Duelos memoráveis ao longo de várias décadas

São Paulo  – Por ser uma decisão de Campeonato Brasileiro, a final deste domingo é sem dúvida alguma o jogo mais importante já disputado entre as duas equipes, mas não se pode esquecer, no entanto, que a partida representa apenas uma página da longa história dos confrontos Corinthians e Santos.

A primeira partida entre os dois times, disputada no dia 22 de junho de 1913, terminou com uma goleada do Santos, 6 a 3, no Parque Antártica. Foram, de lá até hoje, 272 confrontos, 114 vitórias corintianas, 82 do Santos e 76 empates. O time da Vila Belmiro anotou 423 gols e sofreu 512.

O primeiro jogo entre as duas equipes foi disputado no dia 22 de junho de 1913, no Parque Antártica, em partida válida pelo Campeonato Paulista, numa vitória santista por 6 a 3. Em junho de 1920, o Corinthians aplicou a maior goleada dos confrontos, 11 a 0. O placar mais elástico a favor dos santistas foi registrado sete anos depois, no Paulista de 1927, Santos 8 x 3 Corinthians, no Parque São Jorge.

Em 1935, o confronto teve status de final. Líder na tabela de classificação, o Santos confirmou o título paulista em novembro daquele ano ao vencer o Corinthians por 2 a 0, no Parque São Jorge, com gols de Araken e Raul.

Na época de ouro do Santos, o time da Baixada impôs ao rival o maior tabu da história do confronto. O Corinthians venceu o Santos no dia 21 de julho de 1957, por 2 a 1, e depois disso ficou onze anos sem uma vitória. O tabu só foi quebrado no dia 6 de março de 1968, no Pacaembu, num 2 a 0 válido pelo Paulista, com gols de Paulo Borges e Flávio.

Nesse meio-tempo, só deu Santos. Alguns resultados desse período dão bem um retrato da desigualdade do confronto: Corinthians 1 x 4 Santos (27/12/59); Corinthians 1 x 6 Santos (30/11/60) e Corinthians 1 x 5 Santos (17/08/61).

Em 1964, o País se comoveu com um dos clássicos, mas não pelo futebol. No dia 20 de setembro daquele ano, a Vila Belmiro registrou 32.986 pagantes, recorde de público do estádio. A arquibancada, porém, não resistiu a todo esse peso e cedeu. 181 feridos e novo jogo marcado para o dia 6 de dezembro. Resultado: nova goleada santista, por 7 a 4, com um show de Pelé para os 55 mil torcedores que foram ao Pacaembu.

Acabou a Era Pelé e, com isso, o Corinthians passou a dominar o clássico. Venceu tudo na década de 70 e manteve um tabu de sete anos, sem perder de 13 de julho de 1976 e 31 de julho de 1983.

O Santos conquistou seu último título importante há 18 anos, o Paulista de 84. Na competição, disputada em pontos corridos, a equipe santista superou o Corinthians por 1 a 0, no Morumbi, com gol do artilheiro do campeonato, Serginho Chulapa, com 16 gols.

De 1984 até 2002, o Corinthians cansou de ganhar títulos, enquanto o Santos conquistou apenas o Rio-São Paulo de 1997, em cima do Flamengo. Entre os dois times, o jogo mais marcante, negativamente para os santistas, foi disputado o ano passado, na semifinal do Paulista.

Como havia vencido o primeiro confronto, por 1 a 0, o Santos precisava apenas de um empate para se classificar para a final do campeonato. O jogo estava 1 a 1 até os 47 minutos do segundo tempo, Gil recebeu na direita, driblou o marcador e encontrou Ricardinho na entrada da área. O meia acertou um chute perfeito e colocou o Corinthians na final do Paulista.

