Brasil x EUA: final antecipada

Brasil e Estados Unidos disputarão quarta-feira uma das semifinais da Copa Ouro, mas para o técnico Ricardo Gomes o jogo poderia decidir o título. “Pela qualidade dos times, acho que será como se fosse a final do torneio.”

Como prefere pegar adversários difíceis para ver como reagem os meninos, o rival que terá pela frente no Orange Bowl não poderia ser melhor.

“O time dos Estados Unidos tem uma disciplina tática impressionante, é muito mais experiente que o nosso e está junto desde a Copa das Confederações. E tem até uma certa qualidade técnica. É claro que seus jogadores não são como os brasileiros, mas sabem tratar a bola.” Os norte-americanos ganharam seu três jogos, fizeram nove gols e não levaram nenhum.

Ricardo Gomes deixou o estádio na abafada noite de sábado com a certeza de que encontrou o time para o restante da competição. A entrada de Nilmar no lugar de Ewerthon não apenas deu uma referência à equipe no centro do ataque como permitiu que Kaká pudesse jogar como gosta, arrancando com a bola dominada para tentar a jogada individual ou a tabela.

“O Kaká é outro jogador quando parte de trás e mostrou isso contra a Colômbia. Precisei adaptá-lo mais à frente nos outros jogos para tentar encontrar uma solução para o ataque, mas o Nilmar mostrou que pode ser essa solução. Estamos no caminho certo, mas precisamos repetir atuações como a de sábado para o time se firmar.”

O treinador reservou um elogio especial a Robinho, apesar de o atacante santista ter finalizado muito mal. “Tudo bem que ele perdeu gols, mas o que ele roubou de bolas e o que voltou para ajudar não foi brincadeira. Isso é para quem acha que o Robinho é individualista e não participa coletivamente dos jogos.”

O crescimento da equipe no aspecto físico também foi ressaltado por Ricardo Gomes. Jogando ao nível do mar, depois de ter sofrido na altitude de 2300 metros da Cidade do México, o time conseguiu se soltar e manter um bom ritmo durante os 90 minutos. “Quando o físico melhora, tudo fica mais fácil para o jogador. E quando isso acontece, o talento do jogador brasileiro sobressai. Foi o que aconteceu contra a Colômbia.

Fizemos nossa melhor partida no torneio, com boa organização, marcação forte e velocidade. Poderíamos até ter conseguido um placar mais folgado.” Pela primeira vez desde que deixaram o Brasil, dia 7, os jogadores tiveram um dia de folga. A maioria aproveitou a chance para ir a um shopping de produtos eletrônicos. Nesta segunda o treino será na Barry University.

Êxodo de jogadores já ameaça a seleção sub-23

AE

Ricardo Gomes está preocupado com as notícias que tem ouvido, de que vários jogadores da seleção sub-23 poderão se transferir para clubes estrangeiros agora, a seis meses do Pré-Olímpico do Chile. Ele teme que se torne difícil reunir o grupo com a antecedência que precisa para montar o time que lutará pelas duas vagas para a Olimpíada de Atenas.

“Se forem muitos garotos para a Europa, duvido que os clubes de lá vão deixar que se apresentem para o início da preparação. Sem falar que não vou poder contar com eles nos amistosos que espero que a CBF marque até dezembro. Quando vou poder juntar este time de novo?”

Os jogadores que podem sair são Júlio Baptista, Kaká e Adriano além do atacante Nadson, negociado com um clube sul-coreano quando a seleção estava se preparando para a estréia contra o México. Outros três garotos que estão nos planos de Ricardo Gomes já estão na Europa: Thiago Motta (Barcelona), Ewerthon (Borussia Dortmund) e Adriano (atacante do Parma).

O que está mais perto de ir embora é Júlio Baptista. Ele disse que recebeu um telefonema de Marcel Figer – filho de Juan Figer, seu procurador – dando conta de que a negociação com o Sevilla está muito bem encaminhada. O presidente do clube espanhol, José Maria del Nido, declarou que a chance de fechar o negócio hoje “é de 90%”. Júlio Baptista assinaria contrato por cinco temporadas e seguiria para a Espanha assim que acabasse a Copa Ouro.

Kaká interessa ao Milan. Seu procurador, Wagner Ribeiro conversou pessoalmente com dirigentes do clube italiano na semana passada. Ao ler uma edição da Gazzetta dello Sport que tinha uma longa matéria sobre o assunto, Ricardo Gomes comentou. “Se o Milan souber que o Kaká também tem jogado no ataque aqui na Seleção, aí é que vai querer fechar o negócio correndo.”

A possibilidade de o lateral-esquerdo Adriano, do Coritiba, ir para a Europa surgiu no sábado, quando dois enviados do Basel -time suíço que disputará a Copa dos Campeões na próxima temporada – chegaram a Miami para observá-lo de perto. E gostaram do que viram contra a Colômbia.

