Augusto Mafuz – Conto de Natal

Peço perdão, mas quero escrever e não consigo. É que a emoção é tão forte que estanca meus pensamentos, tornando-me seu refém. Já sabia que por ela seria derrotado nesse momento, pois os atleticanos tinham uma vida que era vivida e outra vida que era sonhada, contemplando o que não poderia ver. A vida vivida tinha o sonho em eterno trânsito para a realidade. Era traiçoeira e maltratava. Mas como na vida cada um chega ao futuro imaginado, o Atlético chegou.

Com o desabafo de algumas lágrimas (o coração também chora), estou conseguindo vencer a emoção. Se fôssemos abrir a janela para o mundo, veríamos um campeão que o Brasil há muitos anos não consegue ver: o Atlético cheio de vida. Não pensem que essa vida está apenas na imensidão do corpo e da alma do zagueiro Gustavo; ou na estrela de Alex Mineiro, o verdadeiro fenômeno, que se tornou a representação viva da estrela nascida no peito dos atleticanos. Essa vida está no ideal de sua gente, que construiu o Atlético para não ser campeão de ocasião.

Vamos para o jogo

Bem cedinho, inseguro da minha fé, fui pedir para minha mãe rezar para Santo Antônio dar proteção ao Atlético. Aprendi que se pede proteção divina para valores extraordinários. Sei que existem coisas mais extraordinárias na vida do que o time do coração da gente. Mas ontem era um dia especial, que colocava o Atlético acima do bem e do mal. E nesse momento, por mais confiança que se tenha na conquista em razão da técnica, é a fé que nos sustenta.

O Atlético entrou inteiro. De corpo e alma. De corpo, porque Gustavo, Nem, Kléberson e Adriano, que deveriam

conter, estavam bem; de alma, porque todos os jogadores pareciam personagens do hino, pois vestiam a camisa rubro-negra com amor.

À certa altura do primeiro tempo senti que o Atlético era grande demais para o São Caetano. Parecia que jogava na Arena da Baixada, contra um timinho qualquer. A sua grandeza contrastava com a timidez do “Azulão”, que pode negar, mas tremeu. O Atlético era soberbo no estádio: o amor que explodia da pequena torcida, absorvia os vinte mil torcedores do São Caetano; o time tinha talento, inteligência e espírito; e enquanto o treinador Geninho

tinha a capacidade de neutralizar a emoção para pensar, Jair Picerni ficava silente.

Por isso e porque um campeão que se preze deve ganhar a final, sem proteger-se do casuísmo do pênalti, o Atlético cumpriu o seu papel: o menino Fabiano cruzou forte, e no rebote, Alex Mineiro marcou. Um momento que parece ter sido extraído da Bíblia, pois ninguém mais merecia fazer o gol do título do que Alex Mineiro.

No final, a principal verdade: o Atlético não foi um campeão qualquer, pois os grandes heróis não jogaram e continuarão no clube. Ademir Adur, Enio Fornea Junior, Valmor Zimermann, Marcos Coelho, Guivan Bueno e Samir Aidar entenderam de que o Atlético só seria assim, se a grandeza das idéias de Mário Celso Petraglia

fosse adotada. E adotadas, o resultado foi o título brasileiro, que poderá ser singular pelo que vem por aí.

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