Atlético bate, o Cori leva: 1×0

O Coritiba inicia a semana aliviado. Venceu o Atletiba por 1 a 0, ontem, no Couto Pereira, e pôs a casa em ordem. É a primeira vitória após a goleada por 4 a 0 contra o Joinville no dia 10 de março, ainda pela Copa Sul-Minas. De uma classificação ameaçada, o time agora é líder do Grupo A do supercampeonato paranaense e está praticamente na próxima fase da competição. Mas foi um sufoco. Numa verdadeira batalha campal, os dois times mostraram mais violência que futebol para os poucos mais de 12 mil torcedores presentes.

Tudo começou com uma declaração infeliz do diretor administrativo do Atlético, Alberto Maculan. Na ausência de algum coordenador, que andam sumidos da Baixada, ele revelou uma suposta articulação para que o Coritiba saísse vencedor do clássico. O dublê de cartola acusou o técnico do Alviverde, Paulo Bonamigo, de mandar bater nos atleticanos e que, com a conivência da arbitragem, seu time iria ficar inferiorizado numericamente para facilitar as coisas para os coxas. O que se viu foi o contrário.

Mal o jogo começou e o Rubro-Negro já havia batido três vezes. O árbitro Cleivaldo Bernardo – numa atuação sofrível, não tomou providências e perdeu o pulso. Só faltou alguém tomar o apito e expulsar o homem de salmão (a cor de sua camisa). Uma vergonha. Sem controle, as duas equipes extrapolaram a rivalidade e não aliviaram em nenhum momento.

O Coritiba buscou mais o futebol e dominou o primeiro tempo. Chegou a abrir o placar aos três minutos, mas a arbitragem acusou impedimento e anulou o gol. Os coxas não se abateram e continuaram indo para cima. Aos oito, não teve jeito. O ala-esquerdo Sérgio Manoel lançou Da Silva na área que passou por dois defensores e tocou na saída de Flávio. Explosão no Alto da Glória. O gol deixou o Coritiba mais tranqüilo e o Atlético mais intranqüilo. Fabiano deu uma cotovelada em Liédson e não aconteceu nada. O árbitro dava mostras de que os jogadores iriam deitar e rolar.

Entre tapas e tapas, o Coritiba continuou melhor e só não ampliou o placar porque esbarrou em mais uma boa atuação do goleiro Flávio e na falta de pontaria dos próprios atacantes. Era tão visível a superioridade que o técnico rubro-negro, Geninho, tirou Cocito para consertar a defesa. Pôs Donizete Amorim para cadenciar o meio e deixou Flávio Luís na marcação sobre Da Silva. Deu certo. O time da Baixada equilibrou as coisas mas não teve competência de chegar ao empate.

O segundo tempo previa um melhor futebol e até o Atlético esboçou uma reação apenas na bola. Teve várias oportunidades de igualar as coisas no Alto da Glória mas desta vez foi a vez do goleiro Fernando mostrar serviço. De confusão em confusão, novamente, a arbitragem protagonizou uma série de lambanças. Aos 28, Adriano invadiu a área e sofreu pênalti. Só Bernardo não viu. Logo na sequência, Jabá foi lançado em impedimento, avançou e chutou no travessão. O Rubro-Negro ainda tentou ir no sufoco mas não deu. Descontrolado, o Furacão ainda escapou de perder de mais. Badé pôs uma bola na trave e Jabá ainda perdeu nos acréscimos. Ao final da partida, para fechar com “chave de ouro”, os jogadores partiram para o confronto aberto e brigaram à vontade. Bernardo assistiu a tudo cercado pela polícia militar.

