Capitã da seleção de handebol temeu pela carreira e escondeu trombose de colegas

Estivesse em um dos incontáveis voos nos quais precisa embarcar toda temporada, a pivô Fabiana Diniz, a Dara, talvez não pudesse nunca mais jogar handebol. Na quarta-feira passada, a capitã da seleção campeã mundial estranhou as dores na panturrilha direita, procurou um médico em Guaratinguetá (SP), sua cidade natal, e foi diagnosticada com uma trombose profunda. “Tive medo de não poder voltar a jogar, medo de que fosse o fim de tudo”, conta ela, em entrevista exclusiva à Agência Estado.

Por conta da trombose, causada possivelmente pelo uso de pílulas anticoncepcionais, Dara vai ter que ficar de repouso por pelo menos três meses e desfalcará a seleção brasileira que vai disputar os Jogos Pan-Americanos. O baque foi tamanho que a capitã ficou três dias deitada na cama antes de tomar coragem e contar para as colegas de equipe da sua doença. “Não queria passar para elas meu desespero. Queria estar forte para passar tranquilidade.”

Agência Estado – Como foi diagnosticada a trombose? Onde você estava?

Dara – Na quarta feira passada. Senti uma dor estranha na panturrilha, que mais que dor era um incômodo muito grande, uma queimação. Da panturrilha, subiu para minha coxa. Não gostei do quadro e liguei para a doutora Pauline, médica da seleção. Ela também não achou nada normal e pediu para eu buscar uma maneira de fazer um ultra-som Doppler para saber exatamente o que passava comigo. O doutor Wilian, médico vascular aqui da minha cidade (Guaratinguetá), muito prontamente, à noite, totalmente fora de hora, fez o exame e encontrou a trombose.

AE – A trombose muitas vezes está associada à falta de atividades físicas, ou ficar muito tempo no avião, por exemplo. Mas esse não era o seu caso. Você já sabe o que pode ter causado a trombose?

Dara – Ainda não se pode dizer exatamente o que causou tudo, mas o anticoncepcional pode ser uma das causas. Não posso te afirmar, até porque os médicos também ainda não me falaram exatamente. Estou com exames sendo feitos para buscar a origem disso.

AE – Imagino que você deve ter se assustado com o diagnóstico. O que passou pela sua cabeça? Pensou no Pan ou na sua saúde?

Dara – Foi um susto sim, mas o primeiro que veio na minha cabeça quando ele falou o repouso de três meses foi o Pan. Só pensei na seleção, nos objetivos que tinha como atleta. Não tinha como não pensar, porque acho que todo atleta se prepara para a competição, para o momento de competir. Perder o direito a lutar por isso é muito duro. Passado alguns segundos e com a explicação do médico, tive noção dos riscos de saúde que eu estava correndo. Não sabia que era tão grave. Não sabia que corria risco de vida. Eu nunca tive nada de lesão. Nada de nada. Nunca parei. Minha vida até nas férias é esporte. E enfrentar uma doença que me pede pausa como tratamento é algo extremamente chocante para mim.

AE – Quanto tempo você precisa ficar de repouso? Como ele funciona?

Dara – É ficar deitada com as pernas para cima, sem sair de casa. Meu toque de recolher é a dor. Se levanto para alguma coisa e sinto dor, tenho que voltar imediatamente para a cama. E tenho que fazer com muita disciplina. Sair de casa, até agora, só sai pra fazer exames. O médico só me exigiu repouso mesmo, porque caso eu não obedeça seria um caso de internação. Essas próximas três semanas eu estou sendo examinada duas vezes na semana, somente com a melhora do quadro agudo o anticoagulante fazendo seu trabalho vou poder voltar a ter vida “normal”. Talvez uma caminhada, um trabalho na piscina. Mas isso só mesmo daqui umas três ou quatro semanas se tudo caminhar bem…

AE – Você falou de risco de vida. Como você encarou isso?

Dara – Um embolia pulmonar poderia ter sequelas que mais que impedir minha vida de atleta me impediriam de ter uma vida normal mais para frente. Uma embolia pulmonar dentro de um avião, por exemplo, difícil até de pensar. No meio do oceano poderia ser fatal…. Vendo a gravidade do caso, graças a Deus descobri tudo aqui, em casa, com minha mãe, meu marido, minha família, amigos. Posso dizer que – se é que se pode tirar algo bom de algo ruim – foi ter diagnosticado isso dessa maneira. Tenho muita fé em Deus e acho que Ele não erra é algo melhor virá. Tenho essa certeza.

AE – Você teve medo de morrer?

Dara – Medo de morrer, não. Tive medo de não poder voltar a jogar, de que fosse o fim de tudo. Quando penso que poderia ter sido encontrado num outro momento, com outros sintomas, sim. Penso que poderia ter morrido, principalmente pelo fator avião. É um meio de transporte que uso muito. Já cheguei a pegar cinco aviões em dois dias, já viajei dentro da Europa durante um dia e peguei avião para o Brasil no dia seguinte, horas e horas de voos…. Mas da maneira como foi, até o médico mesmo falou de imediato que naquele momento eu já não sofria esse risco.

AE – Como você contou para as meninas da seleção?

Dara – Aconteceu na quarta-feira e contei pra elas no sábado à noite pelo nosso grupo do whatsapp. Inverti a história falando que estava bem, mas que não ia para o Pan por um motivo de saúde, que estava controlado …. E logo depois falei o diagnóstico médico.

AE – Por que você preferiu esperar esses três dias?

Dara – Porque não estava bem, não me sentia confortável ainda para falar.

AE – Precisava absorver a notícia?

Dara – Sim, digerir, até porque não queria passar para elas meu desespero. Na minha cabeça queria estar forte para passar tranquilidade.

AE – Pensou como capitã?

Dara – Pensei sim e meu veio muito na cabeça uma frase do livro A Arte da Guerra: “Às vezes os grandes guerreiros têm que recuar numa batalha para acumular energia e força para vencer a guerra”. Com isso, tive que recuar. Mas o grupo é forte e vai enfrentar essa batalha sem mim e eu volto para as duas guerras que temos em dezembro (o Mundial) e no Rio ano que vem (a Olimpíada).

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