O que vai acontecer?

Impeachment? Golpe? Entenda a crise do Coritiba

Samir Namur e seus companheiros de chapa após a eleição. O grupo agora corre o risco de ser afastado do Coritiba. Foto: Jonathan Campos

A péssima campanha em campo levou o Coritiba a uma briga política sem precedentes. Apesar de muitas disputas internas, eleições que chegaram a ser decididas por um voto e até renúncia, desta vez surge uma corrente disposta a usar o estatuto do clube para derrubar o presidente Samir Namur e seu G5. O pedido da convocação de uma Assembleia Geral foi o caminho usado pelos descontentes para tentar o “impeachment” do cartola. A oposição conseguiu na noite desta terça-feira (13) o número de assinaturas necessárias para a convocação.

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Não há uma razão concreta para pedir a destituição de Namur. É no “conjunto da obra” que o grupo de conselheiros se apoia para pedir a Assembleia. “Convocar uma assembleia em um momento de crise é salutar. Não tem um motivo para indicar qualquer irregularidade, é uma tentativa de discutir”, disse o ex-vice-presidente Alceni Guerra, um dos conselheiros que integra o abaixo-assinado, em entrevista à Gazeta do Povo. Além deles, estão membros da velha-guarda coxa, como Omar Akel e Elias Féder, além de políticos como Tito Zeglin e Reinhold Stephanes Júnior.

Evangelino renunciou em 1995. Foto: Arquivo
Evangelino renunciou em 1995. Foto: Arquivo

Quem encabeça a lista é Julio Jacob Júnior, presidente da Elejor (Centrais Elétricas do Rio Jordão S.A., sociedade de propósito específico ligada à Copel) e que era vice do “Conselhão” do Coxa quando o atual estatuto foi promulgado, em 2011 – Akel era o presidente. Em entrevista à Tribuna do Paraná, ele afirmou que a Assembleia Geral permitiria aos sócios se manifestarem. “O que se escuta da arquibancada é que a torcida, os sócios, têm vontade de participar mais ativamente do clube, inclusive para decidir a permanência ou não dele (Samir Namur) no cargo”.

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E realmente há essa prerrogativa. O artigo 43 do estatuto do Coritiba diz que entre as atribuições da Assembleia está “eleger ou destituir os membros do Conselho Administrativo”. As três formas de convocação são pela própria diretoria, pela assinatura de 20% dos sócios (o clube tem cerca de 12 mil associados. portanto seriam 2.400 assinaturas) ou por no mínimo 80 membros do Conselho Deliberativo.

Esse pedido segue agora para o presidente do Conselho Deliberativo, Marcelo Foggiato Licheski, que tem dez dias para convocar a Assembleia. E a marcação tem que ser divulgada amplamente, inclusive com edital em jornal de Curitiba, com no mínimo 20 dias de antecedência – portanto, o encontro só aconteceria em aproximadamente um mês. Só que há um trecho do Estatuto que permite uma antecipação “considerada a urgência da matéria a ser deliberada”, mas isso cabe apenas à mesa do “Conselhão”.

Bastidores

A partir da convocação da Assembleia Geral, a disputa interna não vai ser muito diferente do que se vê na política tradicional. Será o momento das negociações para garantir a maioria, além das argumentações necessárias para o convencimento dos indecisos e também para a participação maior ou menor de sócios. Para a oposição ao presidente, ele ainda tem capacidade de articulação para barrar um possível impeachment. “Não se pode subestimar a força do Samir, ele tem muita força hoje”, disse Alceni Guerra.

Jair Cirino ganhou por um voto; Vílson Ribeiro de Andrade foi muito contestado. Foto: Arquivo
Jair Cirino ganhou por um voto; Vilson Ribeiro de Andrade foi muito contestado. Foto: Arquivo

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Não há no estatuto do Coritiba nenhum regimento para reuniões que votariam a derrubada de um presidente. Inclusive o abaixo-assinado demonstra essa brecha da “constituição coxa-branca”, quando aponta a “inexistência de previsão estatutária de impeachment para o cargo de Presidente do Conselho Administrativo”. Assim, o trâmite do assunto na Assembleia será definido pelo Conselho Deliberativo. A única definição, segundo o artigo 50, é que “antes do início dos trabalhos previstos na pauta qualquer associado poderá manifestar-se sobre o objeto da convocação, por prazo não superior a 5 (cinco) minutos, assegurada prioridade na apreciação e deliberação quanto aos eventuais recursos a ela encaminhados”. Esses recursos são de economia interna, mas não se descarta a possibilidade da diretoria entrar na Justiça Comum.

Histórico

Crises internas não são raras no Coritiba. Em 1995, os resultados financeiros e as dificuldades em campo pressionaram o então presidente Evangelino da Costa Neves, que acabou renunciando, sendo substituído pelo “triunvirato” formado por Joel Malucelli, Edison Mauad e Sérgio Prosdócimo. Em 2007, um dossiê contra o então candidato Domingos Moro tumultuou o clube às vésperas da eleição, e Jair Cirino dos Santos, que era a terceira via daquele pleito, venceu a disputa por um voto. Nos últimos anos, as gestões de Giovani Gionédis, Vilson Ribeiro de Andrade e Rogério Portugal Bacellar sofreram bastante resistência, mas não houve um movimento explícito defendendo renúncia ou afastamento, como acontece hoje.

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