Parreira, em mais uma decisão

Valéria Zukeran

São Paulo

(AE) -Logo após a Copa do Mundo, o técnico Carlos Alberto Parreira disse que não estava preocupado com o futuro do futebol nacional, apesar da situação de penúria dos clubes. “O Brasil é uma fonte inesgotável de talentos”, afirmava, garantindo que até o fim do Campeonato Brasileiro o País conheceria novos craques. Mais uma vez, provou que estava certo.

Parreira só não sabia que sua previsão seria seu principal adversário na final da competição. O Santos, que este ano revelou a dupla Robinho e Diego, é o rival a ser batido pelo Corinthians. O técnico diz que, apesar da desvantagem, não joga a toalha e acredita no seu time, que já conquistou dois títulos nesta temporada.

AE

– Parreira, você convive com o técnico Emerson Leão desde 1970, em concentrações e em competições. O que ele levou de sua personalidade para o time?

Parreira

– O time do Santos tem uma coisa que me agrada muito, que eu sempre defendi e tento colocar em prática nas minhas equipes, que é uma coisa que você não pode fugir disso, é a modernidade no futebol: time bom, time campeão é aquele que sabe defender e atacar. Muita gente não atentou ainda. No time do Santos muita gente só fala em Diego e Robinho. A qualidade dos dois é muito grande, mas a realidade é que o sucesso existe porque o time aperta muito na marcação, está bem condicionado fisicamente, está bem motivado.

AE

– Das recordações que você tem do trabalho ao lado do Leão, tem algum fato marcante, ou até algum momento engraçado dos tempos de concentração e trabalho?

Parreira

– Não. Não lembro não. O que eu lembro é do Leão sempre um profissional muito sério, treinando com muito afinco. Era o primeiro a chegar no campo o último a sair. Trabalhando como profissional era o primeiro a entrar no vestiário e o último a sair. Portanto um profissional sério e muito correto.

AE

– Certa vez você disse que ser corintiano é religião. Quanto esta experiência está afetando você?

Parreira

– A gente vê esta paixão em todas as classes. As pessoas mais humildes, as pessoas de classe média, as pessoas ricas que a gente convive e encontra, amigos de amigos, corintianos… a paixão é a mesma, é igual: é do torcedor mais humilde ao torcedor de melhor situação. Quem é corintiano é apaixonado. Nos outros clubes no Rio de Janeiro, São Paulo mesmo a pessoa torce. Corintiano é como o torcedor do Fenerbahce, da Turquia. É muita identidade. Eles até se chamam de fanáticos. Torcedor do Fenerbahce, na Turquia é fanatic – essa palavra tem em turco, eles usam. Eu acho que o torcedor do Corinthians é exatamente isso. Ele é fanático, apaixonado.

Leão, o momento da recuperação

Eduardo Maluf

São Paulo

(AE) -Emerson Leão, aos 53 anos, está menos carrancudo. Ou mais “light”, como dizem alguns jogadores. Exatamente como ocorreu com Luiz Felipe Scolari na seleção brasileira durante a vitoriosa campanha no Mundial da Coréia e do Japão.

Será que o trabalho de Felipão teve influência no trabalho de vários treinadores e no de Leão? Ah, o técnico santista “grita” se lhe disserem que foi influenciado pela seleção e traz de volta à tona aquele Leão que todos conheciam: polêmico, de gênio forte e, às vezes, orgulhoso.

AE

– O que mudou na relação com o grupo? Está mais light?

Leão

– Estar um pouco mais ou um pouco menos (light) depende do grupo. Para um grupo mais velho, mais definido, você mostra o caminho e eles seguem ou não. Num grupo mais jovem, você mostra o caminho a correr e acompanha com eles para que não haja acidente de percurso.

AE

– Mas não perdeu o jeito disciplinador?

Leão

– Não, o Brasil é que não era disciplinador. Quando eu queria organizar alguma coisa no futebol, tinha rejeição. Quando queria cumprir certa coisa, tinha rejeição. Hoje, mudou muito, porque entrou a necessidade de um profissionalismo. A minha visão de hierarquia é que era antecipada.

