Papel decisivo

Mãe e filho criam cartazes pra motivar jogadores do Coritiba em todos os jogos

Tahiza e Thyago separam recortes de jornais, especialmente a Tribuna, para formar mensagens de apoio aos jogadores do Coxa. Foto: Gerson Klaina.

Uma mãe, um filho e a paixão em comum pelo Coritiba. Assim é a história da secretária Tahiza Stein e do seu filho, o publicitário, Thyago Stein. Mais do que esse amor pelo clube, os dois fazem parte da família alviverde. Há 16 anos, mãe e filho são os responsáveis por darem aquele incentivo a mais aos jogadores do Verdão. Juntos, com o cuidado e o carinho necessários, eles fazem cartazes em todos os jogos e que são colocados no vestiário da equipe tanto nos jogos realizados no Couto Pereira, e também para os compromissos do time coxa-branca fora de casa.

Essa parceria entre mãe e filho começou com um fato triste para a família. Quando Thyago perdeu seu pai em um acidente quando era criança, perdeu também seu companheiro de Couto Pereira. Depois de um tempo sem frequentar o estádio, o publicitário, em 2002, ganhou uma companheira inseparável. Tahiza, ou Tia Tahiza, como é carinhosamente conhecida nos corredores do clube, não era ligada em futebol, mas para fazer companhia ao filho, tomou gosto e hoje não perde um jogo do Coritiba no Alto da Glória.

“O Thyago, antes de o pai dele falecer em um acidente, ia em todos os jogos. Mas aconteceu o acidente, ele gostava de ir no jogo, mas não tinha companhia. Em 2002 mudou, quando fomos ao hotel em que o Coxa estava concentrado. Encontramos o Tesser, Roberto Brum e o Sérgio Manoel em uma locadora e a recepção foi muito calorosa. Pedimos para eles autografarem a camisa e, quando fomos buscar, o Da Silva nos convidou para ir no jogo. Era um Atletiba, fomos e, até então, é difícil a gente perder um jogo”, contou Tia Tahiza.

Thyago Stein, hoje com 30 anos, é publicitário, mas arruma sempre um tempo de, junto com a sua mãe, produzir os cartazes. É, na verdade, o momento de cumplicidade dos dois. No Coritiba e nos jogos realizados em casa, os dois encontraram o verdadeiro significado de parceria e amizade entre mãe e filho.

“É bem legal. Começou quando eu tinha 14 anos e estava sem ir desde os 8 anos. Ela nunca foi ligada em futebol e começou por minha causa. Foi algo que encontramos em comum, que nos mantém próximos. Quando queremos dar uma volta vamos ao Couto e encontramos pessoas especiais. É muito legal quando encontramos na rua o Reginaldo Nascimento, o Tcheco e o Krueger (Dirceu), que fazem questão de nos cumprimentar pelo que a gente faz. A gente faz com vontade e, quando a gente sabe que eles gostam, que serve de incentivo, é muito bom”, comentou.

Em um primeiro momento, Thyago Stein começou a enviar cartas individualizadas para cada jogador e para os membros da comissão técnica. Depois, por sugestão da psicóloga do clube na época, mãe e filho começaram a fazer cartazes e não pararam mais. “Eles gostavam de coisas diferentes e ali a gente põe o que sai de bom, o incentivo e fazemos isso em todos os jogos”, emendou.

Foto: Gerson Klaina.
Foto: Gerson Klaina.

Tia Tahiza e Thyago, na verdade, fazem a parte deles enquanto torcedores. Os dois sabem que a fase do Coritiba não é boa. O clube, em fase de reestruturação interna, vai lutar pelo acesso à primeira divisão. Independentemente do momento do time coxa-branca, a dupla não deixa de apoiar e mostrar o verdadeiro sentido do torcedor no dia a dia do seu clube do coração.
“Quando você está bem aparece o incentivo de todas as formas. Até na sua vida mesmo. Mas se você tem um problema. É nessa hora que você vê quem gosta de você, quem te apoiar. A paixão é isso, no bom e no ruim”, lembrou Tia Tahiza.

“A melhor habilidade que você pode ter nessa vida é não desistir”. Essa foi a frase escolhida pelos dois para o cartaz colocado no vestiário antes do jogo contra o Figueirense no último sábado, no Couto Pereira. O Coritiba chegou perto da vitória e nem mesmo a fase de instabilidade abala a confiança da Tia Tahiza de que o Verdão vai conseguir o acesso à primeira divisão.

“Eu tenho certeza que a gente vai conseguir subir, que vai se acertar. A gente vê disposição, luta e isso que é importante. Não entendo muito de tática e levo até bronca porque para mim todos estão jogando bem, se esforçando. Tenho certeza que vão conseguir, que está no caminho. As vezes a torcida toda acha que está tudo errado. Eu não acho e por isso me chamam de tia. São meus sobrinhos. Lá é minha família maior. Esse clima é muito gostoso, é muito bom”, reforçou.

Segunda casa

Se antes não era tão ligada em futebol, Tia Tahiza tomou gosto pela coisa. O Couto Pereira é a sua segunda casa. “Ir no jogo é uma celebração. Tem um casal de amigos mais velhos que nos adotaram. Você vai ao jogo e acaba visitando seus amigos. É realmente uma segundacasa. As vezes todo mundo diz que futebol é só briga e falam só de coisas ruins, eu posso falar que é uma paixão. Hoje estamos na Série B, mas a paixão continua a mesma”, garantiu.

