Coritiba é bicampeão paranaense

Uma conquista para lavar a alma e derrubar tabus. O título conquistado pelo Coritiba na noite de ontem, com o empate em 3 a 3, marcou o fim de um jejum que já durava 25 anos. A última vez em que o Coxa havia levado a melhor em cima do arqui-rival numa final havia sido em 78. Em 79, veio o último bicampeonato. Ontem, a nação alviverde pôde reviver esses prazeres.

Entretanto, o que tornou o título ainda mais especial foi o fato de o Coritiba ter chegado à grande final em desvantagem, ter conseguido reverter a vantagem atleticana de jogar por dois resultados iguais e ter dado a volta olímpica em plena Arena da Baixada, a casa dos atleticanos.

Mais que isso, erguer a taça ontem à noite serviu de desabafo para os jogadores, que no meio da semana tiveram que ouvir do goleiro Diego, do Atlético, que o Rubro-negro era o melhor time. “A gente falou menos e jogou mais”, disparou o goleiro Fernando.

“Quem ri por último ri melhor. Quero que digam quem é o melhor agora”, declarou o atacante Luís Mário, entre lágrimas de emoção. Contratado no início do ano pelo Alviverde, o jogador disse que em nenhum clube que jogou se sentiu tão em casa. “Fui recebido numa família, o presidente me trata como filho e o grupo é maravilhoso. Já fui campeão da Copa do Brasil pelo Grêmio, mas esse título é especial. Se não tivesse vindo, ficaria no clube por mais dez anos se necessário para premiar a torcida”.

Cheio de conquistas em sua carreira, o colombiano Aristizábal, ria feito um menino e garante que era assim que estava se sentindo. “Estou feliz feito criança. Cada conquista é como se fosse a primeira. É maravilhoso poder comemorar com essa torcida incrível”, disse o jogador, aproximando-se do alambrado onde estava a empolgada torcida alviverde, que só arredou o pé do estádio quando não havia mais sequer um jogador coxa no gramado.

O lateral-esquerdo Ricardinho, que entrou no decorrer do jogo, tinha ainda mais motivo para comemorar. Torcedor do Coritiba desde pequeno, já sofreu muito na arquibancada e nunca tinha visto seu time ser campeão em cima do arqui-rival. “É uma sensação indescritível estar aqui dentro e contribuir para dar alegria à torcida. Eu já estive do lado de lá e sei como um título desse é importante”. O jogador teve oportunidade de entrar no jogo com a contusão do titular Adriano, que curiosamente também é curitibano e torcedor do Coritiba. “Fui campeão no ano passado, mas levar a melhor em cima do Atlético é diferente”, disse Adriano.

Cori passado a limpo em 2 anos

A diretoria do Coritiba está há pouco mais de dois anos no comando do clube. Mas apenas ontem pôde dizer que o trabalho está repleto de sucessos. Faltava a validação de todo o planejamento que Giovani Gionédis implementou desde 2002. E por mais que o Coxa fizesse boas campanhas em campeonatos brasileiros, que conquistasse de forma invicta do Paranaense de 2003 e que disputasse a Libertadores, estava faltando um título como o conquistado na Arena da Baixada. O bicampeonato estadual, ganho em cima do maior rival, na moderna casa adversária, coroa o melhor momento do Coritiba nos últimos vinte anos.

E só não é mais porque em 1985 o Cori foi campeão brasileiro – a glória (acompanhada do Paranaense do ano seguinte) foi ?ensanduichada? por crises e péssimas equipes. Agora, a hegemonia estadual foi reconquistada, tanto no aproveitamento geral quanto nos campeonatos locais. Desde o segundo semestre de 2002 o Coxa fica à frente de seus rivais diretos em todos os campeonatos que disputaram.

