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Empresa LaMia faz plano de risco em voo para a Colômbia e sofre com ‘inesperado’

As causas que levaram à queda na Colômbia do Avro RJ-85 da LaMia, na madrugada de terça-feira, a 30 km do aeroporto de MedellÍn, convergem em direção a escolha de um plano de voo de risco, complicado na fase final por dois eventos inesperados: a ocorrência de uma emergência declarada por um outro avião na mesma área, um A-320 com vazamento de combustível, e a perda do controle dos comandos de condução, em consequência da pane elétrica anunciada logo em seguida pelo piloto boliviano Miguel Quiroga.

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O voo CP 2933, da LaMia, decolou de Santa Cruz de La Sierra com os tanques cheios, 77 dos 92 assentos ocupados, nenhuma carga comercial e pouca bagagem.

A distância a ser percorrida era de 2.985 km, apenas 15 km abaixo do alcance máximo do jato, cerca de 3 mil km. De acordo com um ex-comandante de tripulação da companhia TAM, atualmente Latam, “um procedimento com margens tão estreitas não seria apresentado no Brasil, onde o piloto e a companhia são os responsáveis legais pelo plano”. Na prática, significa que os dados da documentação de detalhamento da viagem são reconhecidas como verdadeiras pela autoridade da Aeronáutica.

No caso do CP 2933, indicaria a conveniência de uma escala para reabastecimento. A dúvida é quanto aos motivos que fizeram um piloto hábil e experiente como Miguel Quiroga ignorar a parada, prevista primeiro para a pequena cidade fronteiriça de Cobija e depois para Bogotá.

A declaração do executivo da LaMia, Gustavo Vargas, de que as decisões cabiam apenas ao comandante, que este teria decidido seguir direto para Medellín para compensar o atraso, não se sustentam: uma alteração voluntariosa como essa, no meio do caminho, teria provocado pedidos de explicações dos controladores do tráfego aéreo.

Não há registro de qualquer reação dos centros da aviação pelos quais o RJ-85 passou. O esquema de navegação, uma espécie de mapa, registrado eletronicamente no aeroporto de origem, aparece automaticamente nas telas de todos esses pontos.

FORA DE LINHA – A British Aerospace, fabricante do modelo BAe-145/Avro RJ-85, quer acompanhar as investigações da queda. Descontinuado em 2002, o avião usa quatro turbinas de baixo nível de ruído e foi projetado para atender rotas regionais curtas, típicas da Europa. Uma versão especial serve a família real britânica.

De acordo com um engenheiro que trabalhou 10 anos na divisão do grupo em Woodford, o complexo industrial que centralizava a produção do jato, a estratégia do grupo era oferecer ao mercado um equipamento de custo razoável na faixa média do US$ 13 milhões, simples e de manutenção barata. Todavia, isso implicava um certo custo. A manutenção de cada unidade deve ser realizada na frequência determinada e sem concessões -, sempre muito rigorosa.

O avião da LaMia tinha 17 anos de uso. Na opinião do especialista, seus componentes e peças “teriam idade para serem trocados na metade do tempo da previsão inicial, ou seja, se alguma coisa tem de ser trocada a cada três anos, recomenda-se que isso seja feito a intervalos de um ano meio”.