Thyago Stein também compartilha do mesmo sentimento da mãe. No Couto Pereira, o publicitário se sente em casa. “Me sinto bem lá. Mesmo quando não tem jogo a gente vai e dá uma volta, acompanha o treino. Em dia de jogo, é legal chegar antes, reencontrar pessoas, amigos, conversar sobre o jogo. É uma segunda casa e o lugar em que me sinto bem”, frisou Thyago Stein.

Dia de jogo é especial para mãe e filho. Em mãos com as reportagens da semana da Tribuna do Paraná, maior jornal impresso circulando em Curitiba, os dois começam a bolar a melhor forma de fazer os cartazes que os jogadores, horas depois, vão ver antes de a bola rolar. Thyago Stein admitiu que as vezes até rola uma discussão, mas tudo em prol do Coritiba.

“A gente tem discussões aqui também. Nem tudo é tão tranquilo. Eu fico mais com os textos e minha mãe mais com as fotos e recortes. Sou meio chato, dou pitacos e fico imaginando o que eles podem pensar quando eles lerem tal coisa. Tem que tomar cuidado para não parecer alguma cutucada. É um cuidado todo especial para que o objetivo final seja atingido”, concluiu o publicitário.

Apoio decisivo

Os cartazes feitos pela Tia Tahiza e pelo seu filho, Thyago Stein são importantes no vestiário do Coritiba e realmente mexem com os jogadores. Recentemente, quando o zagueiro Geovane voltou aos gramados depois de mais de um ano afastado e de ter passado por duas cirurgias no joelho, as palavras de afago e carinho comoveram o jogador. Ali, no Couto Pereira, momentos antes de ser titular no duelo contra o Vila Nova, no mês passado, o defensor coxa-branca, que teve sua continuidade no futebol colocada em xeque, se comoveu ao ver um dos cartazes com sua foto e a reportagem da Tribuna do Paraná sobre seu retorno aos gramados.

“É muito legal ver os cartazes no vestiário antes dos jogos. Motiva a gente. Quando cheguei no vestiário e vi o cartaz com a minha reportagem, fiquei muito feliz. Eu já estava motivado e fiquei ainda mais. É sempre assim com todos os atletas que veem os cartazes com seus nomes. Todos ficam muito felizes e entram mais motivados para os jogos. É dar os parabéns a esse belo trabalho da nossa torcedora”, disse o defensor, em entrevista à Tribuna do Paraná.

Mensagens da Tia Tahiza são consideradas fundamentais dentro do Coritiba. Foto: Gerson Klaina.
Mensagens da Tia Tahiza são consideradas fundamentais dentro do Coritiba. Foto: Gerson Klaina.

Ao saber que o zagueiro Geovane, nas suas redes sociais, postou uma foto do cartaz feito para o duelo diante do Vila Nova, Tia Tahiza não escondeu a emoção. “Fiquei muito feliz ao saber que ele gostou, que teve essa recepção. É gostoso saber que alguém gostou do que você fez. Foi um momento bom para ele, ele curtiu e é muito bom saber”, afirmou.

Hoje membro da comissão técnica permanente do Coritiba, Tcheco já viveu a emoção de, quando vestia a camisa coxa-branca, acompanhar o trabalho feito pela Tia Tahiza e pelo seu filho. O ídolo alviverde enalteceu a importância do trabalho desses torcedores fieis ao Verdão e admitiu que, por conta disso, acabou virando amigo da família.

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“Foi uma iniciativa que me surpreendeu muito no começo. Achei que ia ser esporádico, mas foi durante todo o campeonato. Quando retornei, quase oito anos depois, ela continuava fazendo. Isso demonstra o carinho e o amor pelo clube, pelos jogadores. Acabei me identificado com ela e com o Thyago, já que foram momentos marcantes naquela época (2002) e quando retornei também”, contou Tcheco.

Foto: Gerson Klaina.
Foto: Gerson Klaina.

O agora auxiliar técnico do Coritiba lembra com carinho da sua passagem como jogador do clube e como esse trabalho com os cartazes feito pela família Stein contribuem para o sucesso da equipe dentro de campo. “Tenho muito a agradecer a Tahiza e ao Thyago. Em 2002, eu me via na frente dos cartazes, me concentrava na leitura e isso me fortalecia muito. Temos um carinho especial um pelo outro, temos essa amizade, que não é aquela que se vê todo dia, mas por toda a história que já aconteceu entre nós. Minha passagem é marcada por ela e pelo Thyago e tenho um carinho especial por eles”, prosseguiu.

Correr por esses torcedores e por toda a nação do Coritiba, que não desistem e seguem acreditando na volta por cima da equipe alviverde. É isso o que Tcheco espera que todos os jogadores do elenco sintam a cada partida. A cada passada de olho e leitura no trabalho feito pela família Stein.

“É uma palavra a mais que motiva e que passava ainda mais confiança do que a gente já tinha. As vezes me vinha na cabeça que era mais uma torcedora que a gente estava representando. Que vinha aquela dedicação de estar sempre fazendo aquilo. Por quem a gente deveria correr e jogadores. São torcedores que merecem todo nosso respeito e admiração. Por eles que temos que jogar, correr e ganhar. São torcedores fora da curva e tenho certeza que a Tahiza e o Thyago fazem parte da família coxa-branca”, concluiu Tcheco.