado no centro de Ulsan.

Queriam algo não apimentado. A primeira idéia: um espaguete à bolonhesa, para fugir da condimentada cozinha coreana. Em inglês, solicitaram um molho de carne leve, nada picante. Depois de 20 minutos, a frustração. Não havia como degustar algo tão ardente. Ocorreu então a idéia de comerem uma pizza “combinada”. Para que entendessem a aversão à pimenta, só restou aos brasileiros abrir a boca e abaná-la, com movimentos dramatizados, diante de um garçom sorridente e agora agradecido. Enfim, compreendera a mensagem. (SB e WV)

Scolari abre mão até do prêmio

Ulsan

(AE) – Quando entrou na sala onde dezenas de jornalistas o aguardavam, no hotel onde a delegação está concentrada em Ulsan, na Coréia do Sul, para a estréia na Copa do Mundo, dia 3, contra a Turquia, o técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, parecia outra pessoa. Com um tom mais ameno e conciliador, diferente daquele que o marcou na passagem pela Malásia, esclareceu um detalhe: se depender dele, dinheiro não vai ser problema para o Brasil conquistar o pentacampeonato. “Posso até abrir mão da minha parte para que eles (jogadores) dividam”, afirmou.

O comentário foi motivado pela informação de que alguns atletas mais influentes do grupo estariam planejando uma mobilização para, em caso de a equipe ultrapassar a fase semifinal, haver um reajuste no valor definido para a premiação. O presidente da Confederação Brasileira da Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, estipulou, de forma unilateral, que cada jogador e integrante da comissão técnica vai receber US$ 100 mil pelo pentacampeonato. “Dentro da realidade brasileira, posso dizer que nossa premiação é muito boa”, disse o comandante brasileiro.

Scolari enfatizou que não se importa em abrir mão de sua parte. Para ele, o negócio é capitalizar no futuro. “Deixo para lá 100, 200 hoje e fecho um contrato de um milhão, dois milhões amanhã se formos campeões. Sou gringo, mas não sou burro. Para mim, o que importa nesse momento é a competição”, observou. Além disso, não se mostrou preocupado com a atitude do grupo. “Eles (jogadores) têm o direito de não aceitar o valor proposto.”

Modesto

O treinador da seleção também afirmou que não vai cobrar dos jogadores o título mundial. Pelo menos nesse momento. Definiu-se que o primeiro objetivo é chegar entre os quatro primeiros. “As semifinais eu vou cobrar, mas não quero essa pressão sobre meus atletas”, garantiu. “Uma vez cumprida essa etapa, vamos trabalhá-los (os atletas) para chegar ao título.”

Uma das principais preocupações de Scolari continua sendo poupar o grupo da badalação que cerca o ambiente de uma Copa do Mundo. Segundo o treinador, a idéia é evitar que problemas antigos da seleção voltem a acontecer. O maior deles é a ansiedade exagerada, o nervosismo antes da estréia.

Insônia

Aliás, esse detalhe tem incomodado até mesmo o próprio técnico. Ainda na Malásia, já havia dito que não conseguia dormir direito. Acordava com freqüência às 3h30 e começava a assistir fitas dos adversários. Aos poucos, a responsabilidade de dirigir a seleção em um mundial começa a fazer diferença. “Nunca me imaginei dirigindo a seleção brasileira na Copa. Mas me imaginei, sim, no comando de seleções de outros países”, contou.

A respeito do futuro, Scolari já disse que não acredita quando Teixeira o assegura no cargo depois do campeonato mundial. “Todos sabem tão bem quanto eu que isso depende dos resultados”, ressaltou. Mesmo assim, fez questão de manter vivo o suspense. “Quem sabe um dia eu volte a dirigir a seleção brasileira”, afirmou, em um tom próprio daqueles que se dependem. (SB e WV)

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