Brasil “B” pronto para pegar hoje a Argentina “A”

Lima, Peru (AE) – Não poderia ser mais irônica a final da Copa América do Peru. Carlos Alberto Parreira tem nas mãos o futuro do futebol argentino. Se a sua jovem seleção ganhar hoje, às 17 horas (horário de Brasília), em Lima, a decisão do time principal da Argentina, deverá acontecer uma revolução no país rival.

O próprio presidente da Associação de Futebol Argentino (AFA), Julio Grondona, resumiu a situação. “Estou em uma situação terrível. Se a Argentina ganha da seleção B do Brasil não fez mais do que a sua obrigação. Se perder, eu estou morto. Morto!”, desabafou o dirigente.

O cenário é simples e cruel. Desde o final da Copa do Mundo, Grondona está sendo pressionado para demitir Marcelo Bielsa pelo vexame da desclassificação na primeira fase do mundial. O dirigente deixou claro da necessidade de Bielsa vencer a Copa América para sobreviver no cargo. Campeão de quatro Libertadores da América, Carlos Bianchi deixou o Boca Juniors, e a mídia argentina o quer ver à frente do selecionado.

Se o Brasil vencer hoje, a permanência do atual treinador ficará insustentável. “Eu não tenho nada a ver com isso. Os argentinos que se virem com seus problemas. Vou fazer tudo para vencer a Copa América. Confio no meu time que de ?B? não tem nada. Não há qualquer problema físico, psicológico, disciplinar. Estamos prontinhos”, avisa Parreira. “Apenas acho burrice se demitirem o Bielsa. A Argentina é segunda colocada das eliminatórias e tem um padrão de jogo definido”, analisa o treinador brasileiro.

Parreira está animado para a decisão. Resolveu não alternar em nada o seu esquema tático que deu certo na Copa América. Nem mesmo os conselhos do seu espião Jairo dos Santos que seria recomendável explorar a força de Julio Baptista no meio-de-campo. Pragmático, o treinador opta em manter os mesmos jogadores que fizeram a campanha surpreendente no torneio. “O time cresceu durante a competição. Sem ninguém acreditar fomos ganhando e chegamos à final. Sabemos que estamos no ponto para vencer os argentinos. Não importa se eles têm mais entrosamento. Nós ganhamos conjunto e confiança durante a Copa América. E é difícil travar o nosso talento. Ninguém veio tão longe para ser vice-campeão no Brasil”, diz, provocativo, o atacante Adriano, artilheiro da competição com seis gols.

Parreira qualifica essa final como um importante jogo de xadrez. “Eu e o Bielsa travaremos um duelo tático onde mexer uma peça errada pode custar o título. Conversei muito com a seleção para esse jogo. E para mim, a vitória está em jogar no ataque, para frente, sem medo”, assegura o técnico brasileiro. “Nós não vamos ficar esperando os argentinos. Pelo contrário. A iniciativa será nossa. Eu sei que preciso ajudar os nossos atacantes. Como o nosso sistema de cobertura está trabalhando bem, vou poder descer sem medo. Nós temos de pressionar desde o início do jogo. Fazer o primeiro gol será fundamental nesta decisão”, assegura Gustavo Nery.

Parreira irá soltar os laterais Maicon e Gustavo Nery para que façam jogadas pelas pontas com Luís Fabiano e Adriano. Kléberson e Edu deverão fechar a intermediária para travar Sorin e Zanetti. Eles são o desafogo quando o time argentino é pressionado. “Eu já joguei algumas vezes contra o Zanetti. Sei que ele é peça fundamental aos argentinos. Não podemos dar espaço pelas laterais nos contragolpes. E eles não terão”, jura Edu.

Embora os dois times sejam técnicos, Carlos Alberto Parreira preparou a equipe para uma partida truncada, com direito a muitas faltas. “Vamos aproveitar o nosso potencial em bolas cruzadas na área adversária. Treinamos muito faltas e escanteios. Esse jogo equilibrado pode ser definido em uma cabeçada. E é isso que tentaremos fazer”, avisa Luisão.

A empolgação com a decisão é enorme. “Nós vamos ganhar deles. Nós vamos ganhar”, repete constantemente Zagallo ao encontrar os jogadores nos corredores do hotel Meliá Lima. Cada titular receberá R$ 70 mil se o time vencer a Copa América. “Dinheiro é o que menos importa. Eu quero é ser campeão em cima dos argentinos. Isso não há dinheiro que pague”, resume, provocador, Luís Fabiano. O título da Copa América vale US$ 1 milhão ao país vencedor. A história contabiliza 14 títulos do torneio para a Argentina e apenas seis para o Brasil que por décadas desprezou a competição. “Agora a gente valoriza”, avisa Parreira, brincando. Bielsa que se cuide.

Bielsa vai ter muito cuidado

Lima (AE) – Marcelo Bielsa cansou de repetir que tem usado até seis jogadores em lances de ataque da Argentina, na maior parte das apresentações de sua equipe na Copa América. Esse sistema, assegurava até o meio da semana, não iria mudar nem na final contra o Brasil. O discurso corajoso, no entanto, sofreu ligeira modificação. O treinador que está entre a glória e o risco de perder o emprego agora diz que precisa escolher alternativa para não ficar vulnerável às investidas do poderoso rival.

