Coxa joga para levar vantagem

Cada jogo é um teste. Os próprios jogadores do Coritiba pensam assim, já que a invencibilidade é posta a prova cada vez que a equipe entra em campo. E isso acontece hoje, contra o Cascavel, às 20h30, no Estádio Olímpico Regional, no Sudoeste do Estado. Uma vitória praticamente garante o primeiro lugar na fase inicial do campeonato paranaense, além de reconfirmar o ótimo momento alviverde.

Uma série de invencibilidade não é uma novidade no Alto da Glória, principalmente nos últimos anos. Nos campeonatos passados (seja o estadual, seja o Brasileiro), o Coritiba sempre largou bem, e isso não foi suficiente para levar a equipe a boas colocações. Como exemplo extremo, no ano passado o Cori terminou o supercampeonato paranaense invicto, mas em terceiro lugar. Este ano, já são seis jogos, com seis vitórias.

Só que agora o elenco alviverde (em grande parte calejado pelos insucessos dos últimos anos) diz sentir um novo ambiente. “O que está acontecendo agora é diferente do que eu já vi por aqui”, diz o volante Reginaldo Nascimento. “Desde a diretoria até os jogadores, todo mundo percebe que há muito a se conquistar, que há muito o que fazer e que há muito o que melhorar”, resume o jogador do atual grupo com mais tempo de Cori.

Essa posição de um dos líderes do elenco alviverde é confirmada pela direção. Apesar da euforia pós-Atletiba, o secretário Domingos Moro continua apostando nos “pés no chão”. “Disse aos jogadores antes do clássico que tínhamos que reconhecer que temos as nossas limitações. No momento em que percebemos isso, teríamos condições de superação, porque vejo neles um desejo de melhorar sempre”, explica o dirigente.

Por isso que o técnico Paulo Bonamigo prefere trabalhar com um objetivo de cada vez, mesmo tendo que pensar em administrar o elenco para as jornadas quem vêm pela frente, principalmente a Copa do Brasil, que começa para o Cori no dia 19. “Se não tomarmos esse cuidado, pode ser pior. Já tivemos exemplos aqui mesmo no clube, e não podemos errar de novo”, avalia o treinador.

E mesmo que o adversário seja o lanterna da competição – e que a equipe tenha desfalques (ver matéria) -, Bonamigo exige atenção máxima em Cascavel. “Toda equipe tem pontos fortes, e o Cascavel também. Como eles estão necessitando da vitória, não podemos ficar nos descuidando”, diz o técnico. Como ponto favorável ao discurso dele, há a lembrança da partida contra o Londrina, quando o Cori penou para resistir à pressão do time da casa.

Dessa forma, o Coritiba chegou ontem ao Sudoeste com um desejo claro: três pontos, para praticamente definir a primeira fase em seu favor. “Pelo objetivo que temos, essa é a partida mais importante do campeonato”, resume o volante Roberto Brum. “Nós precisamos provar a todos, inclusive a nós mesmos, que temos condições de chegar mais longe. Eu acredito muito no Coritiba este ano”, finaliza Nascimento.

Time de hoje deve ir até final da 1.ª fase

Não se pode dizer que o Coritiba que entra em campo contra o Cascavel é a equipe que vai disputar a fase final do campeonato paranaense. Nem se pode dizer que é uma equipe que será repetida nos próximos jogos. Mas, filosoficamente, o time que joga esta noite representa o pensamento que norteia o técnico Paulo Bonamigo nos três jogos que restam na primeira fase (Cascavel, Adap e Paranavaí): garantir de uma vez a primeira posição, mas evitar o desgaste excessivo do elenco.

A entrada de Fernando Mello na lateral-esquerda, no lugar de Adriano (que será poupado), marca a primeira parte da história. Sim, porque a colocação de um atacante na vaga de um lateral demonstra o interesse de Bonamigo em manter (e até aumentar) a agressividade pelos lados do campo. “Nunca joguei por ali, mas vou ajudar no que for necessário”, diz Mello, que vem sendo muito elogiado pelo treinador nos últimos dias.

Bonamigo escala Fernando Mello porque imagina que o Cascavel, que joga com três zagueiros, deve tentar povoar o meio-de-campo, evitando que o trabalho de armação coxa tenha qualidade. Isso foi observado pelo auxiliar Hércules Venzon, que acompanhou algumas partidas do time do Sudoeste, inclusive o jogo em que o Cascavel foi derrotado pelo Malutrom em São José dos Pinhais.

Também é prova do interesse coxa pelo jogo o retorno de Tcheco, que não joga desde o clássico contra o Paraná, quando sofreu uma lesão no tornozelo. Se fosse o caso, Bonamigo poderia poupá-lo, já pensando no jogo contra o Ituano, dia 19. Mas até por isso é que o meio-campista vai jogar. “Eu preciso recuperar o ritmo de jogo. Se eu ficar fora, vou demorar mais ainda para estar em forma”, revela Tcheco.

Seu companheiro na armação será Alexandre Fávaro (entrando no lugar de Lima, outro poupado), que volta a ser titular do Cori após um longo tempo no banco e uma lesão no púbis – seu último jogo como titular foi em 2 de novembro do ano passado, contra o Internacional, em Porto Alegre. Ele jogará em sua posição de ofício, sendo o principal responsável pelo municiamento da dupla Edu Sales e Marcel.

Marcel, ídolo e próximo de um recorde no clube

Nem ele esperava. No início do ano, Marcel era apenas um dos postulantes a uma vaga de titular do Coritiba. Quando a ganhou, dizia-se que estava apenas “esquentando” a posição, já que seria contratado um centroavante – como foi. Mas passou um tempo e o jovem atacante coxa é o artilheiro e principal destaque do campeonato paranaense e ídolo da torcida. Era a resposta que muitos estavam esperando.

Desde que chegou ao Alto da Glória, para a disputa da Taça São Paulo de Juniores de 99, Marcel já absorvia a responsabilidade de ser um centroavante do Coritiba – dele sempre se esperou muito, até demais para um jovem. Essa expectativa aumentou ainda mais quando ele marcou o gol de empate em um clássico contra o Paraná, transformando-se em astro de ocasião.

Pressionado, Marcel sentiu, e acabou sendo emprestado no início de 2002 para a Matonense. Bonamigo pediu e ele voltou em maio, mas novamente o excesso de responsabilidade recaiu sobre o jogador. Ele foi escalado nas partidas contra o Figueirense e Gama, no Brasileiro, e não rendeu bem.

Deu certo. Hoje, Marcel é o maior ídolo do Coritiba, e pode atingir uma marca importante: ser o jogador com melhor rendimento ofensivo da equipe em um início de temporada. No momento, esse recorde é de Krüger, com nove gols em oito jogos, em 66. Com oito gols em seis partidas, o centroavante precisa de apenas um gol hoje em Cascavel para quebrar a antiga marca. “O Krüger veio falar comigo e disse que eu vou passar dele”, conta.

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