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Brasileira do basquete que vendeu prata olímpica pelo filho pede ajuda ao governo

Em 2016, a ex-jogadora de basquete Claudia Pastor iniciou uma campanha nas redes sociais para conseguir recursos para o tratamento de seu filho, Maurílio. O problema eram crises diárias em que quase perdia a consciência e não sabia onde estava. Ela decidiu leiloar a medalha de prata que havia conquista nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, ao lado de Paula e Hortência.

Arrecadou R$ 35 mil, contou com a ajuda de amigos – esportistas e anônimos – e conseguiu os cerca de R$ 100 mil que precisava para a cirurgia na França. Aos 16 anos, o menino está praticamente curado. Claudia se tornou aluna de Direito e quer desenvolver um projeto de assistência jurídica para famílias que precisam de tratamento médico no exterior.

Resumidamente, essa é a trajetória recente dessa ex-pivô de 47 anos, sorridente e que disfarça a altura de 1,90m sempre com sapatos rasteiros. Mas alguns detalhes da história merecem mais atenção. O primeiro é a doença de Maurílio.

Durante anos, o garoto passou por médicos, psicólogos, neurologistas e psiquiatras. Nenhum dele soube dizer a origem das crises. A resposta veio da Unicamp. O nome correto da doença é Hamartona Hipotalâmico. É um tumor benigno no hipotálamo, uma das mais importantes estruturas do sistema nervoso central e responsável pelo controle das emoções e comportamento. Desde pequeno, o menino sentia um mal-estar, rigidez muscular e confusão no raciocínio. Isso acontecia umas três vezes por dia. “Não sentia nenhuma dor, mas perdia minha consciência e perguntava: ‘mãe, onde estou?’”, diz o adolescente.

Artur Malzyner, oncologista e consultor científico da Clínica de Oncologia Médica (Clinonco), explica que a doença é rara e pode ser tratada clinicamente. “A cirurgia é delicada, pois envolve uma área de difícil acesso no cérebro”, explica o especialista. “Depois da cirurgia, eu me sinto uma pessoa normal. Antes, não andava sozinho e tinha medo de acontecer alguma coisa”, diz Maurílio.

A MEDALHA QUE SE FOI – Cláudia Pastor não tinha recursos financeiros para a cirurgia, que deveria ser realizada na França. Em 2016, o país era um dos poucos que oferecia a cirurgia robótica, ideal para corrigir o tumor em um local delicado como o hipotálamo.

Para custear a viagem, ela fez um leilão da medalha de prata que havia conquistado na Olimpíada de 1996. “A medalha foi arrematada por R$ 35 mil. Mas o valor agregado por ela foi muito maior que esse, pois as pessoas se envolveram e se sensibilizaram”, conta.

Claudia conseguiu R$ 100 mil necessários para a cirurgia. “Não sinto falta da medalha. Eu fiz o que tinha de fazer. Não me arrependo Faria novamente”, conta a ex-atleta.

RETRIBUIÇÃO – Após a cura do filho, Claudia voltou a estudar. Hoje, ela está no terceiro ano de Direito do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), no câmpus Americana. Um de seus projetos pretende retribuir, de certa forma, o apoio que teve para a cirurgia de Maurílio.

Com a ajuda da universidade, ela vai desenvolver um projeto para que tratamentos médicos no exterior, como esse que ela vivenciou com o filho, possam ser garantidos e custeados pelo Estado. Hoje, as ações que pedem reembolso ou ajuda do poder público não conseguem êxito. “Essa é uma área nova no Brasil. Devemos começar o projeto no ano que vem”, planeja o professor Flávio Rossi, coordenador da Pós-graduação MBA Gestão em Americana.

“Tive a oportunidade de ter uma medalha olímpica e poder realizar a cirurgia do meu filho. Muitas famílias não têm essa oportunidade”, diz Claudia.

AUGE FOI EM ATLANTA-1996 – A ex-pivô Claudia Maria Pastor teve uma carreira curta, mas marcante. Ela começou a jogar basquete em 1987, aos 16 anos, idade tardia para quem quer se tornar profissional. Mas ela conseguiu. Atuou no basquetebol paulista, principalmente em Campinas. O auge de sua carreira foi na Olimpíada de 1996.

A seleção chegou à Atlanta como campeã mundial, título conquistado dois anos antes na Austrália. A equipe contava com “Magic” Paula, Hortência, Janeth, Leila e Alessandra. Completavam a equipe Adriana, Cíntia Tuiú, Claudia, Branca, Marta, Roseli e Silvinha.

Na época, a equipe de Miguel Ângelo da Luz chegou à disputa da medalha de ouro invicta, após vitórias sobre Canadá, Rússia, Japão, China, Itália, Cuba e Ucrânia. Na decisão contra as norte-americanas, as brasileiras não resistiram ao maior poderio do adversário. O placar foi 111 a 87 (69 a 54 no primeiro tempo).

“Um dos maiores objetivos de qualquer atleta é jogar em uma Olimpíada. Participar do evento e trazer de lá um símbolo de vitória não têm preço. É gratificante”, diz Claudia, que encerrou a carreira precocemente, aos 26 anos, em função de uma grave lesão no joelho esquerdo.

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