Copa 2018

Antes crítico, Tite vira escudo para Neymar

“Perder ou ganhar faz parte do jogo. Simular situação, isso não é do jogo, isso é mau exemplo pro garoto, para quem está crescendo, para meu filho.”

A queixa foi de Tite em 2012 e tinha Neymar como alvo. Hoje defensor do atacante, criticado por rivais, que o acusam de simular lances e se jogar em campo, o técnico da seleção brasileira atacou o então santista no Campeonato Brasileiro de 2012.

Na oportunidade, o Santos venceu o Corinthians, que era comandado por Tite, por 3 a 2, na Vila Belmiro. O treinador disparou contra a arbitragem em razão de um pisão dado pelo santista no lateral direito Guilherme Andrade.

Em vídeo publicado pelo Esporte Interativo, o técnico questionou se em alguma partida do Corinthians contra o Santos sua equipe havia sido desleal e recordou lance da expulsão do atacante Emerson em jogo daquele mesmo ano, pela Libertadores, após entrada em Neymar.

Emerson Sheik foi expulso aos 31 minutos, depois de um carrinho imprudente no atacante santista, que caiu e se revirou no chão. Depois do cartão vermelho ao adversário, Neymar se levantou.

Antes detrator, Tite virou o maior defensor do atacante na Copa do Mundo e escudo das polêmicas do jogador de 26 anos. Mesmo em casos semelhantes. Nas oito entrevistas que deu desde que chegou à Rússia, o técnico defendeu o camisa 10 ao menos seis vezes, enfrentando quase todas as críticas, mesmo quando não foi questionado.

E não foram poucas.

Na partida contra a Costa Rica, o ex-santista teve um pênalti anulado após conclusão do VAR (árbitro de vídeo) de que ele havia se jogado.

Na última, pelas oitavas de final, ouviu reclamações dos mexicanos por um lance em que se contorceu no chão após tomar um pisão. Também foi alvo de críticas por não estar rendendo o que poderia em campo.

Em todas as oportunidades que teve deu razão ao craque, o cobrindo de elogios.

A primeira vez que saiu em defesa do atacante em solo russo foi após a partida contra a Suíça. Neymar segurou muito a bola e sofreu dez faltas. Tentou dribles em várias partes do campo, mas não teve grande atuação.

“Todos têm responsabilidade de ser coletivo e outros individuais, alguns com características específicas. Não vou tirar dele [Neymar] a iniciativa do transgressor, do último terço do campo, da genialidade. Ele tem que entender que está num processo de retomada”, disse o treinador, ainda no estádio de Rostov-do-Don.

No segundo jogo, vitória por 2 a 0 sobre a Costa Rica, Neymar simulou um pênalti, que chegou a ser marcado, mas as imagens foram claras para mostrar que ele caiu sozinho. Tite voltou a defender o atacante da seleção brasileira.

“Eu assisti ao lance. Tanto pode dar como pode não dar. Eu, Adenor, marcaria. Como não apitaram o do Gabriel [Jesus], que era de interpretação. Se sou o árbitro, é cal. Mas respeito, porque é passível de interpretação”, disse.

Naquele jogo, o camisa 10 pareceu irritado, reclamou boa parte do tempo com o árbitro, mas conseguiu marcar seu primeiro gol no Mundial. Ao final, ajoelhou no gramado do estádio de São Petersburgo e levou as mãos ao rosto.

“Quero colocar para toda a nação brasileira. Estou em um posto, não sou… No primeiro jogo contra o Equador, o Tite chorou. O Tite chorou. Quando liguei para minha esposa, chorei de alegria, de satisfação, porque é nossa característica emocional. Chorei de prazer, de orgulho, de um momento de tanta pressão fazer um grande jogo”, disse Tite, antes do jogo contra a Sérvia, o terceiro da Copa, sem ser perguntado.

Depois do duelo, fez questão de fazer mais elogios.

“[Neymar] jogou muito, jogou demais [contra a Sérvia]. Eu falei para ele, ele sabe, nós sabemos o preço que ele pagou para chegar e retomar esse nível. Ele retomou o nível máximo dele, jogou muito. Baixou para ajudar a marcar lateral, teve transição precisa e finta em lance individual. Agora, sim, retomou seu alto nível”, disse o técnico.

Nenhum jogador da seleção brasileira foi tão defendido pelo treinador quanto Neymar. Nenhum outro, é verdade, foi tão atacado por rivais e críticos durante o Mundial.

No duelo de oitavas de final, contra o México, o camisa 10 fez sua melhor exibição desde o início do Mundial. Marcou seu segundo gol no torneio e foi decisivo para a classificação do Brasil nas quartas.

Não deixou de se envolver em polêmicas, no entanto. Aos 30 minutos do segundo tempo, levou um pisão em uma dividida. Caído, se contorceu no chão, quase em imagem semelhante àquela de 2012, a que se referiu Tite após expulsão de Emerson Sheik.

O técnico do México, Juan Carlos Osorio, reclamou do comportamento da estrela brasileira. Disse que houve simulação e usou palavras parecidas com as ditas pelo treinador brasileiro para descrever ações do atacante em campo.

“Não é um exemplo para o futebol e para as crianças que veem o futebol. É um jogo de homens, como em outros esportes, e não há espaço para tanta palhaçada. Me incomodaram as atitudes de quem tinha as ações de jogo”, afirmou o treinador do México.

Neymar foi questionado sobre a crítica, mas Tite, ao seu lado na coletiva da Fifa, não o deixou responder.

“Eu não vou responder ao Osorio, eu vi o lance”, afirmou o técnico da seleção. “Todos os que estão me assistindo tirem sua conclusão, o vídeo está aí. Imagem não questionamos”, completou.

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