Brasil perde no dia do adeus de Janeth

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Janeth  se despede da seleção

São Paulo (AE) – A seleção brasileira teve de se conformar com a quarta posição entre as maiores forças do mundo, ontem, na rodada de encerramento do Mundial Feminino de Basquete, em São Paulo.

Na decisão da medalha de bronze, os Estados Unidos venceram o Brasil por 99×59 (49×34), um prêmio de consolação – as norte-americanas não perdiam o ouro em olimpíadas e mundiais desde 1996.

O jogo eficiente das americanas calou o público no Ginásio do Ibirapuera – colocaram uma vantagem de 40 pontos sobre o Brasil. A americana, filha de argentina, Diana Taurasi fez 28 pontos, no que chamou de ?melhor jogo da vida? – vai comemorar o bronze numa viagem para as Bahamas com os pais.

Além de não ganhar uma medalha em casa, no jogo de despedida de jogadoras campeãs mundiais como Janeth e Alessandra, o Brasil terá de brigar com os Estados Unidos por uma vaga nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, no pré-olímpico de 2007. O técnico Antônio Carlos Barbosa disse que o Brasil ainda terá a chance de assegurar sua presença em Pequim, no Pré-Olímpico Mundial, em junho de 2008, com as últimas cinco vagas em disputa.

Todas as jogadoras brasileiras passaram a caminho do vestiário chorando. ?Era um grupo muito unido?, lamentou a armadora Adrianinha. ?Elas (as norte-americanas) fizeram um jogo perfeito?, resumiu Janeth. Em nove anos no comando da seleção, Barbosa não se lembra de um placar tão elástico. ?Não me recordo de ter perdido um jogo por mais de 15 pontos. Mas nos sentimos impotentes perante a avalanche de cestas das americanas. Saímos com uma marcação por zona, como fez a Rússia (nas semifinais), mas não conseguimos tirar a intensidade delas. Foi o fator que levou ao placar.?

O Brasil sentiu falta da pivô Alessandra em quadra – com dor no ombro esquerdo (tendinite no bíceps, sofrida na semifinal). ?Foi triste assistir do banco?, comentou Alessandra, que vai descansar até para cuidar do ombro, e depois vai jogar no exterior. ?Já falei para a Érika, bola para frente, não espere por mim. A seleção brasileira foi tudo na minha vida, mas agora tem o lado pessoal. As meninas brincam que o basquete era o meu marido.?

O Brasil foi muito mal nos rebotes, com Érika, Kelly, Êga e Cíntia – pegou 23 contra 37 dos EUA. ?Falta de experiência pesa para a Érika?, disse Barbosa, confirmando que Alessandra fez falta.

Apesar das lágrimas, as meninas não esqueceram de valorizar o quarto lugar e o público. ?Ninguém gosta de perder do jeito que perdemos, mas é muito mais que isso. Queríamos terminar com uma medalha. Fico triste porque é meu último mundial, mas não tem medalha que supere esse público. O Brasil inteiro torceu com a gente, quando precisamos a torcida apoiou. Quero dizer muito obrigado?, disse a armadora Helen. O técnico Barbosa acha que o público reconheceu o quarto lugar e que os gritos esparsos de ?burro? vêm da cultura do futebol. ?Se pagou, tem o direito, mas quem entrou de graça não?, ironizou, referindo-se às críticas da imprensa.

Barbosa, de 61 anos, reclamou das críticas que recebeu no mundial, pareceu nervoso e desgastado. Há nove anos no comando da seleção, disse que cabe à Confederação Brasileira de Basquete (CBB) fazer uma análise. ?Não entro em festa pela porta dos fundos, nem como penetra. Só vou como convidado vip?.

Com grande força física, as americanas foram eficientes em tudo, nos arremessos de dois, de três pontos e nos lances livres, na defesa e nos rebotes. ?Contra o Brasil, recuperamos o orgulho perdido na derrota para a Rússia. Foi um impacto muito grande ficar fora da final, após 12 anos de hegemonia no basquete mundial?, afirmou a técnica Anne Donovan.

Derrota também marca o fim de uma geração vencedora

São Paulo (AE) – Hortência jogou 20 anos na seleção brasileira de basquete. Paula, 22 anos. Hortência deixou o grupo em 1996. Paula, em 98. Formaram a geração de ouro, campeã mundial na Austrália, em 94. Do mesmo grupo campeão, a armadora Helen, 33 anos, a ala Janeth, 37, e as pivôs Alessandra, 33, e Cíntia Tuiú, 31, disputaram o mundial de São Paulo. Também jogaram em São Paulo a ala Iziane e a pivô Érika, de 24 anos, que, ao lado de jogadoras um pouco mais velhas, como a armadora Adrianinha, a ala Micaela e a pivô Kelly, de 27 anos, ainda vão disputar os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008 – a seleção ainda terá de se classificar – e o mundial de 2010. E depois?

?Érika, Êga, Micaela, Iziane e Adrianinha ainda dão um time para cinco ou seis anos, considerando também as atletas mais velhas. Vamos realmente começar a ter problemas sérios de reposição de peças no mundial de 2010?, avalia o técnico Antônio Carlos Barbosa.

?Da geração das nascidas em 84 tem aí a Palmira e a Karen, que ficaram na seleção, mais ninguém. Da geração de 85 não tem ninguém. Na de 86 há atletas de alto nível, como as alas Isabela e Jaqueline (disputou a Copa América em 2005 e ficou fora da seleção porque foi para a equipe sub-20). E ainda a ala Joyce e a pivô Fran, que são da geração de 89.?

Mas a nova geração não tem uma Paula ou uma Adrianinha. O técnico informa que está tentando transformar as alas Palmira e Jaqueline em armadoras. ?Temos problemas na armação. Se formos ver bem, temos problemas em todas as posições, não temos jogadoras.?

Iziane, representante da nova geração, quer ser modelo para as crianças brasileiras. Maranhense, a ala começou a jogar por indicação de um professor. ?Tomara que várias crianças passem a gostar de basquete por causa desse mundial.? (HF)

?Tenho respaldo e respeito pelo Brasil ?

São Paulo (AE) – ?Não vai ser esse jogo que vai apagar tudo o que eu fiz pela seleção.? Assim, a ala Janeth, de 37 anos anunciou sua despedida da seleção brasileira em mundiais após 20 anos. Foram cinco edições da competição, quatro olimpíadas e oito temporadas na WNBA. É na liga profissional norte-americana feminina que ela pretende encerrar sua carreira daqui a um ou dois anos.

É também por causa da WNBA que sua chance de defender a seleção nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro/2007 é remotíssima. ?O Pan depende da negociação com a WNBA, que termina em setembro. Se a equipe (ainda não definida) irá me liberar. Já abri mão da WNBA para jogar uma olimpíada (Atenas/2004) e nesse mundial também me dediquei à seleção. Tenho respaldo e respeito pelo Brasil?, disse a ala.

Além da seleção, Janeth afirma que há ?outras coisas?, como seu projeto social, que a emocionam mais: seu Centro de Formação funciona há quatro anos nas instalações do Sesi e atende crianças de 7 a 15 anos. (GC e HF)

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