Coritiba tenta salvar a vaga para a Libertadores

Salvador (BA) – Começou a “Operação Nordeste”. O título, ?criado? por Paulo Bonamigo, encaixa-se como uma luva no processo de recuperação pretendido pelo técnico e pela direção do Coritiba.

O objetivo é criar uma motivação (seja de que forma for) para os jogadores, fazendo com que eles entrem com outra atitude na partida contra o Fortaleza, domingo, no Ceará. A primeira atitude foi a troca de quatro jogadores da delegação.

Um dos que voltaria para Curitiba era conhecido: Roberto Brum, que está suspenso por ter levado o terceiro cartão amarelo contra o Vitória. O volante era um dos jogadores mais abalados pela derrota do domingo. “Estou com dores de cabeça horríveis, foi difícil para dormir. Mas eu não quero falar porque me conheço, vou acabar falando alguma bobagem”, disse ele, antes de viajar.

Além dele, foram liberados o lateral Ceará, o meia Souza e o centroavante Gélson. No final da tarde, chegaram a Salvador os meias Tiago Santos e Alexandre Fávaro e os atacantes Helinho e André Nunes. “Foram mudanças técnicas, de característica de jogo. E ainda há um jogador (Ceará) lesionado”, garantiu Bonamigo. O que o técnico preferiu não dizer, o secretário Domingos Moro e o gerente de futebol Oscar Yamato não quiseram esconder. “É uma opção de comissão técnica e direção por jogadores que estão com vontade de jogar”, disse Yamato. “Inevitavelmente, é uma situação que acelera o processo de reformulação do elenco”, comentou Moro.

E também um aviso aos que ficam. Ainda ontem o comando da delegação coxa programara conversas individuais com Lira, Lima, Marcel e Jackson – a idéia era saber desses jogadores se eles estão motivados para jogar em Fortaleza, ou mesmo de jogar pelo Coritiba. Internamente, não se descarta a possibilidade de algum deles também voltar a Curitiba.

Para completar, houve duas reuniões – uma com Bonamigo, na praia do Rio Vermelho (antes do treino regenerativo da manhã); a outra com Moro e Yamato, no início da noite. A conversa do técnico foi forte. “Disse a eles que a atuação contra o Vitória foi uma traição a eles próprios e a mim. O time foi medroso, sem vontade, sem empenho”, atirou Bonamigo ontem, em entrevista à rádio CBN. “Acabou sendo bom, porque coloquei a eles algumas coisas que eles precisavam saber”, completou.

Bastidores

As decisões acima foram tomadas na noite de domingo, em uma reunião convocada às pressas. Dela participaram Moro, Yamato, Bonamigo, o coordenador técnico Sérgio Ramirez, o preparador físico Róbson Gomes, o auxiliar Edson Gonzaga e o preparador de goleiros Cassius Hartmann. A conversa (definição do secretário coxa) durou mais de uma hora e nela houve pequenas divergências no método da “operação”: alguns queriam tomadas de posição mais fortes, outros preferiam reduzir os termos.

E o grupo tenta salvar os cacos

Agora é com eles. Os jogadores do Coritiba acabaram sendo os protagonistas involuntários das atitudes tomadas pela diretoria desde a noite de domingo. Depois das fortes declarações ouvidas após o fracasso com o Vitória, o elenco se fechou, sentiu o baque e agora tenta encontrar um jeito de responder às críticas internas, externas e mesmo individuais. Nas costas de dezenove jogadores estão os anseios de uma multidão de torcedores.

E, por saberem disso, os jogadores mais experientes do time se irritaram com o desempenho coxa contra o Vitória. As entrevistas de Odvan e Reginaldo Nascimento após o jogo confirmaram as próprias expressões de ambos – antes e depois de terem falado com os repórteres. “São dois jogadores importantes, a opinião deles pesa”, comentou um membro da comissão técnica.

Tal atitude gerou a chamada ?cobrança interna?, que tanto Bonamigo pediu. No hotel e no treino realizado na praia do Rio Vermelho os jogadores conversaram, buscavam soluções e tentavam entender o que está acontecendo. “Cada um faz a sua parte. Nós precisamos entender que está nas nossas mãos uma possibilidade incrível, talvez a chance das nossas carreiras”, disse o zagueiro Danilo.

Durante o dia, a notícia da troca de quatro jogadores da delegação abateu o grupo. “A gente fica triste pela situação e pelos companheiros que vão embora. Mas temos que acatar as decisões da comissão técnica”, comentou o goleiro Fernando. Ceará, Souza e Gélson (que foram com Roberto Brum) deixaram Salvador acabrunhados, sem o uniforme de viagem do Coritiba e sem qualquer representante do clube para as despedidas.

Tantas coisas ao mesmo tempo só aumentam a pressão e a ansiedade do elenco. “Espero que não haja nenhum problema anímico no grupo”, disse Bonamigo. “A gente se sente pressionado, mas é assim desde sempre. Nós temos que viver com isso”, diz Danilo. “A pressão não é de agora, vem desde o início do Brasileiro. E depende só da gente acabar com isso, mostrando a nossa capacidade e vencendo os jogos”, finalizou Fernando.

E chegaram os reforços da casa

A opção foi pelos que são “da casa”. Três dos quatro jogadores que chegaram no final da tarde de ontem na Bahia são oriundos das categorias de base do Coritiba – dois ainda têm idade para participar dos jogos da equipe júnior. Ao lado de Helinho, único sem vínculo com o clube, Alexandre Fávaro, André Nunes e Tiago Santos chegaram para dar um sopro de vontade ao grupo coxa que está no Nordeste.

Por mais que se fale na questão tática, é certo que a chamada dos quatro se deve à vontade que eles estão de jogar. “Falei com os jogadores pela manhã, e senti neles o desejo de ajudar o time”, contou o secretário Domingos Moro. Para um dos comandantes da delegação, eles “vão comer grama se for necessário”.

Ainda mais os jovens, no pensamento de muitos da comissão técnica. Alexandre Fávaro tem grandes chances de começar jogando, e André Nunes e Tiago Santos são ameaças reais aos titulares do ataque. “São meninos, ligados com a história do Coritiba e que com certeza terão muito o que acrescentar ao time nesse momento”, diz Moro. Para alguns, o aviso da viagem veio na madrugada. “Eu fui avisado ainda no domingo”, revelou Helinho.

Por isso a chegada deles foi cercada de expectativa – mais que fecharem o grupo, os jogadores passam a ser esperanças da equipe contra o Fortaleza. “A gente conversava no avião que o momento era de pensar em ser titular”, comentou Alexandre Fávaro. “Sabemos como está o ambiente, e acho que o mínimo que temos a fazer é nos esforçarmos ao máximo para conseguir essa vitória no domingo”, completou o meio-campista.

Viagem

Depois de três dias de Salvador, a delegação coxa segue às 11h30 para Fortaleza. A chegada no Aeroporto Pinto Martins está marcada para as 12h30, e de lá mais uma hora de viagem até um resort localizado em Aquiraz, na região metropolitana da capital cearense. Por causa da viagem, o treino desta tarde será apenas regenerativo, e Paulo Bonamigo só realiza trabalhos com bola a partir de amanhã.

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