Cascavel recupera credibilidade no futebol paranaense

Quando assumiu o Cascavel Clube Recreativo em meados de 2008, o ex-presidente Jair Bordignon não imaginava que a Serpente seria considerada uma das favoritas ao título de “campeã paranaense do interior” em 2010.

Afinal, o ex-presidente, hoje afastado por motivos de saúde, assumiu o CCR repleto de descrenças. Ao comentar o assunto, na época chegou a afirmar: “o time é totalmente inviável, mas vamos ver no que vai dar”. Toda lamentação foi fruto de uma dívida de R$ 587 mil feita por antigas gestões.

A Serpente do Oeste era comandada por um forasteiro paulista chamado Sérgio Santos. Não havia ambições, o público sumiu do Estádio Olímpico Regional e o time chegou perto de fechar as portas.

Após solicitar fornecimento de diversos serviços e produtos na cidade durante a Copa Paraná 2007, o último gestor abandonou o clube. Chegou a montar um time para o Paranaense 2008, mas depois sumiu de Cascavel acusado da apropriação de valores acima dos R$300 mil -recebidos pelo clube a partir de patrocínios e cotas de TV.

Na contrapartida da decadência do CCR em 2008, o jogador Juliano Belletti aproveitou para oficializar a fundação de seu clube particular na cidade: o Futebol Clube Cascavel, visto como “única chance de triunfo na cidade’ e atualmente na 2.ª divisão do Estadual. No entanto, em agosto de 2009, a história mudou.

Renascimento

Um quarteto de ex-atletas locais liderados por Ney Victor, ex-jogador do antigo Cascavel Esporte Clube e atual treinador do Cascavel Futsal, resolveu dar um basta na chacota que o futebol cascavelense havia se tornado e assumiu a direção do CCR.

Apesar de ser o único não cascavelense entre o grupo, Ney é paranaense de Inajá -noroeste do Estado – e chegou a cidade onde vive, com 12 anos de idade. Segundo o presidente, todas as dívidas trabalhistas foram quitadas em nome da credibilidade de uma equipe que precisava renascer.

“Entre elas a de um ex-diretor, cunhado do Sérgio Santos, ao qual tivemos que pagar R$ 75 mil pela ação. No restante, conseguimos negociar com os credores, refizemos a dívida e R$139 mil foram pagos com dinheiro arrecadado a partir de contribuições de pessoas da cidade”, conta.

Apesar de ter cerca de R$69 mil para quitar o total dos valores, o presidente cascavelense hoje pode dizer: “Terminamos de pagar até o final do ano, pois todas dívidas foram acertadas. Não tem como não pagar e não tem como aumentar”, comemora.

Uma das fontes de receita do CCR está nas 34 placas publicitárias no gramado, que rendem cerca de R$ 17 mil mensais aos cofres do clube. Outra virtude está nas quase 150 pessoas da cidade que se colocaram a disposição para pagar R$100 cada para ajudar o time e nos patrocínios de camisas, hoje totalmente ocupados.

Pra conquistar o interior

Recuperada a credibilidade diante de comerciantes de Cascavel, a próxima etapa da diretoria foi a contratação do treinador Elói Krüger. Velho companheiro dos atuais diretores da Serpente, o técnico já havia comandado o próprio presidente Ney Victor nos tempos de direção técnica na base do antigo Cascavel Esporte Clube.

“Como já conheciam meu trabalho, perguntaram a possibilidade de representar bem uma cidade no campeonato e recuperar credibilidade com toda comunidade esportiva. Aceitei o desafio, pois sempre me identifiquei com Cascavel e gostaria de retribuir tudo que a cidade já havia feito por mim”, disse o treinador.

Os atletas da Serpente, em grande maioria, foram ‘importados’ do Mato Grosso do Sul ou da região. “Sabia de atletas de qualidade, que haviam sido campeões por lá comigo no Águia Negra e até mesmo como adversários. A diretoria me deu carta branca e creio que trouxe os melhores jogadores possíveis para o clube”, conta Elói.

No salão e no campo

A força da torcida foi comprovada na média de público de 2.700 pessoas nas seis partidas do Cascavel em casa na 1.ª fase – ,4.ª melhor da competição. Destaque para o empate sem gols contra o Atlético, – também na 1ª fase do Estadual quando cerca de 7 mil pessoas compareceram ao Estádio Olímpico Regional torcer pela Serpente, um fato visto com alegria pelo diretor de futebol do CCR, Laércio Júnior.

“Creio que estamos fazendo um bom trabalho. Por isso o torcedor está voltando a comparecer, o que é bom não apenas pro time. É bom pro esporte de toda região”.