Debandada com bola rolando

O melhor zagueiro do Corinthians no campeonato brasileiro é Fábio Luciano, o principal atacante do Santos, Ricardo Oliveira. O artilheiro do Cruzeiro é Deivid e o do Paysandu, Robson. Era de se esperar que todos participassem da rodada do fim de semana, mas nenhum deles vai estar em campo, por causa de um fenômeno que ocorre pela primeira vez no País. Os atletas estão partindo em meio à competição e deixando seus clubes órfãos.

Os dirigentes são obrigados a repensar seus elencos e a correr atrás de contratações de última hora, sem nenhum planejamento. É que pela primeira vez o campeonato brasileiro dura o ano inteiro de março a dezembro e coincide com a abertura do mercado europeu. As agremiações não têm cacife para bancar a permanência de suas estrelas o que é normal nos países subdesenvolvidos e acabam sofrendo reformulação no decorrer da disputa, fato pouco comum. Por isso, não será estranho se um time começar fazendo boa campanha e acabar o torneio nas últimas posições.

Os participantes da série A do brasileiro têm até hoje, às 19 horas, para suprir as carências. Depois desse prazo, as inscrições estarão encerradas. O Santos, apesar de ter Robinho, Diego, Renato e companhia, vai, seguramente, sofrer com a ausência de Ricardo Oliveira, único grande finalizador do elenco. O atacante não acertou, ontem, com o Bétis e deve se transferir para o Valencia, também da Espanha. O Santos buscou alguns substitutos, mas as negociações não evoluíram. A cúpula santista anunciou ontem o lateral Neném, que deve ser o último reforço.

O Corinthians perdeu, em poucos dias, o zagueiro Fábio Luciano e o atacante Lucas. Ontem, foi a vez de Leandro sair. O jogador acertou contrato com o Lokomotiv de Moscou, da Rússia, e nem participou da partida diante do Atlético-MG, pela Copa Sul-Americana. Os corintianos ganharão apenas US$ 50 mil com a negociação, porque os direitos do atleta pertencem à Hicks Muse, ao Botafogo, de Ribeirão Preto, e ao Banco Axial.

Com os desfalques, os tropeços começaram a ser freqüentes, a equipe caiu na tabela de classificação e o desespero tomou conta da diretoria. O clube teve de sair às compras e contratou André Luiz, Robert e Jamelli. Mas André e Jamelli não chegaram com as condições físicas ideais e não jogarão pelo menos nas duas próximas rodadas. Resta saber se os reforços conseguirão manter o bom nível do Corinthians. Por sorte, Liedson, que havia se transferido para o Dinamo de Kiev, não quis ficar na Ucrânia e retornou ao Parque São Jorge.

O mês de julho é o mais agitado na Europa, pois é a época em que as agremiações ficam liberadas para negociações. O Cruzeiro foi uma das vítimas dessa ?fome européia?, que, no entanto, perdeu um pouco de força nos últimos anos por causa da crise econômica. O atacante Deivid, que marcou 15 gols no brasileiro não ficou constrangido em sair para o Bordeaux, da França. Para a reposição, os dirigentes mineiros levaram para Belo Horizonte Alex Alves, da Portuguesa, Alex Dias, que estava no Saint Etienne, e Márcio, ex-Paraná.

De acordo com Juvenal Juvêncio, diretor de futebol do São Paulo, e outros cartolas paulistas, como o corintiano Antonio Roque Citadini, o problema da debandada de jogadores no meio do campeonato só será resolvido com a adequação do calendário brasileiro ao europeu.

O São Paulo já perdeu Júlio Baptista e ainda corre risco de ficar sem Gustavo Nery, Kaká e até Luís Fabiano. Se, por exemplo Luís Fabiano for negociado, o time não terá nenhum atacante experiente no elenco. E, pior, não poderá contratar ninguém para seu lugar, pois as inscrições estarão encerradas. Restará apostar nos jovens Diego Tardelli, Kleber e Rico. O Milan ainda ameaça levar Kaká para a Itália. O São Paulo já recusou proposta de US$ 7 milhões pelo meia e, ontem, Juvêncio garantiu que rejeitará nova oferta dos italianos, caso não seja de pelo menos US$ 15 milhões.

Muitos brasileiros, que tiveram seus contratos vencidos na Europa ou que não fizeram sucesso, estão sendo repatriados, como Warley, que acertou com o São Caetano. Essa é uma das opções dos clubes para diminuir o prejuízo do elenco. O Fluminense apostou no retorno de Romário do mundo árabe e o Vasco trouxe de volta Donizete, que estava no México, e Edmundo, no Japão. Até agora, porém, os cariocas não conseguiram sair do fundo do poço e nenhum deles aparece entre os 10 primeiros do brasileiro. O melhor é o Flamengo, que perdeu Athirson e conta com um grupo modestíssimo.

Segundona também tem mudanças

Assim como na primeira divisão, algumas equipes que disputam a série B do campeonato brasileiro sofreram mudanças no elenco, embora menos radicais. O Palmeiras, por exemplo, contratou o lateral-direito Baiano e o atacante André. E pode até ter um outro reforço. O prazo para a inscrição de atletas para a competição termina apenas no dia 5 e o presidente Mustafá Contursi declarou, na terça-feira, durante a apresentação do novo uniforme do time, que “a vinda de um meia é possível, desde que os valores estejam de acordo com a realidade do futebol brasileiro”.

O problema mais sério do Palmeiras foi a perda repentina do lateral-direito Alessandro. O jogador atuou nas primeiras partidas da segunda divisão, mas após vencer uma disputa judicial contra o Flamengo, então proprietário dos direitos federativos do atleta, desvinculou-se do clube carioca e ao mesmo tempo do Palmeiras, para onde havia se transferido por empréstimo, e foi jogar na Ucrânia. Para a vaga, a diretoria contratou às pressas o lateral Baiano. Outra aquisição foi o atacante André, que estava no Internacional.

O Marília, que faz boa campanha na série B, anunciou a chegada do atacante Basílio, ex-Palmeiras, Ponte e Grêmio. O jogador, porém, só estréia no dia 10, contra o Botafogo, no Rio de Janeiro.

O Mogi Mirim está seguindo caminho inverso: em vez de contratar, pode perder dois atacantes. Um já saiu. Dênis foi negociado com o Kuwait. E Paulo Nunes, jogando um futebol de baixa qualidade, pode ser dispensado após seis meses no clube, período em que não marcou um gol sequer.

Já o Paulista segue com o mesmo time. Se não contratou, ao menos não perdeu suas principais peças, que estavam sendo assediadas por clubes da primeira divisão.

Último colocado, o União São João já fez uma revolução no time trocando de técnico duas vezes, dispensando 14 jogadores e contratando outros dez. Com tantas alterações, a equipe até melhorou, mas segue na lanterna e sem boas perspectivas de futuro.

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