Até choro na chegada do Brasil

Houve quem chorasse ao ver os jogadores da seleção brasileira desembarcando no aeroporto de Busan. Eram 17h35 (5h35 em Brasília) quando as portas do saguão se abriram e apareceram primeiro Cafu, Vampeta, Juninho Paulista e depois o resto do elenco do Brasil. Assim, tão de pertinho, os craques que os coreanos só viam pela televisão se tornaram pessoas de carne e osso. Muitas fotos, alguns acenos, sorrisos e um ou dois autógrafos. Foi assim que os heróis do sonhado pentacampeonato foram recebidos na Coréia, a partir de agora a sede do futebol brasileiro na Copa do Mundo.

Poucos, mas barulhentos torcedores “made in Brasil” foram ao Aeroporto de Gimhae, na cidade vizinha a Ulsan. Enquanto esperavam o avião, um grupo de onipresentes cinco gaúchos nesta Copa e uma família de brasileiros que moram na Coréia tocavam o pandeiro, o bumbo e a corneta para chamar a atenção dos coreanos. Sambavam com eles, até: “Eu me diverti muito”, afirmou Kim Si-Ok, de 31 anos, que trabalha no aeroporto. As televisões do país registraram tudo.

Enquanto isso, o grupo da polícia especial da Coréia fazia uma ampla revista com cães farejadores no ônibus e saguão do aeroporto. Mais de 50 homens armados formaram o corredor que separaria jogadores da torcida e dos jornalistas. Parecia até que quem, dali a instantes desembarcaria, seriam os jogadores dos Estados Unidos. Mas essa demonstração de força não impediu que muitos jovens começassem a se aproximar do cordão de isolamento.

Bandeirinhas do Grêmio e do Internacional foram distribuídas pelo grupo gaúcho aos curiosos que esperavam “o time número 1 do mundo”. Até se podia imaginar que ali ficava o Aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre. Verde-e-amarela, só a camisa da seleção, uma mercadoria de troca valiosa entre os jovens. Para os perplexos coreanos que ouviam os gritos dos brasileiros, só relaxando e entrando na brincadeira. Havia cerca de 200 pessoas à espera da seleção.

No entanto, quando se abriram as portas em falso, mas ali se via o rosto de Rivaldo, os gritos começaram por todos os lados: “Rivaldo, Rivaldo! Ronaldo, Ronaldo!” Quando os jogadores, enfim, saíram e atravessaram o corredor, os coreanos correram desesperadamente. Queriam acompanhá-los. Um atraso dentro da sala de desembarque atrasou a saída do técnico Luiz Felipe Scolari, o último a entrar no ônibus.

Todos dentro e o comboio de três carros oficiais, o ônibus vermelho da Fifa de placas PA-7515 (numerólogos de plantão?!) e um microônibus seguiram em direção a Ulsan. Carros da polícia abriram passagem no percurso. Os jogadores só puderam ver algumas bandeiras do Brasil a partir de Sinbok Rotary, na entrada da cidade. Passaram perto do Munsu Stadium, onde jogam dia 3 contra a Turquia, e pelo campo de treinamento, o Mipo Field, antes de chegar ao Hotel Hyundai. Nas ruas, muitos olhares curiosos e raros acenos.

Às 19h01, o ônibus chegou ao seu destino. Lá, Felipão fez valer o ditado “os últimos serão os primeiros” e desceu antes para cruzar o batalhão de repórteres do mundo todo. Recebeu uma coroa de flores e cumprimentos do prefeito de Ulsan. “Foi diferente do que imaginava”, limitou-se a dizer sobre a recepção preparada para o time brasileiro.

Mais emocionada estava Lee Joo-Hyang, uma bela universitária de 24 anos que entregou flores ao técnico. “Entreguei buquês também para a Espanha e Turquia, mas houve uma grande disputa para ver quem entregaria o do Brasil.” De tão nervosa, não dormiu algumas noites e sentiu o gostinho da fama: “Tive até de dar autógrafos.” Em seguida, vieram os jogadores.

Ao fundo, uma batucada da claque coreana improvisava um “olê, olê, olê, olá, Burazil, Burazil”. Alguns seguravam uma grande faixa com os dizeres “Brasil, o país que vai ganhar a Copa pela 5ª vez! Torcida brasileira dos cidadãos de Ulsan”.

O Hino Nacional foi tocado, mas logo interrompido enquanto a claque insistia no bumbo. Uma dança típica coreana num canto do estacionamento foi iniciada, mas os jogadores já avançavam para dentro do hotel. Poucos devem ter notado. Todo o protocolo da cerimônia havia sido quebrado.

Às 19h10, o prefeito Shim Wan-Gu subia com os jogadores para o 11.º andar, onde foi preparado um coquetel de boas-vindas.

