Curitiba pintada de rubro-negro

GRITO / Mais de 15 mil atleticanos soltaram o grito de “é campeão”, que foi ouvido por toda a cidade

“É campeão.” Este foi o grito mais entoado ontem, depois do apito final da decisão do campeonato brasileiro, pela fanática, apaixonada e emocionada torcida rubro-negra. Não há como adjetivar a festa estrondosa da nação atleticana que tomou ruas, casas e principalmente o coração do torcedor. Curitiba está vermelha e preta, com muito orgulho. O Atlético é campeão do Brasil.

Cerca de quinze mil atleticanos, segundo a Polícia Militar, se espremeram em frente a Arena da Baixada para acompanhar a partida. Mais uma vez a beleza feminina se destacou na torcida rubro-negra. Bebês, crianças, adolescentes e idosos também se uniram num só objetivo, o título. Desde às 10h, já havia um clima de festa, prevendo a maior conquista do clube paranaense.

Quando o árbitro Carlos Eugênio Simon encerrou a partida, um mar rubro-negro começou um carnaval na Praça Afonso Botelho. Jamais algo parecido foi visto na capital. Ao mesmo tempo, muito choro, abraços e beijos. Muitos, porém, ficaram atônitos perante a proeza alcançada pelo clube, antes desacreditado. As principais ruas e avenidas da cidade foram tomadas e interrompidas pela festa atleticana, que não tem hora para terminar.

O jogo

Nervosismo, olhos atentos, unhas roídas. Este foi o comportamento da torcida durante o jogo. A multidão em Curitiba ia no ritmo dos atleticanos no Anacleto Campanella.

Aos 28 minutos do primeiro tempo, numa falta batida por Kléberson, foi o momento em que o povão mais se inflamou na esperança da abertura do placar. A partir deste momento, seguranças do clube e policias não conseguiram mais ficar de costas para o telão. No intervalo, quando se imaginava que as pessoas se acalmariam, os cantos da Fanáticos não pararam um só instante, levando assim a energia positiva que faltava para o time dar a arrancada final. Pode-se dizer que o segundo tempo foi mágico.

Contrastando sofrimento com alívio a cada minuto que passava, os atleticanos pareciam pressentir o momento do gol. Eram 21 minutos, Alex Mineiro pega o rebote do goleiro Silvio Luís, empurrando a bola para o fundo das redes do São Caetano, decretando o começo da festa. “O Furacão é campeão brasileiro. Ele é o verdadeiro campeão do Paraná. Nem o Bin Laden acaba com a nossa festa agora”, disse o torcedor Fábio Herreira, de 22 anos.

Quem estava visivelmente emocionado era o casal Marcelo e Patrícia Ferreira. Ela, grávida de nove meses, chegou no começo da tarde para só sair gritando “é campeão”. O nome do filho já está escolhido. Kléber, em homenagem a um dos artilheiros do Rubro-Negro no campeonato. “Estou muito feliz, pois meu filho está vindo para o mundo com a faixa de campeão brasileiro.”

Muitos atleticanos, ao contrário que se esperava, não atacaram o rival Coritiba. “Sei que muitos coxas-brancas e paranistas ficaram um pouco feliz com a nossa conquista, pois quem fica em evidência é o nosso Estado”, comentou a torcedora Dilza Ellen Garcia, de 22 anos. Agora, torcedor atleticano pode gritar: “Eu sou campeão do Brasil”.

Comemoração e uma tragédia

Cerca de quinze mil pessoas se reuniram na Praça Afonso Botelho, em frente à Arena da Baixada, para comemorar a vitória do Atlético. O cálculo é da Polícia Militar. Três ocorrências policiais foram verificadas, no entanto, em outras localidades da cidade.

Benedito Moreira do Vale, 44 anos, de bicicleta e vestindo a camisa do Atlético foi atropelado, às 18h30, na Avenida República Argentina, Água Verde, pelo ônibus da linha Fazendinha, conduzido por Rudi Stein, 59, que desviava seu caminho habitual pela canaleta, devido às comemorações do jogo.

Terminada a partida, Carina Santana, 7 anos, foi para a frente de sua casa, na Praça 2 da Vila Nossa Senhora da Luz, CIC, junto com a família para comemorar a vitória rubro-negra. Durante os festejos passou um carro com três indivíduos atirando para cima. Uma bala acertou o pescoço da criança. Ela foi socorrida no Hospital do Trabalhador, mas não resistiu e morreu antes do atendimento hospitalar. O pai é cabo da PM.

O repórter do Sportv, Bruno Gaudêncio, pouco antes de entrar ao vivo para mostrar a festa, foi atingido por um foguete no braço esquerdo. Ele sofreu alguns ferimentos, mas sem muita gravidade. Ele foi imediatamente à Clínica de Fraturas.

Efetivo

Desde o meio-dia, quarenta policiais militares cuidavam da segurança na praça. A partir das 18h, começou a troca de turno. Uma equipe de 120 soldados estava a postos para garantir a tranqüilidade na festa de comemoração. “Depois do jogo é que começa a bagunça. A tendência é que muita gente se exceda na bebida”, comentou um dos policiais.

Muita gente já estava abusando do álcool durante a partida. Vendedores ambulantes estavam satisfeitos com o resultado da venda de cervejas. O Siate levou ao hospital um torcedor em coma alcoólico, pouco antes do final do jogo. Outro não agüentou a emoção e teve parada cardíaca. Foi reanimado pelos socorristas e conduzido ao Hospital Cajuru. O mesmo hospital recebeu pessoas feridas, a maioria por fogos de artifício.

Trânsito

Um efetivo de cem policiais do batalhão de trânsito atuava no local desde o meio-dia. “Estamos cuidando do congelamento do trânsito em volta da praça”, afirmou o tenente Everaldo. Após o jogo, os policiais teriam que redobrar a atenção. “Muita gente vai dirigir embriagada”, previu o tenente.

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