Brasil dá mole e só empata com o Peru

Um empate com gosto amargo para a seleção brasileira, na terceira rodada das eliminatórias sul-americanas para a Copa da Alemanha. Jogando um futebol econômico e pouco inspirado, o Brasil conseguiu apenas segurar um empate por 1 a 1 contra o Peru, ontem, no Estádio Monumental de Lima. Pior do que isso foi perder os 100% de aproveitamento e deixar o primeiro lugar da competição para os argentinos. Hoje, a seleção desembarca em Curitiba, onde enfrenta o Uruguai, quarta-feira, no Pinheirão.

A pressão era grande e o Estádio Monumental lotado jogou junto com a seleção peruana. Cada toque na bola dos jogadores locais era um delírio, mas foi o Brasil que se insinuou primeiro. O atacante Rivaldo passou uma bola com açúcar para Kaká, que entrou livre na área e chutou para fora. Era o cartão de vista brasileiro. Os peruanos se assustaram nos primeiros segundos e levaram tempo para se achar em campo.

Mesmo assim, a seleção de Parreira preferiu a cautela e evitou a correria dos peruanos. A seleção da casa ganhou espaço e foi para cima. Os avantes Pizarro e Mendoza começaram a deixar o intranqüilo goleiro Dida preocupado. No entanto, quem tem craques do nível de Kaká e Rivaldo acaba levando vantagem. A dupla do Milan fez um carnaval na defesa adversária com Rivaldo sofrendo pênalti. Relegado no clube italiano, ele cobrou com perfeição e deixou o Brasil na frente.

A seleção da casa foi para cima, aproveitando as brechas dadas pela zaga brasileira e pelo goleiro Dida, que insistia em sair do gol em falso. Sem competência, os peruanos não conseguiram transformar as poucas chances em gol. Para sorte do time de Parreira, o árbitro Óscar Ruiz não marcou um pênalti para o time da casa no final do primeiro tempo.

Na segunda etapa, como era de se esperar da equipe de Paulo Autuori, a pressão voltou a rondar a área de Dida. Nem os chutes isolados de Rivaldo melhoraram a situação brasileira, que continuava sofrendo com a atuação da defesa e do arqueiro brasileiro. Querendo vencer, o técnico brasileiro dos peruanos trocou o ala-esquerdo e acertou. Com Salas, as jogadas pelo lado de Cafu cresceram e o empatou aconteceu. O meia Solano, apesar de baixinho, subiu mais que a zaga e cabeceou para deixar tudo igual, com a colaboração de Dida.

Com o empate, Parreira tentou mudar o panorama do jogo, mas sem mudar o esquema tático. As entradas de Renato, Alex e Luís Fabiano acabaram não surtindo o efeito desejado e o futebol continuou burocrático. Os peruanos tentaram aproveitar os vacilos brasileiros, mas, sem muita competência, não conseguiram aproveitar o nervosismo do Brasil e também ficaram satisfeitos com o empate.

Rivaldo comemora a boa atuação

Lima –

“O Rivaldo fez uma bela partida. Não entendo por que ele não joga lá no Milan.” As palavras são do coordenador-técnico da seleção brasileira, Zagallo, e resumem o espírito da partida do meio-campista brasileiro, uma atuação para Carlo Ancelotti, técnico do Milan, observar com carinho.

Rivaldo, encostado no clube italiano, conseguiu reverter o descrédito na seleção desde a campanha do penta na Copa do Mundo de 2002. Foi dele o gol do Brasil, aos 20 minutos do primeiro tempo. Desde o mundial, quando fez um gol contra a Inglaterra, não marcava para a seleção brasileira.

“Foi uma alegria muito grande. Há muito tempo eu não marcava um gol com a camisa da seleção. No Milan também é difícil porque não venho jogando.”

Rivaldo fez tudo certo. Articulou os principais lances de ataque ao lado de Kaká. Ajudou na marcação e ainda foi o jogador do Brasil que mais chutou a gol. Saiu aos 36 minutos do segundo tempo, na troca por Luís Fabiano, exausto com a falta de ritmo de jogo.

Se Ancelotti tinha alguma dúvida, Rivaldo mostrou que pode muito bem atuar ao lado de Kaká. No lance do pênalti, os dois tiveram participação decisiva. “Meu último jogo foi dia 12 de outubro contra a Jamaica. Pelo o que fiz na partida, o gol que marquei, acho que fui bem. Tive oportunidades para marcar mais gols mas não levei sorte. Fiquei com raiva por aquela bola na trave não ter entrado. Mas o importante é que conseguimos um bom resultado.”

“Estou confiante, tenho a confiança do treinador e sei que ainda posso ajudar a seleção”, disse Rivaldo, mais titular que nunca.

Entrosados

Logo no início do confronto, Rivaldo serviu Kaká, seu companheiro do Milan, que mandou a bola para fora. A dupla do time milanês, ainda sem poder atuar junta por causa de Ancelotti mostrou qualidade na armação das jogadas e deu trabalho no primeiro tempo para a confusa defesa peruana.

Mesmo sem mostrar um futebol convincente, a seleção pôde se valer de jogadas individuais dos dois. Numa delas, Kaká arrancou pelo setor esquerdo, acompanhado de dois adversários; acabou perdendo a bola, mas a recuperou e tocou para Rivaldo, que, com um toque sutil, tirou o zagueiro Galliquio da jogada e foi derrubado. Com categoria, Rivaldo cobrou o pênalti e fez Brasil 1 a 0.

Parreira diz que faltou toque de bola à sua equipe

Lima –

O técnico Carlos Alberto Parreira não titubeou ao fazer o seu diagnóstico do empate da seleção brasileira por 1 a 1 contra o Peru, em Lima. “Faltou segurar a bola”, avaliou o treinador para quem o resultado, que tirou do Brasil a liderança das Eliminatórias da Copa de 2006, teve como causa a dificuldade da equipe em colocar em prática o toque de bola. “Dadas as circunstâncias, o empate foi um resultado normal.”

Parreira mostrou-se satisfeito com o desempenho da defesa nas bolas alçadas. “Mendonza e Pizarro são especialistas no jogo aéreo”, observou o técnico da seleção, que considerou o goleiro Ibañez como o melhor jogador do time comandado por Paulo Autuori. Fora isso, o treinador entendeu que o Brasil teve um número maior de oportunidades de gol em um jogo que foi bastante aberto porque o Peru, como o Brasil, tem vocação ofensiva. “Se há alguma coisa em que nós erramos foi no passe. Falhamos além do normal.”

O volante Gilberto Silva, do Arsenal, foi bem mais crítico quanto ao desempenho da seleção e não escondeu que saiu de campo insatisfeito. “A gente teve dificuldade para segurar a bola”, observou o jogador. Para ele, no entanto, o time não deve se deixar afetar pelo empate em Lima e pensar em um desempenho melhor no próximo jogo, quarta-feira, contra o Uruguai no Estádio Pinheirão, em Curitiba.

No intervalo, o meia Kaká já dava mostras dos problemas que o Brasil estava passando em campo desde o início da partida. “Precisamos ir mais para a frente”, dizia o jogador do Milan, já detectando a dificuldade da seleção brasileira em manter a posse de bola no Estádio Monumental de Lima.

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