Primeiro tempo, o jogo mal tinha começado. O Coritiba atacava para o gol do placar no Couto Pereira. O lançamento era para a direita. Ele dominava em frente às sociais. Tentava a finta. Passava pelo adversário. Era a hora do cruzamento. Ele ajeitava o corpo e mandava para a área. A bola ia direto para fora. As vaias tomavam conta do estádio.
Reginaldo Araújo passou por isso várias vezes em sua carreira. Sete anos defendendo o Coxa, sete anos sofrendo com as mesmas cobranças. Campeão paranaense em 1999 e do Festival Brasileiro de Futebol em 1997, o lateral-direito foi o mais cobrado jogador de sua geração – e talvez um dos mais contestados da história do Coritiba. Mas era sempre titular, com todos os técnicos com quem trabalhou. E foi titular no São Paulo, no Santos (onde foi vice-campeão da Libertadores) e no Flamengo. Não era de forma alguma o jogador ruim que as vaias do Couto Pereira queriam demonstrar. Escreveu seu nome no futebol paranaense. E deixou em choque o esporte com sua morte precoce, ontem, com apenas 38 anos, após um infarto fulminante.
Reginaldo estava trabalhando no PSTC, que fará sua estreia na elite do campeonato estadual. Era auxiliar técnico do xará Reginaldo Vital, o treinador da equipe. “Ele passou mal durante o treino e foi levado para o hospital. Porém, infelizmente, acabou sofrendo o infarto e não resistiu. É muito triste. Ele chegou aqui em dezembro para trabalhar com a gente. Era um grande amigo”, contou Vital, em entrevista ao GloboEsporte.com.
Serenidade
Em todas as cobranças, algumas delas fora de propósito, Reginaldo Araújo manteve uma serenidade que surpreendia. Afinal, era necessário ter muito sangue frio para aguentar o que vinha das cadeiras, arquibancadas e dos microfones (sim, nós jornalistas também implicávamos muito com ele). Respondia treinando e treinando. E também com os técnicos que passavam e o escalavam – Abel Braga, Mauro Fernandes, Fito Neves, Jair Pereira, Valdir Espinosa, Lori Sandri, Márcio Araújo e Paulo Bonamigo.
A reação mais comovente aconteceu no dia 11 de setembro de 2002. O Coritiba enfrentava o Santos. Saiu perdendo por 2×0, dois gols de Diego. Diminuiu com Lúcio Flávio, empatou com Edinho Baiano. E aí a bola veio para a direita. O Coxa atacava para o gol do placar no Couto Pereira. Reginaldo não dominou. Chutou. A bola foi no cantinho. Era o gol da virada. Em vez de comemorar, ele saiu berrando e batendo no braço. Queria mostrar que ali estava um homem acima do lateral-direito. Os que sempre o vaiaram agora o aplaudiam. De pé.