Alerta!

Atlético inova com criptomoeda, mas parceiro levanta suspeitas

Petraglia e o fundador da empresa Inoovi,

A nova parceira do Atlético promete levar aos apaixonados por futebol vivências únicas e altos ganhos financeiros. Tudo isso, alcançado com apenas alguns cliques e um baixo investimento. A Inoovi, startup francesa com sede em Hong Kong, apresentada no dia 29 de junho pelo Furacão, se compromete a entregar aos investidores maravilhosas possibilidades a partir do momento que se adquira o pacote mínimo de dez criptomoedas IVI por 12 dólares. Assunto ainda desconhecido pela grande maioria das pessoas, as criptomoedas estão cada vez mais ganhando espaço e merecem atenção para serem entendidas.

Desde que o Rubro-Negro convocou a imprensa de Curitiba para o anúncio da parceria, muito se repercutiu acerca da Inoovi. Isso porque, especialistas no mercado de criptomoedas apontaram que há falhas alarmantes com o que a empresa promete ao seu público. O site Guia do Bitcoin, maior portal sobre o assunto no Brasil, foi o primeiro a mostrar possíveis irregularidades.

No dia 1º de julho, o site enumerou questões para que os investidores ficassem em alerta antes de comprarem a IVI. Entre os itens suspeitos, está a própria descrição do que é a moeda virtual. A Inoovi descreve a IVI como o novo Bitcoin, o que pode confundir quem não conhece sobre o assunto. Bitcoin é a primeira e mais confiável criptomoeda criada e não tem nenhuma ligação com a IVI. Outros pontos levantados pelo portal foram em relação ao site, que apresenta um layout pouco profissional, fez uso de fotos de banco de imagens para representar a equipe que trabalha na iniciativa e traz um whitepaper (detalhamento do projeto) repleto de promessas fantasiosas.

O site da Inoovi: cheio de dúvidas. Foto: Reprodução
O site da Inoovi: cheio de dúvidas. Foto: Reprodução

Possivelmente encantado em estar entrando em um mercado totalmente inovador, o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia, não se atentou a detalhes cruciais sobre a IVI.

“Esta é uma moeda que funciona com fundo de bancos internacionais. O investimento terá retorno”, falou o mandatário no anúncio da parceria. Porém, as criptomoedas não são regulamentadas por nenhum tipo de banco, portanto, não há como elas funcionarem com o respaldo dessas instituições. Na realidade, os bancos tradicionais se mostram avessos às moedas virtuais, uma vez que não rendem nenhum ativo financeiro a essas corporações.

Mesmo com os itens duvidosos no site da Inoovi, a credibilidade do nome do Clube Atlético Paranaense, atrelado à empresa de criptomoedas, pareceu um bom negócio para o servidor público Francisco Silverio. Esperando ganhar dinheiro apostando na valorização da moeda virtual, o morador da cidade de Carnaúba de Dantas, no Rio Grande do Norte, investiu na IVI.

“Cheguei até a IVI porque vi a notícia da parceria do Atlético Paranaense com eles, achei interessante e vi uma opção de lucro futuro, devido à propaganda de um grande clube do Brasil associada a ela”, contou o investidor, que há alguns meses pesquisa e investe nas moedas virtuais.

No Instagram, uma resposta às críticas usando a criptomoeda mais famosa e valorizada: "Se alguém disser a você que o bitcoin é uma fraude, responda que você não precisa desse tipo de negatividade na sua vida". Foto: Reprodução/Instragram
No Instagram, uma resposta às críticas usando a criptomoeda mais famosa e valorizada: “Se alguém disser a você que o bitcoin é uma fraude, responda que você não precisa desse tipo de negatividade na sua vida”. Foto: Reprodução/Instragram

Silverio comprou o equivalente a US$ 120 em IVI, mas ainda que o valor tenha sido descontado, ele não recebeu suas criptomoedas. Entramos em contato com a Inoovi para entender especificamente o que aconteceu no caso citado e até o fechamento desta edição não obtivemos respostas.

Além da possibilidade do Atlético ter aberto portas para que a IVI aparecesse no mercado brasileiro, diversos torcedores podem se sentir estimulados a comprarem a moeda vendo seu time do coração associado à IVI. Isso porque no site da Inoovi, há a afirmação de que existe uma parceria firmada com o Corinthians, além do que, na coletiva de imprensa, o advogado da Inoovi, Marcelo Amoretty, contou que a mesma parceria está em fase final de negociação com os maiores clubes brasileiros, além dos gigantes internacionais, como Shakhtar, Fenerbahçe, Galatasaray e times da China e toda a Europa. Sobre o assunto, o Corinthians evitou repercutir a notícia, mas enviou uma nota à imprensa:

O Sport Club Corinthians Paulista informa que possui contrato assinado com a empresa ’Inoovi Ltd’ para participar no mercado de criptomoedas. A agremiação divulgará um posicionamento da empresa sobre os fatos imputados a ela“, referindo-se ao portal que levantou as suspeitas sobre a Inoovi.