Rodrigo Sell

Ficha técnica:
Turno único – 2.ª Rodada
Local: Couto Pereira (Curitiba)
Árbitro: Cleivaldo Bernardo
Assistentes: Roberto Braatz e Idelfonso Trombetta
Gol: Da Silva aos 8 do 1º tempo
Amarelos: Picoli, Williams, Brum, Favaro, Gustavo, Corrêa, Adriano e Dagoberto
Expulsões: Araújo, Da Silva, Fabiano, Flávio Luís e Donizete
Público: 12.416
Renda: R$ 128.580,00

CORITIBA: Fernando, Danilo, Pícolli, Williams, Araújo, Nascimento, Brum, Fávaro (Jabá), Sérgio Manoel (Badé), Liédson, Da Silva, Técnico: Paulo Bonamigo

ATLÉTICO: Flávio, Cocito (Donizete), Gustavo, Rogério Correia, Alessandro, Flávio Luís, Vital (Kléber), Adriano, Fabiano, Alex Mineiro, Dagoberto (Adauto), Técnico: Geninho

Coritiba

Fernando – Foi um dos heróis do Coritiba e salvou a sua meta várias vezes. Nota 8

Danilo – Seguro na zaga. Nota 7

Picoli – Jogou com raça e comandou a cozinha. Nota 7

Williams – Abusou das jogadas bruscas. Nota 5

Araújo – Bem na marcação e no apoio ao ataque, mas se enroscou com Donizete e tomou o vermelho. Nota 5

Nascimento – Um leão no meio, se arriscou no ataque mas não era a sua. Nota 8

Brum – Tentou revidar sempre e só não foi expulso devido à arbitragem fraca. Nota 4

Favaro – Quando não apanhou fez boas jogadas. Nota 7

Sérgio Manoel – Deu um gol de presente para Da Silva e mostrou raça jogando pela ala. Sentiu a coxa e foi substituído. Nota 8

Liédson – Não repetiu suas melhores atuações. Nota 6

Da Silva – Marcou o gol da vitória mas brigou e foi expulso. Nota 7

Badé – Não conseguiu manter o ritmo de Manoel, mas mandou uma bola na trave. Nota 6

Jabá – Incendiou o jogo e só foi parado no pontapé. Só faltou mais objetividade. Nota 6

Paulo Bonamigo – Soube explorar o nervosismo do time adversário. Nota 8

Atlético

Flávio – Salvou o time de tomar uma goleada. Nota 7

Cocito – Perdido em campo, deixou Da Silva livre para marcar o gol do Coritiba. Nota 3

Gustavo – Lento, foi facilmente driblado por Da Silva na hora do gol. Foi ao ataque sem sucesso. Nota 4

Rogério Correia – Catimbou o tempo inteiro e abusou do pontapé. Nota 4

Alessandro – Apesar de violento, um dos poucos que procuraram o gol o tempo inteiro. Não teve a solidariedade dos companheiros. Nota 7

Flávio Luís – Esteve bem na marcação, mas acabou expulso por brigar com Da Silva. Nota 4

Vital – Mesmo fora de forma, teve as melhores chances de chegar ao gol. Tropeçou nas próprias pernas, cansou e foi substituído. Nota 6

Adriano – Só foi parado nas faltas. Duas delas dentro da área que o árbitro não marcou. Nota 7

Fabiano – Deveria ter sido expulso aos dez minutos por uma cotovelada em Liédson. Nota 3

Alex Mineiro – Mais uma partida apagada. Nota 5

Dagoberto – Cansado da volta da Europa, não teve pernas para passar pela defesa alviverde. Nota 6

Donizete – Entrou bem e deu mais consistência ao meio rubro-negro, mas foi para a rua com Araújo. Nota 5

Adauto – Correu bastante. Só isso. Nota 5

Kléber – Continua sem apresentar futebol. Nota 3

Geninho – Queimou uma substituição com 45 minutos. Jogou Dagoberto numa fogueira e teve que trocar Cocito, que sentiu a virilha com apenas 31 minutos. Nota 5

ARBITRAGEM – O trio mais fraco dos últimos clássicos. Cleivaldo Bernardo não teve coragem de controlar o jogo no início e perdeu o pulso. Os jogadores fizeram o que quiseram, abusaram da pancadaria e transformaram o Atletiba numa batalha campal. O trio também marcou impedimentos absurdos e deixou de anotar dois pênaltis claros em Adriano, que, para piorar, foi punido com um cartão amarelo.Nota 2

Torcida dá lição nos jogadores

Segundo a Polícia Militar, o clássico de ontem transcorreu na mais perfeita calma. Pelo menos fora de campo. Até às 20h de ontem, horário em que a Tribuna fez o último contato com a sala de imprensa da PM, apenas uma ocorrência um pouco mais grave chamou a atenção dos policiais. “Recebemos uma denúncia que havia torcedores apedrejando ônibus e residências nas Moradias Caiuá, mas rapidamente foi enviada uma viatura ao local”, comentou o sargento Glock.

