Jogos inesquecíveis

Athletico x São Caetano, 2001: O jogo que uniu Alex Mineiro e Galvão Bueno

Crédito: Montagem Gazeta do Povo

A Gazeta do Povo e a Tribuna do Paraná selecionaram jogos antigos, disponíveis na íntegra na internet, para serem vistos e revistos. Do ponto de vista técnico, tático ou, até mesmo, apenas pessoal, leia como foi a experiência, tanto tempo depois.

“A final que uniu Alex Mineiro e Galvão Bueno”, por Fernando Rudnick

Quando recebi a missão de rever (e escrever sobre) a partida entre Athletico x São Caetano – o primeiro jogo da final do Brasileirão de 2001 – fiquei em dúvida sobre como abordar o assunto.

Lembrava do placar final, 4 a 2 para o Furacão, e que a decisão foi eletrizante, mas confesso que não recordava com clareza o roteiro escrito naquela tarde ensolarada de domingo, 16 de dezembro.

19 anos atrás, seria o futebol era tão diferente assim?

Primeiro, vamos aos fatos que mais me chamaram atenção. Abarrotado com 31 mil fãs, o ainda incompleto estádio atleticano PULSAVA. E que espetáculo a torcida ganhou de presente!

O futebol OFENSIVO das duas equipes foi muito exaltado pelo narrador Galvão Bueno e os comentaristas Falcão e Casagrande na transmissão da Globo. Para confirmar o elogio, o primeiro ato aconteceu logo aos 4 minutos. A voz mais conhecida da TV esportiva brasileira narrou assim:

Jogo começa quente, começa mesmo com clima de decisão. Adriano, arrisca, tenta a penetração. A chance do Ilan, ainda ele, bateu, a bola vai entrando… GOL! É do Furacão, Ilan, camisa 11

Ilan, então com 21 anos de idade, substituiu o titular Kléber, o Incendiário, que mais tarde ficou conhecido como Kléber Pereira. O coadjuvante inaugurou o marcador e explodiu a Baixada, como ressaltou Galvão.

Além da vibração normal, percebe-se muita emoção no rosto dos torcedores. Sai na frente o Furacão. O Azulão vai ter que se virar e tem força pra isso. O jogo está só começando.

Aqui, um adendo curioso. A previsão certeira, já que o time do ABC virou o jogo, foi seguida de uma chamada para o Domingão do Faustão. O programa teria naquele domingo a grande final do concurso AS MAIS BELAS PERNAS DO BRASIL, além de apresentações de Sandy & Júnior e Daniela Mercury.

Voltando ao jogo. O barulho da torcida atleticana era ensurdecedor. Mas, aos poucos, o Azulão foi equilibrando a partida. Chegou ao empate na bola parada.

Sem dúvida, uma falha do goleiro Flávio. O Pantera defendia a meta que estava contra a luz do sol. Nem o boné resolveu.

Outra vez o Mancini tem cobrança… Aos 31 minutos desse primeiro tempo. O Adãozinho chega por ali, rolou de lado pro Mancini, lá vem a pancada. Bateu direto pro gol… GOL! É do Azulão! Mancini na cobrança de falta!

É verdade que Flávio salvou o Athletico mais tarde, antes do fim do primeiro tempo. Na sequência do lance, Cocito evitou o gol EM CIMA DA LINHA.

O São Caetano poderia ter virado também aos 2 minutos do segundo tempo. Em nova cobrança de falta, o saudoso zagueiro Serginho encheu o pé e balançou o travessão Rubro-Negro.

Curiosamente, logo depois desse lance, o Furacão teve uma oportunidade de ataque, mas Alex Mineiro – até então apagado – decidiu devolver para Adriano, o Gabiru, ao invés de dominar e finalizar. O lance rendeu o seguinte comentário de Casagrande.

A final assusta um pouco os jogadores. Tem jogador que, de repente, não chuta e prefere passar para o companheiro finalizar. Essa bola era clara. O Adriano tocou para o Alex Mineiro, era dominar e finalizar. Estava frente a frente.

Aos 5 minutos, Ilan poderia ter mudado a história da decisão. Mas a cabeçada do atacante, após cruzamento do serelepe lateral-direito Alessandro, caprichosamente explodiu no travessão de Sílvio Luiz, o goleiro com nome de narrador.

Logo depois, a pulsante Arena calou-se por um instante. Carrinho de Gustavo em Esquerdinha. Cartão amarelo. Mais uma bola parada para os visitantes. Na cobrança, aos 8 minutos, a bola desviou na barreira e sobrou livre para Marcos Paulo.

