Briga por recurso oficial abre polêmica

São Paulo – Os grandes clubes de futebol já tiveram tradição em esportes olímpicos no passado: as duas estrelas de Adhemar Ferreira da Silva, que morreu em 2001, são uma referência ao bicampeonato olímpico no salto triplo, em 1952 a 1956. Os clubes também podem ter potencial formador para o futuro. Mas o que existe atualmente são clubes de futebol afundados em dívidas, inclusive para o governo (INSS e FGTS, por exemplo), com um trabalho de formação de atletas de modalidades olímpicas apenas incipiente e, mesmo assim, restrito a alguns poucos esportes, como natação e ginástica.

A discussão veio à tona com o movimento que começou a ser feito pelos dirigentes do futebol para que a captação de recursos da Lei Piva, 2% dos prêmios das loterias (o equivalente a R$ 55 milhões em 2003), sejam destinados aos grandes clubes.

O argumento que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, usou para justificar seu apoio ao até então desafeto Márcio Braga, presidente do Flamengo, de que os grandes clubes são a base para a formação de atletas, não se sustenta. A não ser que o dirigente máximo do futebol esteja falando de clubes como o Pinheiros, de São Paulo, o Minas Tênis, de Belo Horizonte, ou o Grêmio Náutico União, de Porto Alegre. Nenhum deles está na lista dos grandes e endividados clubes de futebol que, segundo o dirigente, são a base para a formação de atletas.

Vários esportes, como vela, vôlei de praia, triatlo, hipismo, esgrima, beisebol, etc., nunca tiveram ligação com clubes de futebol. E quando se analisa os campeonatos estaduais de categorias menores, de vôlei e basquete, por exemplo, fica clara a fragilidade dos clubes de futebol na área. A formação do campeão olímpico Robert Scheidt passou pelo Yatch Club de Santo Amaro, a do cavaleiro Álvaro Afonso de Miranda Neto, pelo Clube Hípico de Santo Amaro.

“Nos campeonatos metropolitanos de São Paulo, nas categorias de pré-mini a infantil, até 15 anos, tem a participação do São Paulo, Palmeiras e Corinthians. Mas nas categorias infanto-juvenil, cadete e juvenil do estadual ainda não há time de futebol inscrito. A base, em São Paulo, tem sido trabalhada por Pinheiros, Paulistano, Espéria, Sírio, Hebraica e Círculo Militar, principalmente, além das equipes do interior, como Uniara, de Araraquara, e COC, de Ribeirão Preto”, afirma o presidente da Federação Paulista de Basquete, Toni Check Mati.

O Troféu Eficiência, da Federação Paulista de Vôlei, que premia o conjunto das categorias do esporte que mais prêmios obtém, foi para o Centro Recreativo e Esportivo Vila São José, em São Caetano do Sul, no masculino, cidade que foi a segunda colocada no feminino, com o trabalho feito pelo São Caetano EC e o mais eficiente foi o BCN, agora Finasa, de Osasco.

O Pinheiros, onde Gustavo Borges começou a treinar aos 11 anos, tem hoje 1.600 atletas federados em 14 modalidades olímpicas, sete de seus atletas entre os pré-convocados para os Jogos de Atenas, em agosto, e investe R$ 10 milhões dos R$ 50 milhões que arrecada anualmente nos esportes olímpicos. Tem 320 atletas de elite que são “o espelho” para as categorias menores.

Os clubes de futebol, que nunca se preocuparam com o que essas entidades sociais estavam fazendo, estão tentando ganhar força aproximando-se. Márcio Braga, do Flamengo, esteve no Pinheiros na quinta-feira para uma reunião com o presidente Antônio Alcântara Machado Rudge.

“Os clubes de futebol são influentes, atraem a mídia, já foram até falar com o presidente Lula. Nós temos pouco poder. Há muito tempo os clubes sociais estão descontentes com a distância estabelecida pelo COB em relação aos nosso projetos”, disse Rudge, revelando que logo após o pan-americano, o Pinheiros, o Minas Tênis, time formador no vôlei e na natação, principalmente, e o Grêmio Náutico União, que revelou a ginasta Daiane dos Santos, já haviam se manifestado ao Comitê Olímpico Brasileiro e ao ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, por escrito, solicitando atenção aos clubes formadores, “que fazem esgrima, levantamento do peso, tênis de mesa, esportes que estão no programa olímpico e que ninguém mais faz”.

Se encontrou na proposta dos clubes de futebol que querem modificar a Lei Piva uma forma de ter a reivindicação de seu clube ouvida, Rudge acha que esse dinheiro não pode servir para pagar dívidas de clubes, nem ser usado pelo futebol.

“Tem de ser um dinheiro carimbado, atrelado a projetos de desenvolvimento de talentos esportivos, a vinda de técnicos estrangeiros, com execução aprovada e acompanhada.”

Segundo o diretor de Marketing do Pinheiros, Carlos Osso, Márcio Braga disse que o Flamengo deve US$ 80 milhões e não tem nem talão de cheques. “Não concordamos que o dinheiro da Lei Piva vá para o futebol, mas o barco está passando…”

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