Num dos vídeos da Inoovi, os comentários são de usuários com comportamentos de 'bots', os robôs criados para turbinar sites. Foto: Reprodução/YouTube
Num dos vídeos da Inoovi, os comentários são de usuários com comportamentos de ‘bots’, os robôs criados para turbinar sites. Foto: Reprodução/YouTube

Além dos alertas dos especialistas, há outros indícios de que é preciso desconfiar antes de investir dinheiro no novo parceiro do Furacão. Pouco profissionais, as redes sociais da empresa estão repletas de comentários de usuários fakes. Em um dos vídeos publicados no YouTube da Inoovi, 211 visualizações e 45 comentários, a grande maioria vindo de perfis falsos.

O fundador da empresa, Loic Lacam, que esteve presente na coletiva de imprensa que apresentou a Inoovi ao mercado brasileiro é um investidor nato. Na França, seu país de origem, existem registros de cinco empreendimentos em seu nome. Quatro deles em funcionamento e um inativo devido a liquidação judicial. Esse, que justamente entrou em falência, tem o nome de Inovi, que muito se assemelha a Inoovi. O documento foi encontrado no endereço virtual verif.com, especializado em consultar a situação financeira das empresas francesas.

Pontos positivos

Ainda com todas as dúvidas que surgem em relação ao assunto, especialistas afirmam que as criptomoedas podem ser algo sério e muito úteis. O economista Lucas Dezordi é especialista no assunto e vê pontos positivos nas moedas virtuais.

“Com as criptomoedas é possível realizar negociações por meio da internet, sem burocracia e sem controle do banco. O Blockchain garante que as pessoas tenham segurança e façam transações de forma mais eficiente”, explicou.

Uma dessas movimentações monetárias que podem ser feitas com criptomoedas são pagamentos a pessoas ou instituições. No evento de apresentação, Mário Celso Petraglia falou que usaria a IVI, inclusive, nas finanças do clube.

No perfil do twitter da Inoovi, uma postagem que novamente mistura o uso da imagem da mulher e a marca bitcoin, que não tem nada a ver com a empresa. Foto: Reprodução/Twitter
No perfil do twitter da Inoovi, uma postagem que novamente mistura o uso da imagem da mulher e a marca bitcoin, que não tem nada a ver com a empresa. Foto: Reprodução/Twitter

“Utilizaremos essa moeda na contratação de atletas, pagamento de salários, luvas e direitos econômicos. Faz parte do nosso escopo promovermos esse tipo de inovação”, explicou Petraglia.

Porém, Dezordi alerta que, para que isso ocorra, será necessário regulamentar esse tipo de transação monetária no Brasil.

“Será preciso ter uma regulamentação sobre esse tipo de pagamento no mercado brasileiro. Existem leis trabalhistas, recolhimento de impostos, entre outras coisas, que precisam estar de acordo com esse tipo de pagamento. Porém, para transferências internacionais de jogadores, as criptomoedas devem facilitar por eliminarem impostos e algumas burocracias”, esclareceu o economista.

Sobre as críticas que vem recebendo, a Inoovi se defende, dizendo que todos os pontos apurados são excessivos.

“Quando um artigo de imprensa é tão exagerado, isso se traduz em uma inveja terrível do nosso sucesso, especialmente quando assinamos importantes parcerias com prestigiosos clubes brasileiros de futebol e seus presidentes, que têm a experiência incomparável de gestão de equipes e negócios em geral”, disse a nota enviada pelo relações públicas da empresa, Anthony Marie.

Um dos fatores que demostram a credibilidade de uma criptomoeda é se ela está inserida em uma Exchange, que é uma espécie de lista de moedas confiáveis. Atualmente, a IVI não figura em nenhuma dessas bolsas, mas a companhia garantiu que em pouco tempo isso será revertido.

“Iremos mostrar os nomes de todas as bolsas onde o IVI está disponível no final do período de 90 dias descrito no nosso website, o que significa que no final de setembro de 2018”, complementa a nota.

O uso do bitcoin - e de mulheres - para chamar a atenção é constante. Foto: Reprodução/Instagram
O uso do bitcoin – e de mulheres – para chamar a atenção é constante. Foto: Reprodução/Instagram

A mais conhecida Exchange que existe é a Binance e a Inoovi garante que já entrou em processo de ingresso à lista. A Binance cobra 1 milhão de dólares para listar uma moeda e é necessário que ela já tenha movimentação, o que, na prática, torna a entrada muito difícil.

Diante da complexidade do tema, Petraglia preferiu reduzir a problematização do assunto e garantir a confiabilidade da Inoovi.

“Muitas pessoas não tem a facilidade do entendimento de uma moeda digital. Nós não temos nenhuma dúvida, eu farei parte pessoalmente da compra dessas moedas para as minhas poupanças pessoais e recomendo a todos que acreditem. É negócio pra gente grande”, destacou o mandatário quando abriu as portas do Atlético como vitrine para a IVI.

Entenda melhor como funciona o mercado das criptomoedas. Infográfico: Cláudio Doggy
Entenda melhor como funciona o mercado das criptomoedas. Infográfico: Cláudio Doggy