Da medalha olímpica à dura realidade

Depois da festa, a dura realidade. A jogadora de futebol curitibana Dayane almoçou quinta-feira com os jogadores da seleção de futebol masculino, na Granja Comary, ainda colhendo “as oliveiras” da prata conquistada nas Olimpíadas de Atenas.

À noite, após ser recebida com festa pela família e algumas colegas de profissão, Dayane tomou ares de seriedade ao falar da realidade que a espera. Jogadora do Novo Mundo (campo) e Dom Bosco (futsal), a garota de 19 anos tem em troca de seu belo futebol apenas uma bolsa de estudos. Salário em futebol feminino no Brasil ainda é uma utopia. “É complicado chegar das Olimpíadas, após um bom resultado e ter que se deparar com a realidade. A esperança é que a partir de agora, com a nossa conquista, o futebol feminino passe a ser mais valorizado no Brasil”, diz.

Para a maioria das jogadoras brasileiras, a saída tem sido jogar fora do Brasil, onde a modalidade é encarada com profissionalismo. A craque do time Marta, por exemplo, joga no futebol da Suécia. “Mesmo eu não tendo jogado durante as Olimpíadas, foi uma experiência interessante. Tomei um conhecimento maior de como é o futebol fora do país e fiz bons relacionamentos”, explica.

No entanto, mesmo alimentando o sonho de um bom contrato no exterior, Dayane é articulada quando pensa no futuro do futebol feminino no Brasil. “Esperar de clubes é complicado, já que eles estão quebrados e não conseguem segurar nem as equipes masculinas, que geram mais lucro.” Para a jogadora, o ideal é despertar a atenção de empresas privadas que estejam dispostas a investir na profissionalização do futebol feminino. “É de onde pode vir dinheiro. Nós levamos o nosso trabalho a sério, mas tem que haver um reconhecimento. Não dá para viver de vento.”

Durante o almoço que confraternizou as duas seleções – masculina e feminina – o lateral-esquerdo Roberto carlos acenou com a possibilidade de repassar parte de seus investimentos no futebol para a categoria feminina. “Ele investe no masculino, em equipes mais pobres. Se decidir dar uma força, certamente será de muito valor. Com essa medalha, provamos que também somos boas no que fazemos. Chegou a hora do reconhecimento.”

Após o desfile no carro do Corpo de Bombeiros, a atleta se dirigiu à Arena da Baixada. Torcedora fanática do Atlético, Dayane fez questão de mostrar a seus companheiros de torcida a valorosa medalha. O próximo compromisso de Dayane pela seleção brasileira é entre os dias 10 e 27 de novembro, quando ela disputa o Torneio da Tailândia, com a seleção Sub-19. Nessa categoria, a curitibana é capitã das garotas.

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