Essa “cara” a torcida não quer!

Fortaleza – O Atlético começa a semana com a certeza de que chegou no fundo do poço e colheu tudo o que plantou – ou o que não plantou – durante todo o primeiro semestre. A derrota de 3 a 2 para o Goiás, sábado, em Fortaleza, eliminando a equipe da Copa dos Campeões sem nenhuma vitória, é o atestado dos problemas enfrentados nos últimos seis meses, após a conquista do título brasileiro. Mesmo nas duas competições em que foi bem – no caso a Copa Sul-Minas e Supercampeonato Estadual – o time foi premiado pela sorte e por fatores extra-campo mas nunca por gabarito técnico. Neste período, o time nunca manteve a regularidade e foi prejudicado por problemas na sua tão badalada estrutura.

Com seu ataque embalado pela “vontade” de Alex Mineiro – que a rigor só teve uma grande atuação, na goleada de 5 a 1 para o Grêmio em Porto Alegre -, e Kléber, que ainda não se antenou este ano, além das contusões de Adauto e Ilan, o Atlético passou a ser vulnerável também na defesa e meio-campo, principalmente quando Kléberson e Adriano não jogam. O fiasco na Libertadores só foi aceito pela direção porque o elenco não teve período para uma pré-temporada e cometeu erros de planejamento. Veio a Copa Sul Minas, que decidiu com o Cruzeiro, classificado depois de uma traumatizante vitória de 4 a 3 sobre o América-MG e uma “babada” do presidente Mário Celso Petraglia. Ele disse que a partir daquele dia, Nem não jogaria mais no clube e quem ficasse teria que ter “a cara dos atleticanos”.

Foram alguns jogos sob esse signo mas logo vieram outros problemas: a falta de um diretor de futebol, salários atrasados, e a saída de Geninho acabaram mostrando feridas mais óbvias. No Supercampeonato Paranaense, o time foi beneficiado pelo Coritiba (para quem perdeu mais um clássico) e foi campeão sendo goleado por 4 a 1 quando podia até perder para a Paraná Clube. Em outras palavras, o Rubro-negro passou de sensação dos últimos quatro anos para a vala comum, irritando sua torcida, principalmente pela falta de disposição de seus jogadores. A derrota de sábado é a quarta seguida da equipe.

No técnico

Diante disso, é difícil imaginar que a direção não tome nenhuma atitude para dar a volta por cima. Encerrada a sua passagem pela Copa dos Campeões, a diretoria rubro-negra se vê forçada a negociar alguns contratos que estão prestes a expirar – além de receber propostas sobre jogadores que fazem parte do atual elenco. Além disso, passa agora a correr atrás de um novo treinador. É o ônus de ser campeão no futebol brasileiro.

O nome do novo técnico do Atlético deve aparecer nas próximas horas. A péssima passagem atleticana pelo Nordeste apenas confirmou o que alguns dirigentes já pensavam. Apesar do título paranaense, Riva não seria o técnico ideal para o Brasileiro. Depois dos nomes de Ivo Wortmann e Abel Braga serem ventilados nas últimas semanas, o nome que aparece com mais força é o de Antônio Lopes, ainda coordenador técnico da CBF. Segundo amigos do treinador, ele participa hoje de uma reunião com Ricardo Teixeira, anuncia sua saída da entidade e assume o Atlético em seguida. Por enquanto, a diretoria atleticana nega qualquer contato.

Elenco

Entre os jogadores, o caso do meia Adriano é o que parece mais próximo de um desfecho – que, por sinal, é ruim para o Atlético. Apesar do interesse dos dirigentes, o Olympique Marseille já enviou as passagens para o jogador seguir para a França, onde deve ficar durante a próxima temporada européia. Além disso, o Santos demonstrou interesse na contratação do meio-campista, inclusive disposto a bancar um alto salário para tê-lo na Vila Belmiro. Apesar da vontade de Adriano em ficar, a Baixada está cada vez mais longe dele.