Menos de dez minutos depois, ele saía do elevador para ir embora. No saguão do hotel, a maioria de coreanos esquecia do tumulto da chegada brasileira para assistir aos minutos finais da vitória de 3 a 2 da França contra a Coréia. Às 20 horas, em noite de lua cheia (astrólogos?), o saguão do hotel só tinha jornalistas. E o time brasileiro, isolado em seus andares, ganhava assim a sua privacidade exigida em contrato.

Ulsan ? AE

Ronaldo tem fã clube até na Coréia do Sul

Em meio ao barulho dos torcedores brasileiros que foram recepcionar o time de Luiz Felipe Scolari no aeroporto de Busan, três jovens coreanos destoavam da multidão de curiosos que se aglomerava para ver a chegada da seleção. Ao contrário da maioria, que estava apenas de passagem entre a espera de um vôo, eles foram especialmente para ver de perto os ídolos que chegavam a Coréia. Sem querer, acabaram formando um pequeno “fã clube” de Ronaldo no saguão do aeroporto.

Vestindo a camisa amarela da seleção e com outra da Inter de Milão pendurada na mochila, Son Joo-Mo, de 19 anos, viajou sete horas de ônibus desde Incheon para mostrar a sua paixão pelo futebol brasileiro e especialmente pelo atacante, de quem diz ser um grande admirador.

Apesar da pouca idade, o estudante afirma que é um velho torcedor do Brasil. “Bebeto, Romário”, diz, repetindo – com os braços fingindo acalentar uma bebê – a comemoração que marcou a conquista do tetracampeonato em 1994. “Mas atualmente eu gosto do Ronaldo”. E o contato com os ídolos não se limitará a rápida chegada no aeroporto. Joo-mo já assistirá em Suwon o terceiro jogo do Brasil na Copa, contra a Costa Rica.

Cho Sung-Kun, também de 19 anos, não veio de tão longe mora em Busan mesmo – mas preparou um cartaz verde com o nome do jogador e o número nove escritos em amarelo. Um pôster de Ronaldo sem camisa completava a homenagem, preparada na noite anterior. “Virei fã do Brasil após ver Ronaldo jogar a Copa de 98”.

Para o outro fã, Chung Jae Woo, a camisa amarela com o número 9 nas costas e uma imagem do ídolo não foi suficiente. Chung Jae Woo raspou o cabelo para ficar parecido com o fenômeno. De costas, até que o resultado foi satisfatório. Além do ídolo e da idade, os três tinham algo mais em comum: não hesitaram que torcerão mesmo para o Brasil, em vez da Coréia.

Os adolescentes eram os mais identificáveis, mas não eram os únicos fãs de Ronaldo no aeroporto. Com os jogadores já no ônibus, uma coreana chorava copiosamente por ver o ídolo pela janela. Ronaldo é mesmo um fenômeno.

AE ? Ulsan

Fifa quer jogo duro contra antiesportistas

Racismo, desrespeito pelo adversário e pelo público e fazer encenação. A Fifa alerta que está pedindo aos árbitros que atuarão na Copa do Mundo para dar punições exemplares aos jogadores que cometam esses atos. “Queremos evitar todo o tipo de atitude dos atletas que possa ser antiesportiva”, explica um membro do comitê de regras da Fifa.

Para preparar os árbitros e jogadores, a Fifa apresentou uma lista com dez recomendações para o Mundial. Os “dez mandamentos” incluem desde a recomendação para que o jogador atue sempre para vencer uma partida até orientações no sentido de evitar que os atletas culpem os juízes por um resultado adverso.

O credo da Fifa, porém, tem como foco punir trapaças por parte dos jogadores, como enganar o juiz ou tentar jogar a torcida contra o trio de arbitragem. Outro ato que poderá ser punido até mesmo com cartão vermelho será reclamar das decisões do juízes.

A Fifa avisa ainda que estará atenta às possíveis atitudes racistas por parte dos jogadores, um problema que vem afetando vários clubes principalmente na Europa. “Se um jogador ofender outro com base em questões raciais poderá ser expulso”, alerta a Fifa. A entidade máxima do futebol lembra que, como nas edições passadas, o Mundial não irá tolerar o doping. Neste ano, porém, a Fifa alerta que casos de corrupção, como tentar comprar um jogador, serão investigados.

A sugestão para as equipes é que elas mesmo ajudem os atletas que forem alvo de casos como esses. “São os companheiros de equipe que podem ajudar um jogador a resistir a um tentativa de corrupção”, diz a Fifa.

Na avaliação do membro do comitê de regras da Fifa, os jogadores que participarão do Mundial devem ter em mente que suas ações serão vistas por bilhões de pessoas e que podem influenciar o comportamento do jovens em todo o mundo.

AE ? Genebra

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