Na parede da memória

49 anos depois, Atlético e Santos podem reeditar histórico duelo na Vila

Em 1968, Furacão derrotou o 'imbatível' Santos, em duelo que tem até hoje o recorde de público da Vila Capanema: 24.303 pessoas. Foto: Arquivo

Atlético e Santos entrarão no campo da Vila Capanema amanhã, às 19h15, em um duelo que promete ser histórico e que pode valer vaga nas quartas de final da Libertadores, apesar de ser apenas o jogo de ida das oitavas de final. A expectativa é de estádio cheio, relembrando um outro confronto entre Furacão e Peixe, na mesma Vila Capanema, e que já está na história.

No dia 8 de setembro de 1968, o Rubro-Negro encarou o time paulista pela segunda rodada do Torneio Roberto Gomes Pedrosa – um antecessor do Brasileirão -, na atual casa do Paraná Clube. E na ocasião surpreendeu o Brasil todo ao vencer por 3×2 um time que era a sensação do futebol nacional na época, contando com nomes como Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Joel Camargo, Edu e Pelé, embora o Rei do futebol, gripado, não tenha jogado, sem falar de Ramos Delgado, Rildo, Negreiros e Pepe.

“Eu estava chegando ao Atlético. Eu entrei contra o São Paulo (primeira rodada) e no Santos eu estava na reserva. Fomos para o campo contra aquele Santos temível. O Atlético jogou muito bem, fez frente e teve aquele gol maravilhoso do Madureira. Era para ser um jogo qualquer, mas ficou marcado”, relembrou o ex-jogador e ídolo atleticano Sicupira, que tinha somente 24 anos e estava em sua primeira temporada pelo clube. Até por isso, ainda era reserva de um verdadeiro esquadrão.

Se o Santos tinha futuros tricampeões mundiais de 1970, o Furacão já contava com nomes que levantaram a Copa do Mundo, como o lateral-direito Djalma Santos e o zagueiro Bellini, além de outras estrelas, como Zé Roberto, Madureira e Nilson Borges.

Sicupira era reserva do Atlético naquele jogo, mas lembra bem do confronto. Foto: Arquivo
Sicupira era reserva do Atlético naquele jogo, mas lembra bem do confronto. Foto: Arquivo

Por isso, para a torcida a expectativa para aquele jogo era imensa. Tanto que 24.303 pessoas foram à Vila Capanema acompanhar o confronto. Recorde de público do estádio até hoje. Afinal, o Santos, além das estrelas no time, era bicampeão mundial, enquanto o Atlético tinha, duas semanas antes, sido vice-campeão paranaense, perdendo a final para o Coritiba, que logo em seguida acabou emprestando o goleiro Célio e o lateral-esquerdo Nilo para o rival disputar o Robertão.

Em campo, o Rubro-Negro não se intimidou, mesmo saindo atrás no placar, com gol de Toninho Guerreiro. Reagiu e empatou com Zé Roberto e acabou virando com Gilson e Madureira, que marcou um verdadeiro gol de placa, a ’la Pelé’, aos 16 minutos do segundo tempo, quando simplesmente driblou Carlos Alberto, Ramos Delgado e o goleiro Cláudio e acertou um belo chute no ângulo. No final, Edu ainda descontou para os paulistas, mas era tarde para mudar o resultado.

O triunfo foi imensamente reconhecido. ‘Caiu o maior do mundo‘, estampava a capa da Tribuna do dia seguinte ao jogo. Sobre o golaço de Madureira, o título era: ‘Madureira fez um gol que deu vontade de chorar‘.

Coincidências

Desta vez, o confronto é um pouco diferente. A partida é válida por um torneio continental e em um cenário onde o Santos não é ’imbatível’. Mas os confrontos têm suas coincidências.

Assim como em 1968, o duelo era para ser no Couto Pereira, mas como há 49 anos, em cima da hora foi preciso mudar o local. Na ocasião, o Alto da Glória estava tendo sua arquibancada construída, mas uma forte chuva dias antes fez com que as obras fossem prejudicadas, interditando o lugar. Além disso, a Arena da Baixada não tinha condições de receber uma partida com aquele porte. Restou, então, a Vila.

“Não tinha outro lugar. O Atlético jogava todas na Vila Capanema. O campo do Atlético era muito pequeno, não tinha condições. Só joguei na Baixada em campeonato estadual. E o campo do Coritiba estava passando por reforma”, completou o eterno craque da camisa 8, que para o jogo de amanhã vê o Furacão com chances justamente por causa da torcida, mesmo com o duelo sendo na Vila.

“Eu acho que o Atlético tem alguma chance porque joga em Curitiba, diante da toricda. Mas o Atlético está jogando muito mal, não tem esquema, não tem jogo pelos lados do campo e vai matar qualquer atacante, porque a bola não chega. O Atlético acha que tem um grande time, que na verdade não tem. Eles acham que esse elenco, com jogadores da casa e outros mais experientes faria um time espetacular. Começou muito mal, tomou goleada, venceu quatro partidas jogando mal, mas entra o fator do esporte. O Atlético joga por uma bola coadjuvante. E quem tem que saber isso é a diretoria”, apontou Sicupira.