Atlético-MG atropela o Corinthians

A ressaca corintiana após a conquista do título paulista no sábado retrasado não se limitou aos jogadores que foram goleados pelo Cruz Azul por 3 a 0 pela Copa Libertadores, quarta-feira. Muito menos ao desinteresse do técnico Geninho, que escalou um time misto na partida de ontem contra o Atlético Mineiro e pagou caro pela ?ousadia?.

A torcida respondeu à altura ignorando o clássico do Pacaembu, que esteve praticamente vazio. Uma hora antes de a partida começar, a praça Charles Muller aparentava uma tranqüilidade incomum. Ambulantes de braços cruzados, policiais conversando sobre amenidades, nada lembrava que dentro de alguns minutos o Corinthians iria estrear na competição mais importante do País.

A falta de motivação também ficou evidenciada nas arquibancadas. Embora algumas referências tímidas tenham sido feitas esporadicamente a um ou outro jogador do time da casa, os 200 atleticanos presentes ao estádio dominaram a cena. Com gritos de guerra mais pacíficos do que os proferidos pelas torcidas paulistas, saudaram a entrada da equipe em campo reverenciando Guilherme, atacante que deixou o Parque São Jorge no final do ano passado sem deixar saudades.

Antes de a partida começar, o clima amistoso entre os jogadores fez lembrar uma pelada de final de ano entre casados e solteiros. O próprio Guilherme e o zagueiro Scheidt, que também defendeu o Corinthians até dezembro, passaram quase cinco minutos abraçando os antigos companheiros. Guilherme foi político ao avaliar a situação. “O Corinthians é um ótimo clube para trabalhar, paga religiosamente em dia. Só saí de lá porque não houve acordo financeiro”. No intervalo, o discurso politicamente correto prosseguiu. “Jogar em São Paulo sempre é bom. Imagine então quando se marca um gol. Vou virar assunto da imprensa na segunda-feira”.

Foi só a bola rolar para os jogadores do Corinthians demonstrarem que a Libertadores é prioridade – o time enfrenta o Fenix, do Uruguai, quarta-feira, provavelmente com os retornos de Gil, Kléber, Fabinho e Liedson. O desinteresse passou do campo para os torcedores, que não demonstraram irritação com o péssimo futebol demonstrado nos dois tempos e preferiram relembrar o título paulista. Expulso ao cometer uma falta em Cicinho, o zagueiro Ânderson demonstrou ter visto outro jogo. “Não fiz nada, não bati em ninguém. Tentei acertar a bola”.

O panorama não mudou no segundo tempo. Em campo, o Atlético seguia soberano. Fora dele, a torcida poupava o time. Logo após o terceiro gol mineiro, marcado por Alessandro, um comentário sintomático surgiu nas numeradas, vindo de senhor grisalho: “Será que o Corinthians vai entrar em campo?”.

Nos minutos finais, com o resultado definido, a torcida do Atlético passou a gritar olé a cada toque dado por seus jogadores. E os corintianos deixaram claro, com seus gritos de guerra, que não vão tolerar um novo vexame quarta-feira. “Libertadores, Libertadores….”.

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