No luxuoso camarote do Maracanã, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, tira seu celular do bolso, aponta para o campo e tira uma foto. Pela internet, envia a imagem. A cena foi presenciada pela reportagem durante a partida entre França e Equador. Mas poderia ter sido em qualquer outro jogo e por qualquer outro torcedor que, pela primeira vez na vida, estivesse assistindo a uma partida de Copa.

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Primeiro foi o rádio, depois as imagens gravadas e mostradas dias depois dos jogos em cinemas. Em 1966, os primeiros jogos foram transmitidos ao vivo e, anos depois, as seleções ganharam cores. Agora, porém, a Copa do Mundo vive uma nova revolução: a digital. Para a Fifa, e mesmo para as empresas de tecnologia, o Mundial de 2014 entra para a história como o primeiro torneio plenamente conectado à Internet e acompanhado por milhões de pessoas nas redes sociais.

Em apenas 15 dias de Copa, a audiência na web já superou a marca de 150 milhões de pessoas, superior a todo o Mundial de 2010. “Isso mostra a importância da web para os torcedores hoje”, indicou Delia Fischer, porta-voz da Fifa. No total, o fluxo de informação que circulou na web por causa da Copa superou a marca de 32 terabytes, cerca de três Bibliotecas do Congresso dos Estados Unidos.

O Mundial e a web também modificaram a forma de os torcedores acompanharem os jogos. De acordo com o Facebook, a abertura da Copa foi acompanhada na rede por 58 milhões de pessoas, que intercambiaram 140 milhões de mensagens durante o jogo. O volume foi cinco vezes superior à interação durante a entrega do Oscar de 2014. Os brasileiros representaram 30% do fluxo no Facebook naquele dia, e a idade média dos usuários variou de 18 a 24 anos.

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No jogo entre EUA e Gana, 10 milhões de pessoas geraram 15 milhões de interações no Facebook. O site da Fifa na rede social se transformou durante a Copa na página de esporte mais acompanhada do mundo, com 31 milhões de seguidores.

Outra medida da nova forma de acompanhar um jogo é o uso do Twitter. Segundo o serviço de mensagens, a abertura gerou mais de 12 milhões de tweets, seis vezes mais que o Oscar. Não faltaram mensagens até mesmo de jogadores com príncipes e presidentes que os visitaram nos vestiários dos estádios, como no caso da chanceler Angela Merkel, em Salvador.

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Tuitadas selecionadas

Até entre os torcedores que vão aos estádios, tuitar virou uma mania. Ronald, de Quito, diz que tuíta entre quatro e cinco vezes por jogo. “No resto do tempo, estou roendo as unhas”, declarou, antes do duelo entre Equador e França no Maracanã. O torcedor-símbolo da França, Clement Antibes, admite que passou a postar suas fotos do estádio no Facebook. “Ganho mais de 800 novos seguidores por dia de jogo”, contou ele, que está em sua sétima Copa.

Só na abertura do Mundial, o endereço de Neymar (@NeymarJr) ganhou 165 mil novos seguidores. O volume foi dez vezes maior que um dia “normal” para o jogador, que já acumula mais de 11 milhões de seguidores. Para a Copa, as 32 seleções abriram contas no Twitter, inclusive o Irã, no endereço @TeamMeliIran. Cada seleção tem uma política diferente em relação a seus jogadores e o uso de redes sociais. Felipão, por exemplo, só não quer que questões internas sejam comentadas.

Em 2010, seleções como Holanda, Espanha e Inglaterra proibiram que seus jogadores usassem Twitter durante a Copa. Naquele momento, porém, o serviço de micromensagens estava começando e os interesses comerciais eram restritos. Em 2012, a Olimpíada de Londres foi considerada como o primeiro megaevento mundial a ganhar dimensão recorde nas redes sociais. Em apenas um dia, o número de mensagens enviadas foi equivalente a todas as mensagens durante os Jogos de 2008.

O COI decidiu distribuir um guia aos atletas sobre como usar as redes sociais, evitando endossar comerciais de empresas que não patrocinam o evento e “evitar assumir um papel de jornalista”. No fundo, o COI autorizava os atletas a compartilhar suas emoções e experiências. Mas de ninguém mais.

O Google também registrou uma mudança profunda na forma de interagir com a Copa. Só na primeira semana, a empresa identificou 641 milhões de buscas em seu site usando palavras relacionadas ao evento. Antes do jogo entre EUA e Gana, as buscas superaram os índices das finais da NBA.

As palavras buscadas também revelaram o interesse de cada país pela Copa. Na Alemanha, um dos termos mais buscados no Google desde o início da Copa tem sido “caipirinha”. Já no Brasil, depois do empate da seleção com os mexicanos, o termo “Chapolín Colorado” foi um dos destaques no buscador.