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Caio Bonfim vê mais praticantes e menos preconceito na marcha atlética

Caio Bonfim acredita que marcha atlética cresceu após medalha histórica. Foto: Reprodução / Caio Casemiro

Há um ano, os pés de Caio Bonfim tocavam o asfalto das ruas de Paris, mas era no Brasil que sua marcha começava a traçar novos caminhos.

Ao conquistar uma inédita medalha olímpica para o país na modalidade, a prata na marcha atlética de 20 km, o brasiliense dava início a uma nova fase para o esporte, antes alvo constante de preconceito.

“Eu mesmo não uso nem a palavra preconceito. Eu uso desrespeito, porque as piadas com a minha mãe eram de outro cunho e comigo eram diferentes. Era o desrespeito com a profissão do outro”, disse o atleta à Folha de S.Paulo.

Na vida de Caio, a profissão é uma paixão de família. João Sena, seu pai, treinava Gianetti Bonfim, mãe do medalhista e oito vezes campeã brasileira da marcha atlética. Quando resolveu seguir pelos mesmos passos, ele já “esperava ser xingado”, mas não imaginava que seria o responsável por mudar o olhar de parte das pessoas sobre a modalidade.

“Quando vou treinar no Ibirapuera, em São Paulo, por exemplo, as pessoas correm para falar comigo e tirar fotos, perguntam de Paris e desejam boa sorte. Aí você vê que é tudo fruto da medalha”, contou. “Isso em espaço público lotado, no centro de uma grande cidade do Brasil, com a galera sabendo o que é a marcha.”

Sua presença também levou corredores ao Sesc Interlagos, no último fim de semana, onde o atleta teve um bate-papo para compartilhar experiências e dar dicas sobre como a marcha pode ajudar em corridas.

“A corrida de rua é um dos esportes mais praticados no mundo hoje e, em muitos aspectos, é próxima da marcha. Então, a gente conversou sobre volume de treinos, quilometragem, escolha de tênis, hidratação e nutrição”, contou. “As pessoas têm a impressão de que a marcha é lenta, mas, quando a gente apresenta a técnica, eles conseguem ver que não é. É muito legal.”

Em Paris, o atleta conquistou sua medalha de prata ao completar o percurso de 20 km em 1h19min09, com uma diferença de 14 segundos para o equatoriano Brian Daniel Pintado, que levou o ouro.

Nos Jogos Olímpicos Rio de Janeiro, em 2016, ele ficou a cinco segundos de conquistar o bronze. Assim como não ficou remoendo seu resultado no Brasil, ele também não quer se contentar com a conquista na França. Sua meta agora é fazer um bom ciclo para buscar mais uma medalha nos Jogos de Los Angeles, em 2028.

“Eu joguei futebol dos 6 aos 16 anos. No futebol, dentro de campo, tem uma máxima de que eu sempre gostei muito. Quando meu time fazia 1 a 0 cedo, a gente olhava para o outro e falava: ‘Está 0 a 0, hein?’. É um jeito para não baixar a guarda. Então, depois de Paris, eu falei para mim mesmo: ‘Cara, está 0 a 0’.”

Depois dos Jogos na capital francesa, Caio Bonfim continuou registrando marcas expressivas.

No final do mês passado, venceu a prova de 20 km no Troféu Brasil, realizado em São Paulo. Com seu tempo de 1h18min37, tornou-se o primeiro atleta da América do Sul a completar o percurso abaixo de 1h19, quebrando, assim, os recordes brasileiro e sul-americano da modalidade.

“Esse Troféu Brasil refletiu um pouco dessa mentalidade que eu falei, do 0 a 0. É um resultado muito expressivo, é uma motivação também”, disse o marchador.

Seu próximo desafio será em setembro, na disputa do Mundial, em Tóquio, no Japão. O brasiliense está qualificado para a disputa dos 20 km e dos 35 km da marcha atlética.

Aos 34 anos, o atleta tem duas medalhas em Mundiais, ambas de bronze, em Londres-2017 e Budapeste-2023.

“Eu estou confiante [para o Mundial de Tóquio], mas acho que nenhum atleta sai de casa dizendo que vai ganhar mais uma medalhinha, tirando o Michael Phelps [ex-nadador americano, recordista de medalhas olímpicas, com 28]”, brincou Caio Bonfim.

Depois do Mundial no Japão, o medalhista olímpico vai se preparar para o Campeonato Mundial de 2026, que pela primeira vez será na América do Sul, em Brasília. “Vou competir na minha terra”, festejou.

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