Um talismã do Coritiba chamado Toby

O garoto Dorival Mateus da Costa, de 17 anos, estava feliz da vida no banco de reservas naquela noite de 4 de julho de 1979 no estádio Serafim Meneghel, em Bandeirantes, por vários motivos: o principal deles era que o jogo estava acabando e o Coritiba ganhava do União Bandeirante por 3 x 0.

Dorival era chamado de Da Costa, ia ganhar um bicho inesperado: ou seja, o dobro do previsto. “Eu era do time juvenil, mas também treinava com o time titular e sempre era chamado para ser o 17.º jogador”, diz ele. Este 17.º jogador era chamado para um caso excepcional, porque o grupo em dia de jogo normalmente, naquele tempo, era formado por 16 jogadores.

“Era a velha história: alguém podia ficar doente e era preciso recompor o grupo. E naquele dia foi preciso e eu fui para o banco. Foi aí que o bicho dobrou”, diz ele. Todo mundo sabia que o bicho em caso de vitória era integral para quem jogou, 50 por cento para quem ficou no banco e 25 por cento para o 17.º. “Como eu estava no banco, a metade estava garantida”, diz ele. Foi então que um grupo formado por algumas dezenas de torcedores que pareciam locais e não eram porque torciam para o Coritiba, começaram a gritar: “Põe o Dori, põe o Dori, põe o Dori”. O técnico Ênio Andrade começou a ficar incomodado com aquele pedido estranho, olhou para o banco e perguntou: “Quem é esse Dori que estes malucos estão pedindo?”.

Arquivo pessoal
Toby foi peça fundamental no título brasileiro de 1985. Aqui comemora ao lado do ponta esquerda Edson.

Da Costa, meio encolhido, ergueu o dedo e disse: “Sou eu seu Ênio. Mas não liga para eles não. É meu pessoal de Uraí. Pode ficar tranquilo, mas o Dori sou eu”. O técnico olhou: “Mas você não é o Da Costa?”. Da Costa respondeu: “É que quando eu jogava em Uraí, meu nome era Dori”.

Ênio Andrade exclamou: “Meu Deus do céu!”. E como o pessoal de Uraí não parava de pedir a entrada de Dori, seu jovem ídolo, o técnico não se fez de rogado e berrou: “Luiz Freire, pode sair que o Dori vai entrar”.

O atacante olhou para o banco: “Quem?”. E o banco caiu na gargalhada. Por via das dúvidas, Luiz Freire saiu e Da Costa, aliás, Dori, entrou e fez sua estreia no futebol profissional. Jogou por uns dez minutos e voltou para Curitiba com o bicho de 100 por cento. Nada mal para um começo de carreira.

Hoje com 51 anos, morador do bairro Ahu, em Curitiba, Dorival Mateus da Costa se lembra desta e de outras histórias. Esta, por exemplo, foi uma de suas principais partidas de sua carreira profissional – porque foi a sua estreia numa noite vitoriosa. As outras duas foram disputadas nos dias 14 de abril no Couto Pereira e 31 de julho de 1985 no Maracanã, quando o Coritiba sagrou-se campeão brasileiro.

Nas três partidas quem estava comandando o time no banco de reservas era o técnico Ênio de Andrade, que dirigiu o Coritiba em duas ocasiões, naquele ano de estreia de Da Costa em 1979 e quando o Coxa foi campeão, em 1985, quando Da Costa estava em seu quarto nome futebolístico: Toby, porque o terceiro foi Kunta Kinte. E quem o batizou de Toby foi o ponta-esquerda Aladim. Ninguém hoje o conhece por Dorival, nem Dori, Da Costa e tampouco Kunta Kinte.

Carinho especial

Por sintetizar os melhores momentos de sua carreira, Toby tem um carinho especial por Ênio Andrade. E tem saudades até das brincadeiras do técnico. “Quando Ênio Andrade chegou para dirigir o Coritiba em 1985, ele me disse que o futebol estava em decadência, estava ficando muito ruim e fez cara de decepcionado. Eu fiquei com pena dele e perguntei o que tinha acontecido e ele me disse: quando eu estive aqui há seis anos, você estava no banco de reserva e se chamava Da Costa, agora todo mundo chama você de Toby e ainda estão dizendo que você é craque. Pode uma coisa ,desta?”, conta Toby, cuja vida no futebol pode ser considerada uma grande vitória pessoal e esportiva, mas recheada de histórias divertidas. Algumas delas pregadas por técnicos como Ênio Andrade e outras pelos próprios colegas.

Quando ele ainda estava no time juvenil do Coritiba, os veteranos Manga e Aladim chegaram apavorados para Toby e disseram que estava tudo certo para ele entrar para o grupo profissional.

Faltava apenas um detalhe. Toby quis saber qual era para providenciar o mais rápido possível. Aladim disse: “O atestado de óbito. Sem ele você não pode jogar”. Manga sugeriu para Toby ligar para a família em Uraí para providenciar o documento. Toby ligou e quem atendeu foi sua mãe, Dona Maria Aparecida: “Mãe, pode providenciar logo meu atestado de óbito que está tudo certo”.

A mãe de Toby nem quis ouvir o resto e passou o telefone para o marido, o mineiro José Mateus da Costa, que já atendeu meio bravo: “O que você disse para tua mãe, seu maluco que ela está tremendo aqui do meu lado”.

Ele ainda tentou convencer o velho: “Pai, estão dizendo que sem atestado de óbito eu não vou entrar no time profissional!”. O pai respondeu: “Com este atestado, você não entra em lugar nenhum. Isto é atestado de quem está morto”. A poucos metros do telefone, Manga e Aladim se desmanchavam de rir.

Livro

O título de campeão brasileiro de 1985 pode ser lembrado pra sempre. Com prefácio de Vinicius Coelho, Toby lançou o livro “Coritiba Campeão Brasileiro de 1985 na visão do Campeão Toby”.

Elogio

No jogo entre Coritiba e Portuguesa pelo Brasileiro de 1985, Toby enfrentou uma das lendas do futebol brasileiro, o zagueiro Luís Pereira, de Palmeiras e Seleção que disse: “Gostei muito desse negrão que joga com a dez do Coritiba”