Fruto de uma administração que, em seus primeiros dois anos, assumiu pregando austeridade. E não foi fácil para Gionédis tocar o Cori nos primeiros tempos. “Todo dia tinha um oficial de Justiça querendo renda de jogos ou penhorando patrimônio”, contou certa vez. O clube ainda vive tremendas dificuldades financeiras, com uma dívida próxima a 50 milhões de reais, mas não tem nenhuma pendência nos últimos anos. Salários de jogadores e funcionários estão em dia. “É bem diferente trabalhar no Coritiba. Agora é um clube confiável, com gente séria no comando”, elogia Reginaldo Nascimento, capitão do time bicampeão.

Santos em casa

A regra de contenção financeira obrigou a diretoria a apostar nas categorias de base. Apesar da necessidade, não foi uma tacada apressada: ex-diretor da área, o hoje vice-presidente Domingos Moro promoveu a integração das categorias fundamentais com o time profissional, colocou técnicos identificados com o clube e começou a ganhar títulos e incorporar atletas no time profissional.

E se nos últimos anos eles apareciam lentamente (mas com a ?explosão? de Adriano e Marcel), em 2004 surgiu uma geração toda. Nove jogadores foram incluídos no elenco profissional após a Copa São Paulo de Juniores, e dois deles tornaram-se titulares absolutos. Com Miranda e Márcio Egídio na equipe, a garotada ganhou novos motivos para acreditar que terá chances com Antônio Lopes. Hoje, o elenco do Coritiba tem pouco mais de 50% de jogadores formados em casa.

Outra decisão de vulto foi a fuga dos vínculos com empresários. A única possibilidade disso mudar foi por água abaixo depois do fracasso da parceria com Juan Figger. “Esses caras não nos ajudam. Quando mais precisamos, eles não fizeram nada”, disse Domingos Moro. Com isso, ficou mais complicado contratar, mas mesmo assim houve tacadas ousadas, como a vinda do ?trio de ouro? formado por Aristizábal, Luís Mário e Tuta. Além deles, acerto na vinda de Luís Carlos Capixaba e Rodrigo Batatinha, que foram destaques no primeiro jogo da final.

Para completar, veio a unidade política. Afastado há quase dez anos, o ex-presidente Evangelino da Costa Neves retornou ao Alto da Glória como um dos nove ?cardeais? na segunda gestão de Giovani Gionédis. Hoje, o Coritiba não tem problemas internos, e a diretoria tem autonomia para mudar a estrutura do clube. Tantos sucessos só fazem o Coritiba acreditar que está no caminho certo. “Eu nunca disse que as coisas eram fáceis. Nossa dívida é grande, temos compromissos a cumprir, e vivemos muitas dificuldades. Mas estamos mostrando que, com trabalho sério, podemos conquistar muita coisa”, resumiu o presidente coxa. E os frutos já são colhidos.

CAMPEONATO PARANAENSE
FINAL
Local: Arena da Baixada
Arbitragem: Marcos Tadeu da Silva Mafra, assistido por Rogério Carlos Rolim e Vágner Vicentin
Gols: Jucemar aos 18, Rogério Correia aos 24, Jádson aos 27, Tuta aos 35 e Ígor aos 47 do 1.º tempo; Tuta, aos 32 do 2.º tempo.
Cartões amarelos: Alessandro Lopes, Luís Mário, Aristizábal, Alan Bahia, Márcio Egídio, Washington, Ataliba, Rodrigo Batata, Fernandinho, Pepo, Miranda, Ígor
Renda: R$ 271.650,00
Público pagante: 19.970
Público total: 22.422

ATLÉTICO
3x 3
CORITIBA

ATLÉTICO
Diego, Alessandro Lopes, Marinho, Rogério Correia, Fernandinho, Alan Bahia, Ramalho, Jádson (André Luís), Marcão, Ilan, Washington (Dagoberto). Técnico: Mário Sérgio

CORITIBA
Fernando, Jucemar, Miranda, Nascimento, Adriano (Ricardinho), Ataliba, Márcio Egídio (Pepo), Capixaba (Rodrigo Batata), Luís Mário, Aristizábal, Tuta. Técnico: Antônio Lopes

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