Favorito desde a 1ª rodada

Não é fácil ser favorito do início ao final do campeonato. Geralmente, os que detêm esse título acabam derrotados – às vezes pelos adversários, às vezes pela própria soberba. Para chegar ao seu 31.º título estadual, o Coritiba teve que passar por esses obstáculos, pelas carências do elenco e pelo sofrimento das semifinais e da final. Mas, no final das contas, a torcida pôde soltar um grito preso há quatro anos.

Por ter feito a melhor campanha entre os paranaenses no campeonato brasileiro, o Cori entrou naturalmente como principal candidato ao título estadual. Apesar das negativas constantes do técnico Paulo Bonamigo, era claro que o Coxa mantivera a base e se reforçara, enquanto o Atlético sofria com a reformulação frustrada de Heriberto da Cunha e o Paraná lutava contra seus próprios problemas.

E o início apenas confirmou o que Bonamigo menos queria – o grande favoritismo alviverde. A goleada de 7×1 sobre o Prudentópolis animou os torcedores, que (premonitórios) chegaram a gritar “é campeão” ao final do jogo. Naquela partida surgia a estrela de Marcel, que marcou dois gols e arrancou para a sua melhor participação no time profissional.

A partida seguinte aconteceu em Londrina, e o placar de 3×1 para o Cori não refletiu o que foi o jogo. Equilibrado, o Tubarão impôs muitas dificuldades – uma première do que aconteceria nas semifinais.

Depois, veio o Paraná, em jogo que valia para o Paranaense e para a decisão da vaga do estado na Copa do Brasil. O regulamento do jogo permitia várias interpretações e previa pênaltis no caso de empate, mas Adriano se encarregou de acabar com a história. Em uma arrancada impressionante, o lateral deixou quatro marcadores para trás e tocou para Marcel marcar o gol da vitória. Era a manutenção dos 100% de aproveitamento e a vaga na Copa – mas essa já é outra história.

Contra o Iraty, o Coritiba sentiu pela primeira vez na competição dificuldades para sobrepujar um time marcador e aplicado. O Azulão complicou a vida coxa, e apesar da vitória por 1×0, a torcida deixou o campo preocupada. Mas nada que um Atletiba resolvesse. Marcel foi outra vez o herói, marcando dois gols (o Cori venceu por 2×1) e atirando o maior rival em uma grande crise que terminou na demissão de Heriberto, dias depois.

Naquele momento, a classificação já era certa, mas faltava a garantia da primeira posição. Isso aconteceu com as vitórias sobre Cascavel (2×1, de virada) e ADAP (2×0) – apesar do resultado, a atuação coxa foi muito fraca. A partida contra o Paranavaí (2×2), na última rodada, apenas serviu para a festa da torcida do noroeste, pois as duas equipes já estavam previamente classificadas em primeiro e segundo lugares.

A série de quartas-de-final foi disputada em um único jogo, e o Coritiba tinha enorme vantagem sobre o Malutrom. Mesmo não jogando bem no primeiro tempo, o Coxa impôs sua qualidade e venceu por 4×0 – do lado adversário, a boa atuação de Leandro acabou fazendo com que o lateral-esquerdo fosse contratado na semana seguinte.

Na semifinal, o Coritiba enfrentaria o Londrina e a empolgação de uma cidade que via sua equipe renascer no futebol paranaense. Por isso, e pelas falhas alviverdes, a série teve contornos de dramaticidade. No jogo de ida, Fabrício marcou no último minuto o gol do empate coxa, mantendo a vantagem para o Cori. E esta foi fundamental na volta, quando Reginaldo Nascimento e Marcel abriram vantagem, mas Paraguaio e Marcelo Silva igualaram o jogo. Com uma boa dose de sofrimento, o Cori estava na final.

E na partida em Paranavaí a história do Londrina se repetiu. Uma ótima atuação no primeiro tempo (com destaque para Pepo) fez com que o Coxa abrisse dois gols de vantagem, mas a desatenção nas bolas alçadas à área permitiram que o ACP chegasse ao empate e trouxesse a decisão para o Couto Pereira em relativa igualdade de condições. Mas foi melhor assim – tais dificuldades valorizaram ainda mais a conquista do Coritiba.

Título freia o avanço do rival

Cristian Toledo

O torcedor do Coritiba sofreu nos últimos quatro anos. Não foi somente por não ter conquistado nenhum título, mas também por ver justamente quem os ganhou. Enquanto o Cori penava com equipes ruins e campanhas medianas, o Atlético tornou-se tricampeão estadual e campeão brasileiro, igualando a principal glória alviverde. Por isso, retomar a hegemonia do futebol estadual dá, além de alegria, um alento ao machucado torcedor coxa.

“Precisamos acabar com essa série do Atlético. Se eles ganharem, vão chegar ao tetracampeonato estadual. O Coritiba precisa retomar o controle do futebol local”. A frase é de Paulo Bonamigo, em conversas com interlocutores antes do início do campeonato estadual. Isso prova velhas teses de rivalidade, que existem desde que o futebol é futebol -além de torcer pelo próprio clube, há que vibrar com a desgraça alheia. Nesse ponto, os alviverdes festejaram bastante a eliminação precoce do Atlético: quando o Rubro-negro foi eliminado pelo Londrina, o Couto Pereira explodiu como se um gol tivesse sido marcado.

Tal vibração tem explicações. No primeiro ano de jejum aconteceu a derrota mais doída. Na primeira final de campeonato paranaense realizada no Joaquim Américo, o Cori teve a vantagem do placar durante quase toda a partida com o gol de Leandro Tavares, e Anderson vira Flávio salvar a pátria atleticana depois de um chute colocado. Movido pela mística do Caldeirão, o Atlético conseguiu o empate com Gustavo e comemorou o título.

Em 2001, o primeiro semestre do Coxa foi muito bom, mas não se viu nenhum título no Couto Pereira. O time treinado por Ivo Wortmann foi vice-campeão da Copa Sul-Minas e terceiro lugar na Copa do Brasil e na Copa dos Campeões. No Paranaense, a mesma posição: o Paraná de Paulo Bonamigo foi o algoz alviverde após uma partida histórica no Couto Pereira. Fernando Miguel marcou o gol da classificação aos 48 minutos, quando ninguém mais acreditava no Tricolor. O campeão? Atlético, que coroou a temporada com o título brasileiro.

O ano passado foi marcado pela grande humilhação na Copa Sul-Minas, na goleada de 6×1 imposta pelo Paraná de Paulo Bonamigo. Trazendo o comandante tricolor, o Cori fez campanha invicta no campeonato paranaense, mas terminou de novo em terceiro lugar, eliminado pelo próprio time da Vila Capanema. Mais uma vez o Atlético levou a taça para casa

No segundo semestre veio a desilusão do campeonato brasileiro, no qual o Coritiba já contava com a vaga entre os oito melhores da competição. Mas derrotas para Gama e Figueirense acabaram com o sonho, e o Santos agradeceu a ?ajuda? coxa, que serviu de arrancada para o título. Para completar, os grandes rivais acabaram com a série invicta de oito partidas do Cori em Atletibas – que começara justamente em 2000.

Mas a recuperação veio em 2003, e em bloco. Primeiro, a vitória sobre o Paraná, que vinha sendo a ?asa negra? das últimas temporadas. Depois, a vitória no Atletiba, com direito a dois gols do jovem Marcel. Em seguida, a eliminação dos rivais, a classificação para a final e o título invicto. Não podia ser melhor.

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