Nadson está vivendo seus últimos dias na seleção. Ricardo Gomes deixou claro que não o convocará mais porque não terá como vê-lo jogando na Coréia do Sul. “Não vou ter condição de ir até lá para vê-lo fazer uma partida. E também não terei como ver jogos dele pela tevê. É triste, mas o Nadson vai sumir do mapa. Depois que chegou a notícia, ele caiu muito nos treinos. Acho que ele não queria ir, mas enquanto os clubes brasileiros não se recuperarem financeiramente vai ser difícil evitar que os jogadores saiam.”

Gols contra Colômbia devolvem confiança a Kaká

O Kaká que deixou o Orange Bowl no sábado à noite não tinha nada daquele que saiu cabisbaixo depois do jogo de terça-feira contra Honduras e foi o primeiro a entrar no ônibus, chateado por ter perdido um pênalti e depois um gol feito. Após os dois golaços que fez contra a Colômbia, ele atravessou o corredor que levava ao ônibus dando risada, posou para muitas fotos e sorriu orgulhoso quando um repórter colombiano lhe perguntou se o Brasil tinha aprontado um “Kakarnaval” para cima da equipe dirigida por Francisco Maturana.

“Desta vez deu tudo certo. O que tinha acontecido de ruim no outro jogo foi embora e por isso estou muito feliz. Ainda mais fazendo um gol como o segundo.” O meia são-paulino tinha algumas explicações para o seu rendimento ter melhorado tanto: o time estava mais organizado, teve mais perna para correr por ter jogado ao nível do mar… Mas o motivo principal foi que pôde atuar os 90 minutos na posição que mais gosta.

“Joguei como prefiro, encostando nos atacantes. Jogar na frente é um sacrifício para mim, porque não gosto de ficar de costas para os zagueiros.”

O técnico Ricardo Gomes só tem elogios para o seu capitão. Defensor entusiasmado dos meninos que convocou, ele espera que a torcida do São Paulo pare de pegar no pé do meia. “Qualquer time do mundo adoraria contar com o Kaká. Além de ser um baita jogador, ele é um lutador dentro de campo, não tem medo de pancada e tem um comportamento impecável fora de campo. O que mais uma torcida pode querer de um jogador?

Fazer campanha contra o Kaká é jogar contra o patrimônio.” Kaká só não quer saber é de falar sobre a possibilidade de se transferir para o Milan. Desde que o Jornal da Tarde revelou que seu procurador, Wagner Ribeiro, se reuniu no meio da semana passada em Milão com a cúpula do clube italiano – o vice-presidente Adriano Galliani, o diretor-geral Ariedo Braida e o agora dirigente Leonardo – ele tem se esquivado do assunto. Depois da partida de sábado, foi bem claro.

“Quando falo por telefone com o meu pai, nem toco nesse assunto. Ele me diz para me concentrar só no meu trabalho aqui na seleção e é isso o que estou fazendo. Não sei de nada a respeito disso e por isso não vou fazer nenhum comentário.”

Nilmar agrada e vira titular

AE

Bastou um jogo como titular para o arisco Nilmar ganhar a posição no ataque da seleção sub-23. O menino do Inter sabe que fez tudo o que o técnico Ricardo Gomes lhe pediu e por isso dormiu feliz de sábado para ontem. “Corri muito e me esforcei ao máximo porque sabia que era o jogo para não sair mais do time. Fiquei na frente como o professor me pediu e com isso o Kaká pôde vir de trás e fazer os gols. Acho que fui bem”, disse.

Se tivesse ouvido o que Ricardo Gomes disse a seu respeito num bate-papo no saguão do hotel, já na madrugada de ontem, Nilmar teria ido dormir ainda mais feliz. “Ele é esperto demais, muito rápido. Quem acha que o Nilmar é franzino está enganado. É muito difícil ele cair. E quando você acha que ele não vai chegar na bola, ele chega.”

A admiração do treinador por seu futebol começou no jogo em que o Inter derrotou o Vitória no Barradão por 4 a 1 no campeonato brasileiro, com dois gols do menino. “Se não me engano, o Inter estava perdendo quando o Muricy o colocou em campo. E o Nilmar mudou completamente o jogo. Dali para a frente comecei a segui-lo e sempre que o via jogar ele ia bem”.

No jogo contra a Colômbia, além de elogiar a movimentação do atacante, Ricardo Gomes ficou impressionado com a naturalidade com que ele encarou sua estréia como titular. “Essa molecada é fogo mesmo. Parecia que o Nilmar estava cansado de jogar com a camisa da Seleção. Não pesou nada para ele.”

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