AE

– Acha que está na melhor fase da carreira?

Leão

– Estou satisfeito com tudo o que está acontecendo neste ano e agradeço não só aos colaborares, como à inspiração que me foi dada. Isso me dá tranqüilidade.

AE

– E seu futuro no Santos?

Leão

– Primeiro, não tem pressa nenhuma porque tenho contrato até 31. Já está tudo organizado para o início do ano, pré-temporada, a não ser em relação ao grupo de trabalho. Isso fica para uma segunda etapa.

AE

– Mas sua intenção é ficar e dirigir o time na Libertadores?

Leão

– Ninguém logicamente poderia falar que não está satisfeito e eu não fujo à regra. Estou muito satisfeito com o que estou realizando. Mas quando existe o término do contrato, passa a vigorar o novo desde que exista acordo. O fato de ter satisfação e desejo não muda o acordo. Então tem muita coisa ainda a acontecer.

AE

– Quanto vale o time do Santos hoje?

Leão

– Se nós colocarmos um referencial idade, logicamente vai prosperar muito mais quem tiver menos idade. Não sei os números, mas sei que eles valem muito mais do que o Santos deve para todo mundo (cerca de R$ 100 milhões no total).

AE

– Você acha possível segurar Robinho e Diego?

Leão

– Eu ouço o presidente falar para a torcida não se preocupar, pelo menos até a metade do ano, ou seja, o que atinge o Paulista e a Libertadores. Que ele não iria entregar qualquer atleta nesse período.

Duplas fazem parte da história do clássico

Wagner Vilaron

São Paulo

(AE) -Pesadelo para qualquer defesa. Encantamento para qualquer torcedor. As duplas sempre deram um toque refinado e descontraído aos times de futebol, sobretudo no Brasil, onde a prática do esporte valoriza habilidade e troca de passes. Coincidência ou não, a história de Corinthians e Santos, os dois clubes paulistas que hoje decidem o destino da taça de campeão brasileiro, sempre foi marcada pela presença dos “compadres” da bola.

É aquela velha história. Quando a fase é boa, parece que a comparação com o time que encantou o mundo no final da década de 50 e durante toda a de 60 se torna inevitável. Claro, sempre lembrando o tradicional adendo “guardadas as devidas proporções”. Peculiaridades de quem já foi o melhor do mundo. Então, para não fugir à regra, que tal lembrar Pelé e Coutinho?

Nas alamedas do Parque São Jorge, a dupla mais lembrada, principalmente entre os torcedores que estão na faixa dos 30 aos 40 anos, é Sócrates e Casagrande. Hoje, a fama deixou de lado o meio-campo. O lateral Kléber e o atacante Gil são responsáveis pelo setor do time mais eficaz durante a temporada: o lado esquerdo.

Diego e Robinho se acertam fora de campo e se divertem juntos. Já Gil e Kléber fica complicado manter uma proximidade tão intensa quanto a de Sócrates e Casagrande, pelo fato de Kléber ser casado.

Mas é possível formar uma dupla apenas com treinamento e planejamento? Casagrande, com seu jeitão simpático, desengonçado, humilde e raçudo, é taxativo. “Não. É algo que acontece naturalmente, pois não basta serem bons jogadores. Precisa haver sintonia de personalidade.”

Nenhuma dupla marcou tanto a história do futebol como Pelé e Coutinho. Os dois se completavam com maestria. Deles, já se dissecou quase tudo. Mas como dizem que muitas vezes quem está fora tem melhor percepção, aqui o parecer de um francês, publicado no jornal L?Equipe em 1963: “É questão de segundos. Os pés mágicos, com rapidez alucinante, diabólica, passam pelos zagueiros espantados. A bola corre junto com eles, dominada e possuída. É uma jogada elétrica, avassaladora, irrefreável. Arte pura.” Pois é, são as duplas do futebol brasileiro!

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