Kléberson é outro que dificilmente emplacará o Brasileiro com a camisa atleticana. O assédio dos clubes italianos é forte, apesar das negativas da diretoria. “Só sabemos das notícias dos jornais da Itália”, desconversa o coordenador de futebol Antonio Carlos Gomes. Internazionale e Parma se engalfinham pela contratação do atleticano, mas a Lazio sai na frente nesta disputa. Segundo fontes ligadas à direção rubro-negra, a proposta oficial de U$ 20 milhões já estaria na mesa do presidente Mário Celso Petraglia.

Kléber é outro que pode dizer adeus ao clube. Nesta semana vazou o interesse do Lille, da França, pelo atacante do Atlético. Ao seu melhor estilo, ele tentou negar e acabou confirmando. “Eu não sei de nada, mas meu procurador já está negociando com os franceses e com o Petraglia”, entrega. O passe do “Incendiário da Baixada” estaria sendo negociado por um valor aproximado de 9 milhões de reais.

Além do trio, o Atlético terá que (mais cedo ou mais tarde) iniciar negociações com três jogadores que têm contratos terminando no final do mês. O goleiro Adriano Basso, o zagueiro Gustavo e o volante Cocito já estão cientes de que precisam conversar, mas preferiram não tratar do assunto durante esta semana. Mas como o tempo está passando, nesta semana eles deverão ser procurados para o primeiro contato. A diretoria acredita que a permanência de Basso não deverá ser problemática, mas tem consciência de que Cocito e Gustavo são jogadores de visibilidade, e que podem criar dificuldades para a renovação.

Até Riva alerta: alguma coisa tem de ser feita

Fortaleza

– As feridas foram expostas cedo. Quando menos se esperava, o técnico Riva e alguns jogadores desabafaram em tom de crítica severa, colocando no ar algumas dúvidas sobre o futuro próximo do Atlético. O treinador atleticano chegou a falar em ‘vexame’ na Copa dos Campeões, e disse que chegou a hora de tomar uma atitude. O mais provável é que a diretoria tome algumas delas – sendo que uma seria a demissão do próprio treinador.

Riva não gostou do que viu na última partida atleticana no Nordeste. Para ele, nada poderia explicar (ou desculpar) a derrota para o Goiás. “Nós não podemos admitir esse tipo de atuação do Atlético. Do jeito que foram nossas atuações, não poderíamos nunca ter continuado na competição”, admitiu. Ele disse que era a hora de uma análise mais profunda dos problemas do clube. “Já perdemos um semestre este ano, e corremos o risco de perder outro se não tomarmos atitudes sérias”.

O atacante Dagoberto foi na mesma esteira. “Se quisermos alguma coisa no Brasileiro, temos que resolver nossos problemas logo”, disse. Para o treinador, o time que jogou no sábado foi ingênuo e desatento. “Os atletas foram alertados durante a semana que o Evair não poderia ser deixado sozinho em momento algum. Ele ficou livre e vocês viram o que ele fez”, criticou, citando os passes precisos do atacante no gol de Araújo e em outras jogadas. Apesar disso, ele não quis culpar nenhum jogador. “Não podemos escolher culpados”, afirmou. Mas, quando inquirido sobre as saídas de Rogério Correia e Alex depois dos erros cometidos, Riva negou tê-los `queimado’. “De forma alguma. Não há culpados isolados. Todos temos parcelas de culpa, principalmente o treinador, que sou eu”.

Já o lateral Luisinho Netto não resistiu. Irritado, o jogador criticou (sem citar nomes) aqueles que `não queriam jogar’. “Precisamos ver quem está a fim de jogar e quem não está. Quem não quiser jogar é melhor ficar de fora”, atirou. Segundo ele, a falha do Atlético foi subestimar o Goiás. “Não podemos pensar que vamos ganhar os jogos na véspera, só porque somos campeões brasileiros. Todo mundo quer ganhar da gente”, disse. Ele não concorda com uma remota `ressaca’ pelo título nacional. “Quem estava aqui merece todas as glórias, mas já passou. Não adianta nada se não vencermos”, finalizou.