“Contra os brasileiros daremos nova prova de nossa força”, avisou. “Mas ainda tenho de resolver qual a melhor maneira de nos defendermos”, observou, em demonstração de que não desconsidera o poder de destruição dos campeões do mundo.

Bielsa admite que a preocupação se concentra na capacidade de criação do trio formado por Alex, Luís Fabiano e Adriano.

Por isso, deixou aberta possibilidade de surpreender na escalação para o duelo no Estádio Nacional. A Argentina concentrou seu poder de fogo no apoio dos laterais Zanetti e Sorín, nas investidas do meia D?Alessandro (ou Tevez) e na movimentação dos atacantes Delgado, Figueroa (ou Saviola) e Kily Gonzalez. A segurança na defesa foi entregue a Roberto Ayala, Heinze, Mascherano e Lucho Gonzalez.

A tendência a alterar o projeto que deu certo nas partidas anteriores não agradou aos críticos. Já na sexta-feira, alguns jornais lamentaram o “indício de fraqueza?? de Bielsa e detectaram recuo perigoso. O treinador não se incomoda muito com isso, mas sim com seu futuro.

Parreira chega à final satisfeito com o desempenho

Sílvio Barsetti e Cosme Rímoli

Lima (AE) – Imaginar o técnico da seleção brasileira sorridente, bem humorado, e descontraído na véspera da decisão de um título de Copa América, contra a rival e poderosa Argentina, poderia sugerir auto-suficiência ou mesmo petulância. Nada disso. Carlos Alberto Parreira tem a certeza do dever cumprido na competição. Formou um time em menos de um mês, com jogos difíceis logo a partir do décimo dia de trabalho.

Nesta entrevista exclusiva à Agência Estado, ele diz que “favoritismo?? é algo subjetivo demais no futebol e reforça a idéia de que ninguém vence somente com a força da camisa, da tradição.

Agência Estado – Quem é favorito? Brasil, Argentina ou nenhum dos dois?

Carlos Alberto Parreira

– Esse negócio de favorito está tão em desuso hoje, tão desmoralizado. Não representa, não significa nada. Veja exemplos recentes, como o do Flamengo na Copa do Brasil (perdeu o título em casa, para o Santo André). Por experiência e observação, em cada dez situações em que existe “favoritismo??, o favorito perde em oito.

AE – Mas o senhor disse que a responsabilidade da vitória está com a Argentina.

Parreira

– Se você quiser traduzir responsabilidade por favoritismo, traduza. É claro que a cobrança maior está com o adversário. O jogo é de vida ou morte para eles. Os argentinos têm um time muito forte, que treina e joga junto há alguns anos. E ainda assim fazem mistério sobre a equipe que vai a campo. Eu não tenho nenhum problema, nem de ordem psicológica, ou de escalação, de contusão. Estou tranqüilo.

AE – Para a comissão técnica da seleção brasileira, a Copa América tinha o objetivo de formar a geração 2010. Pelos resultados obtidos no Peru, pode haver um aproveitamento maior desse grupo na Copa do Mundo de 2006?

Parreira

– Sem dúvida isso vai ocorrer. Até porque temos aqui jogadores com bagagem na seleção, como Alex, Luisão, Juan. Na frente, Adriano e Luís Fabiano já estiveram conosco algumas vezes. Há várias peças de reposição. A Copa América serviu bastante também para isso: a gente já sabe quem escalar na ausência de um ou outro. O espaço está ficando curto, para quem é de fora. Se somarmos as opções testadas nos últimos dias com as que já conhecemos, vamos ter mais de dois times.

AE – Já é possível dizer quem passou no “vestibular?? da Copa América?

Parreira

– Não vai ser apenas um resultado que vai determinar isso ou aquilo. Uma coisa é disputar um amistoso. Outra, completamente diferente, é viver o clima pesado de uma Copa América. Quem passou num teste como o do México, como o do Uruguai, não precisa provar mais nada. Ninguém da seleção vai sair perdendo da Copa América. Ninguém perdeu tempo. Mesmo os que não tiveram oportunidade. Amanhã, se a gente perde um ou dois da mesma posição, já sabe que pode contar com esse ou aquele, mesmo que não tenham jogado.

COPA AMÉRICA
FINAL
BRASIL x ARGENTINA

BRASIL

: Júlio César; Maicon, Luisão, Juan e Gustavo Nery; Renato, Kléberson, Edu e Alex; Adriano e Luís Fabiano. Técnico: Carlos Alberto Parreira.

ARGENTINA

: Abbondanzieri; Zanetti, Ayala, Heinze e Sorín; Mascherano, Lucho González e D?Alessandro; Figueroa, Delgado e Killy González. Técnico: Marcelo Bielsa.

SÚMULA
Local

: Estádio Nacional (Lima-PER).
Horário: 17h (horário de Brasília).
Árbitro: Carlos Amarilla (PAR).

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