Seis razões para entender a pressa pra volta do futebol. E quatro pra não entender

volta do futebol
Todo mundo quer ver essas cenas na volta do futebol. Mas ainda é cedo. Foto: Albari Rosa/Arquivo

Estamos fechando esta semana com uma nova onda de pressões pela volta do futebol brasileiro. Após a decisão de outras federações nacionais pelo retorno dos campeonatos, por aqui clubes, federações, CBF e governo federal aumentaram a movimentação para a liberação dos treinos pelos governos estaduais, o que já aconteceu em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

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Agora pouco se fala em data para as competições, e sim se pede a volta do futebol em treinamentos presenciais, envolvendo uma série de protocolos avalizados por médicos. E pra entender a pressa dos cartolas e políticos, listei seis razões abaixo. E também quatro motivos que fazem ter certeza que ainda não é a hora. Confira!

Volta?

1 – A volta do futebol é necessária

O que mais se fala é que o retorno dos clubes ajuda neste período de quarentena. Para as entidades, seria a chance de voltar a trabalhar e minimizar os efeitos da crise econômica. E para o público em geral, “o futebol é uma paixão do povo do Estado, podendo se converter em um importante meio de distração, reduzindo o stress do isolamento“, como escreveu o deputado fluminense Jorge Felippe Neto (PSD), em um projeto pedindo a volta do futebol no Rio de Janeiro.

2 – A queda de receitas

Com a maioria dos clubes brasileiros passando por dificuldades desde antes da pandemia do novo coronavírus, a principal receita vem dos direitos de televisão. Isso desde os gigantes da Série A até os participantes dos campeonatos estaduais. Sem competições, as receitas caíram e só vão ser recuperadas com a volta do futebol.

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3 – A vontade política

Uma corrente política muito forte – até pelo fato de contar com o apoio do presidente da República – quer a volta do futebol o mais breve possível. A articulação, em alguns estados, envolve inclusive partidos em campos ideológicos opostos. Além de tumultuar a relação entre governo federal e governos estaduais, há muita gente querendo capitalizar o assunto, afinal é ano de eleição.

4 – A influência externa

A volta do futebol brasileiro é inviável neste momento. Mas o lobby a favor do retorno dos treinos presenciais e mais tarde das competições usa torneios no exterior para justificar a iniciativa. A Alemanha retoma as atividades neste sábado (16), Portugal e Áustria já marcaram jogos para o início de junho e a Espanha deve voltar na metade de junho. A cada confirmação na Europa, os cartolas arrastam as fichas.

Pepe treina (quase) normalmente no Porto. O Campeonato Português volta em junho. Foto: Divulgação/FC Porto

5 – Os protocolos médicos

As imagens assustadoras da desinfecção dos centros de treinamento de Grêmio, Internacional e Atlético-MG são na verdade trunfos para a volta do futebol. A intenção é mostrar que é possível realizar treinos, mesmo de forma completamente diferente do que já vimos. Monitoramento de atletas, limpeza constante de equipamentos, testes incessantes, acompanhamento de infectologistas, tudo está nos planos dos principais clubes e também da CBF.

6 – Os médicos

Até duas ou três semanas atrás, era difícil ouvir algum médico favorável à volta do futebol. Agora, até infectologistas dão suporte aos clubes e à CBF, criando um cenário ‘científico’ para a pressão nos governos estaduais. “A gente tem que entender que o futebol faz parte das atividades econômicas do país, atividades sociais. Dá para retomar? Dentro do mesmo espírito que o país está retomando”, disse em entrevista pra Nadja Mauad o médico Jaime Rocha, vice-presidente da Sociedade Paranaense de Infectologia e que está trabalhando diretamente com o Coritiba.

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Não volta!

1 – A volta do futebol não é necessária

Não há nenhuma justificativa plausível para que retomemos campeonatos e até mesmo treinamentos. Há muitas outras atividades paralisadas que são mais essenciais do que o futebol. Vontade de ver um joguinho quase todo mundo tem (me incluo nessa), mas entre a vontade e a realidade tem uma estrada bem longa.

2 – Não vivemos o mesmo estágio dos europeus

É um fato que todo mundo diz, mas é preciso repetir. Na Europa, o estágio da pandemia está avançado em relação ao Brasil. Lá, eles já passaram da pior fase. Nós estamos no meio dela. É só ver o aumento de casos e óbitos notificados nos últimos dias. E como vivemos um isolamento social pra lá de mixuruca, o risco de termos uma tragédia maior é enorme.

3 – A maioria dos jogadores é contrária à volta do futebol

É só ver as manifestações que estão acontecendo. Até onde acompanho, não sei de nenhum atleta que tenha dito que essa é a hora de voltar a jogar. Sequer são consultados. Os jogadores de clubes menores passam por terríveis dificuldades, mas mesmo eles não vêm a público para defender a medida. A razão é simples: não há certeza absoluta da adoção plena dos protocolos médicos. E com isso o medo é maior do que qualquer outra sensação.

“Como é que o Governo Federal vem e dá um parecer favorável à volta do futebol? É uma coisa meio estranha e completamente, na minha visão, descabida”, disse Fernando Prass, goleiro do Ceará. Foto: Divulgação/Ceará SC

4 – Faltou moderação no debate – pelo menos até agora

CBF, federações e clubes viram uma brecha e quiseram arrebentar a porta. O movimento pela volta do futebol não foi bem recebido, a ponto de as articulações serem interrompidas. Foram retomadas agora, mas apenas nesta quarta-feira (13) surgiu uma proposta interessante: a Federação Gaúcha aprovou a volta do campeonato estadual entre a metade de julho e o início de agosto. É um plano bem mais razoável.


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