Vitória

Para um veterano atacante, a tarefa tinha sido bem feita. Evair era a grande dúvida do Goiás, e quando foi confirmado alguns esperavam que ele sentiria a falta de ritmo. Mas, enquanto esteve em campo, o jogador foi o dínamo dos goianos – com o auxílio da falta de marcação do Atlético. Apesar da ótima atuação, ele preferia não falar em vitória pessoal – e nem mesmo no ressentimento de não ter vencido o Rubro-negro enquanto jogou pelo Coritiba. “Não é hora para essas coisas. O momento é de comemorar a vitória, que mostrou o quanto o Goiás está preparado para a Copa dos Campeões”, afirmou. (CT)

Evair desmarcado deita e rola no jogo

Fortaleza

– Se dependesse apenas da sorte e da ajuda do Flamengo, o Atlético estaria neste momento em Natal, preparando-se para as quartas-de-final da Copa dos Campeões. Mas dependia também de seus próprios esforços, e foi aí que a equipe não soube vencer o Goiás. E mais: não soube enfrentar um adversário com um esquema de jogo conhecido há tempos e que baseava sua criatividade em um `velho’ conhecido, Evair. A derrota por 3 a 2, sábado, no Estádio Plácido Castelo, não reflete a fraca atuação do time em dois terços da partida. E alguns momentos eram emblemáticos no momento em que o campeão brasileiro deixava a competição com a pior campanha entre os dezesseis participantes.

Parecia até que o Atlético iria se acertar, porque os primeiros minutos foram promissores. Marcando forte e aproveitando os erros da fraca defesa do Goiás (onde apenas o lateral Marquinhos se salva), o Rubro-Negro conseguiu dominar a partida em seus primeiros minutos. Mas foi um sonho de uma noite de inverno (apesar do calor acima dos 30 graus) – aos poucos, o adversário percebeu que os erros táticos dos paranaenses eram os mesmos das outras partidas e partiu para o ataque. Evair, desmarcado, era o motor do ataque goiano, acionando em diversas oportunidades os rapidíssimos Araújo e Zé Carlos.

Para completar, a defesa atleticana não percebeu (durante toda a partida) que Danilo era o jogador-surpresa do esquema de Edinho – assim como Fernandão o era há três anos, e o próprio Danilo desde a saída do meio-campista. Apesar de manjado, o esquema funcionava, e o armador – o melhor em campo – exigiu de Flávio uma defesa incrível, em um arremate que ainda desviou em Luisinho Netto. Do lado rubro-negro, Dagoberto era sublimado, jogando como ponta, enquanto Alex Mineiro tentava ser o homem da ligação, coisa que não conseguiu ser enquanto estava em campo.

Quem conseguia fazer a ligação era Evair, e aos 32 minutos ele deixou Araújo na cara do gol. O atacante apenas desviou de Flávio e abriu o placar. “É muita desatenção”, desabafou o técnico Carlos de Oliveira Carli (Riva) no intervalo. Ali, naquele gol, acabava o sonho do Atlético na Copa dos Campeões. Sem muitas opções, Riva partiu para o incentivo emocional no intervalo, mas nada conseguiu. Aos 11 minutos da segunda etapa, Araújo cruzou e Rogério Correia desviou para dentro do gol. O gol contra desnorteou ainda mais o Atlético e, para completar, Riva sacou o zagueiro logo em seguida.

Mesmo assim, ainda havia esperanças, e elas aumentaram quando Kléber foi derrubado por Mílton do Ó, aos 19 minutos. Alex queria se redimir, mas conseguiu piorar seu escore mandando a bola longe do gol de Harlei. Era aquele o retrato rubro-negro na já noite de Fortaleza, totalmente envolvido pelo adversário, pelo descontrole emocional e pelos erros táticos. Mantendo a média, Riva sacou Alex e logo depois Fábio subiu sozinho em uma cobrança de escanteio, cabeceou com força e venceu Flávio, marcando o terceiro do Goiás.

Dali em diante, não havia futebol, pois os vencedores resolveram reduzir o ritmo. Displicente, Araújo desperdiçou ótima chance mandando na trave. Assim, nem houve comemoração quando Kléber desviou o cruzamento de Luisinho e marcou aos 31 minutos. Da mesma forma aconteceu aos 47 minutos, quando o atacante fez outro gol, após receber passe de Rodrigo. Pouco importava – afinal, a derrota por 3 a 2 em nada salvaria a passagem atleticana pelo Nordeste, que naquele momento dava seu último suspiro. (CT)

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