Galvão Bueno contou assim:

Esquerdinha, Mancini e Adãozinho. De onde vier é chumbo grosso pro Flávio. Partiu Mancini, pé direito, uma bomba… tocou na barreira. Olha a chance, Marcos Paulo bateu. GOL! É do Azulão! Marcos Paulo, número meia dúzia.

Antes de falarmos sobre o vira-vira comandado por ALEX MINEIRO, pausa para mais um comentário auspicioso. Antes de narrar o gol acima, Galvão discorreu sobre uma grande invenção do futebol dos anos 2000.

Esse negócio do spray é a melhor coisa que aconteceu pra cobrança de falta, né Arnaldo? Marca ali onde tem que ficar a bola, marca onde tem que ficar a barreira e acabou a discussão.

O cenário era péssimo para Geninho e seus comandados. 2 a 1 para o São Caetano, fora de casa, no início do segundo tempo. Naquele momento, o sonho do título nacional ficava mais distante para o Athletico.

Em questão de segundos, então, a narração a seguir mostra por que o futebol é tão FASCINANTE.

Fica difícil a situação do Athletico Paranaense. Momentaneamente fica quieta a torcida do Furacão aqui na Arena da Baixada. Faz a festa o torcedor do Azulão. Dois São Caetano, um Athletico Paranaense.

Olha aí a expressão de desânimo da torcedora do Athletico, o outro roendo as unhas. Todo mundo preocupado. Dois para o São Caetano, um para o Athletico…

O Athletico é valente, o Athletico vai pra cima. O Athletico toca.
Adriano recebe pelo meio, pra Alessandro, botou na frente de novo, chegou o toque. GOL! É do Furacão. Alex Mineiro, número nove. Tudo igual outra vez na Arena da Baixada.

Que final, amigo, que grande jogo. Se segura e haja coração. Domingo que vem tem mais, hein!

A mágica de Alex Mineiro começou 9min42s. Esticando a perna direita, meio de carrinho, ele igualou o placar e ACORDOU o Joaquim Américo. E comemorou vestindo uma toca natalina que estava guardada no calção!

Na minha cabeça, o Athletico tinha resolvido o confronto mais cedo, sem tanto sofrimento. Não foi assim. A revirada só aconteceu aos 34 minutos, não antes de Alessandro salvar outra bola EM CIMA DA LINHA, exatos 58 segundos antes (eu contei!)

Nesse momento, um jogador SUBESTIMADO, na minha humilde opinião, apareceu, após substituir Ilan. O nome dele é José Ivanaldo de SOUZA.

Com um toque sutil, o meia, ex-Corinthians, deixou o camisa 9 na cara do gol. A descrição foi essa, by Galvão Bueno.

Aí o Alessandro. Perna esquerda. Puxou mais atrás. Souza fez a tabela. Botou na frente, Alex, saiu o goleiro, bateu. GOL! É do Furacão! Alex Mineiro! E que gol, amigo! No toque do Souza, recebeu de volta, deixou todo mundo pra trás. O Sílvio Luiz saiu, ele deu um tapa na bola e saiu pro abraço. Incendeia de novo a Arena da Baixada.

O faro de artilheiro de Alex Mineiro, que marcou oito gols em todo mata-mata do Brasileirão, não falhou. O goleador, que terminou o campeonato com 17, mesmo número de Kléber, ainda fechou o placar de pênalti, sofrido por Adriano.

Souza, no entanto, foi quem roubou a bola e deu o passe para Adriano invadir a área. Instantes antes, uma cena peculiar: o limitado/esforçado zagueiro Igor tentou ganhar tempo protegendo a pelota perto da bandeirinha de escanteio. Três anos antes de Carlitos Tévez repetir a jogada na Copa América de 2004, diga-se.

FOGOS de artifício na Arena antes da penalidade máxima. E Galvão relatou assim:

Passamos de 46′, vamos pra 47′. E olha quem vai pro pênalti. Alex Mineiro fez três na semifinal e quer fazer três hoje. Esse lance pode fazer diferença na final. Alex Mineiro partiu pra cobrança, bateu! GOL! É do Furacão!

O avante fez o gol e também aquela moral com a organizada ao levantar a camisa com a inscrição 100% Fanáticos.

Mas nem precisava. Foi dele, também, o único gol do jogo de volta, uma semana depois, no Anacleto Campanella. O resto é HISTÓRIA.

Veja o jogo na íntegra!

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