Já próximo ao Estádio Couto Pereira, a informação é de que nada de anormal ocorreu e as tradicionais cenas de violência entre os torcedores não se repetiram ao término da partida. “Após o jogo, houve apenas alguns pequenos atritos perto do estádio, mas nada que não pudesse ser facilmente controlado pelos policiais”, completou Glock.

A transmissão do clássico para a tevê aberta e a pouca quantidade de torcedores presente no Couto (12.416) foram, sem dúvida, alguns dos fatores que colaboraram para a redução da violência. Uma hora antes da partida, os torcedores – em pequeno número – se dirigiam ao estádio na maior tranqüilidade e nenhuma ocorrência foi registrada.

Durante a partida, apenas as provocações normais entre os torcedores de ambas as torcidas aconteceram e o verdadeiro trabalho para os policiais foi mesmo dentro do campo, segurando jogadores de Atlético e Coritiba, numa verdadeira batalha campal.

Jogadores do Cori já apostam no título

Mais do que uma vitória num clássico contra o Atlético, os jogadores do Coritiba saíram do Couto Pereira comemorando a volta do bom futebol. Para o volante Roberto Brum, se o time continuar jogando como na partida de ontem’ vai chegar ao título do supercampeonato paranaense. “Vamos ser os melhores do mundo, é só a gente querer”, desabafou.

Para o técnico Paulo Bonamigo, o primeiro tempo do Atletiba foi perfeito. “A minha equipe foi jogar futebol e foi muito competente”, analisou. Para ele, a polêmica criada em torno de uma possível ordem de bater não tinha fundamento. “Você mandar marcar implacavelmente é uma coisa, mas mandar bater é completamente diferente”, explicou. Segundo ele, o adversário não precisava usar desse artifício. “O Atlético é um grande time, mas hoje (ontem) o Coxa foi bem melhor”, apontou.

Bonamigo ressaltou a importância dessa vitória. “Nós precisávamos desse resultado porque a última vitória tinha sido contra o Joinville”, disse. O treinador destacou também a garra apresentada pelos jogadores. “O grupo foi brioso e em momento algum o Édson (Gonzaga, auxiliar técnico) mandou alguém bater.” Agora, o Glorioso se prepara para enfrentar o Maringá pela última rodada da fase de classificação. Uma vitória garante ao time o primeiro lugar e a condição de jogar a partida da semifinal em casa. (RS)

A rotina da reclamação

No vestiário da tristeza o choro foi livre. Além de não admitir a violência aplicada na partida, o diretor-administrativo Alberto Maculan insistiu na teoria da conspiração. “O que eu falei foi o que aconteceu”, esbravejou. O dirigente ainda foi mais longe e xingou o árbitro Cleivaldo Bernardo. “Ele foi conivente e safado. E mais, esse safado está vetado para sempre nas partidas do Atlético”, continuou. Maculan, no entanto, não tem esse poder de decisão na cúpula rubro-negra.

Já o técnico Geninho procurou ser mais realista e menos passional. “No primeiro tempo, o Coritiba foi melhor e não há como negar isso. O gol acabou desestabilizando o time”, analisou. Para ele, a equipe só equilibrou as coisas no segundo tempo. “Tivemos várias chances e pelo menos um pênalti a nosso favor”, lamentou.

Mas, a arbitragem também não escapou dos comentários do treinador. “Faz muito tempo que eu não vejo isso no futebol. A arbitragem do Paraná não está preparada para apitar um jogo dessa grandeza porque se deixa envolver”. Para ele, não há mais condição de paranaenses apitarem os clássicos. “A Federação poderia trazer árbitros até da China, mas não daqui”, sugeriu. Segundo Geninho, seus jogadores entraram na provocação do Coritiba. “É muito difícil você não revidar. Mas, o Atlético também foi culpado por entrar na deles”, finalizou. Hoje, os jogadores titulares fazem apenas um trabalho de hidroginástica e amanhã o técnico comanda um coletivo apronto para a partida contra o Prudentópolis, quarta-feira na Arena. (RS)

Voltar ao topo