Rio – “Ganhamos, mas não levamos.” A frase é do candidato derrotado à presidência do Vasco, Roberto Dinamite. O ídolo vascaíno admitiu ontem que a reeleição de Eurico Miranda para continuar no cargo nos próximos três anos foi cercada de fraudes. E confessou temer pela própria vida e da sua família, considerando que o seu adversário “é capaz de tudo”.

“As pessoas cobraram mais incisão de mim. Mas tenho que pensar nos meus filhos”, contou o ex-jogador. Dinamite revelou que só deixou São Januário antes do fim da apuração justamente por temer pela própria vida. “Um segurança do Vasco chegou para mim e disse: ?Roberto, posso segurar alguns, mas não todo mundo?”, afirmou.

Dinamite não confirmou, porém, se dará entrada na Justiça com um pedido de impugnação da eleição. “Vou me reunir com meus partidários e vamos decidir qual atitude tomar. Quero um resultado que seja imediato e não algo que demore anos para acontecer. Seria um desgaste desnecessário”, explicou. O ex-jogador, porém, já deixou claro que vai concorrer ao cargo daqui a três anos.

A apuração dos votos terminou à uma hora de hoje. Ao todo, 2.837 associados participaram da eleição. Dinamite teve 1.363 votos e Eurico, 1.474.

O ex-jogador do Vasco e da seleção brasileira citou vários exemplos de fatos ocorridos durante o processo eleitoral para fundamentar suas denúncias. Segundo ele, Eurico Miranda teria apresentado uma lista de sócios em condições de votar diferente da que foi apresentada pela Justiça. “Nessa relação, constavam os nomes de 1.400 pessoas sem data de nascimento, data da emissão da carteira de sócio e o endereço”, afirmou Dinamite. “Como vou saber se estão vivos ou se são maiores de idade?”, indagou.

Outra acusação era a de que, próximo das roletas por onde os sócios passavam suas carteiras comprovando estarem aptos a votar, havia uma sala em que as pessoas em condições irregulares eram encaminhadas. “Ali, tudo se resolvia e logo depois os sócios iam para a cabine votar”, disse Dinamite. Ele também levantou suspeitas sobre a lisura da contagem final. “Alguns correligionários do Eurico chegaram a dizer, antes da quarta urna ser aberta, que seria a virada do candidato deles. Não sei como sabiam disso.”

Roberto Dinamite também levantou suspeitas sobre as agressões aos jogadores do Coritiba, por parte de torcedores vascaínos, no dia 25 de setembro, pelo campeonato brasileiro. “Pode ter sido tudo armado para tirar os jogos de São Januário e o time ficar longe do clima político. E ainda faturar um dinheiro com as cotas”, afirmou. De acordo com ele, Eurico seria o articulador do ocorrido.

O ídolo vascaíno se disse triste com as ofensas de alguns torcedores durante as eleições e afirmou que jamais trabalhará com Eurico Miranda no Vasco. Ele revelou que, quando se aposentou em 1992, esperava ter sido convidado para assumir algum cargo no clube. “O Eurico me convidou para ser diretor de futebol com salário e tudo. Eu era vereador e, mesmo assim, aceitei. Mas nunca vi a cor do dinheiro”, contou, ressaltando que o seu adversário se considera “dono do Vasco” e que isso não é bom para a instituição. “É uma prepotência sem tamanho.”

Eurico

O presidente reeleito disse ontem que não irá mais disputar eleições no Vasco. “Não pretendo me candidatar de novo. A vitória de ontem foi definitiva. Não há motivo para pleitear mais alguma coisa”, afirmou. Apesar do resultado, o dirigente confessou ter ficado surpreso com a pequena diferença de votos (111).

“Fiquei surpreso, mas isso só aconteceu porque figuras ilustres do Vasco se omitiram e participaram de uma conspiração contra mim”, disse Eurico. Ele também criticou o ex-presidente Antônio Soares Calçada. “Ele não contribuiu em nada para ajudar. A participação tinha de ser mais efetiva. Todas as dívidas que temos aqui vêm da gestão passada.”

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