Felipão tem expectativa
de boa campanha em Atenas.

Lisboa – O sucesso e o dinheiro não foram capazes de mudar o comportamento do brasileiro Luiz Felipe Scolari, treinador da seleção de Portugal. O lado sargentão aparece sempre que ele julga necessário, mas também é verdade que é com seu estilo que Felipão conquista os jogadores, sejam eles brasileiros ou portugueses. Foi fazendo seu próprio café, em seu local de trabalho, que o treinador pentacampeão do mundo falou de sua vida em Portugal e de seus planos. Sincero, ele admitiu que, se tiver uma oportunidade, aceitaria sim voltar a dirigir a seleção brasileira.

– Voltaria, mas não penso nisso – afirma.

AG: No seu trabalho, você procura valorizar sempre o grupo. No Brasil, acabou formando a Família Scolari. Aqui, foi a Família Portuguesa. É sempre assim onde o Felipão trabalha?
Felipão: Essa denominação surgiu depois da Copa do Mundo, mas, por exemplo, no Palmeiras nós tínhamos um grupo também muito parecido. No Grêmio, no qual fiquei três anos e meio, tive um grupo assim. Não tínhamos uma denominação de família, mas éramos um grupo muito unido. Penso que as grandes equipes sempre têm qualidade técnica, mas também têm um espírito de equipe muito forte. É com espírito de equipe que se supera certas dificuldades técnicas. Se olharmos para os vencedores dos últimos 10 anos, veremos que muitas vezes não foram equipes com grandes jogadores. Minhas equipes podem não ser as melhores, mas sei que com espírito de equipe podem tornar-se grandes.

AG – Essa forma de comandar uma equipe é uma questão de estratégia ou é apenas o jeito Felipão de ser?
Felipão: Quando eu comecei a minha carreira esportiva, eu sabia que só participava porque estava em uma equipe pequena. É mais fácil, quase natural ter um espírito de equipe. Naquela época, sabia que, se não realizasse alguma coisa extra, jogaria um ou dois anos no máximo. Minha filosofia é: se cada um fizer a sua parte corretamente, todo mundo trabalhar junto, todo mundo vai ter aquilo que deseja. É o resultado natural da vida.

AG – Como você vê o futebol europeu hoje? E quais são as principais diferenças em relação ao futebol brasileiro?
Felipão: Eu prefiro dizer futebol sul-americano. É um futebol com mais malabarismo, mais ginga, menos tático. Há mais improvisação, embora a Europa já comece a apresentar algum improviso. Nestes 18 meses em que estou em Portugal, tenho visto grandes jogadores.

AG – Numa escala de 0 a 10, qual a nota do futebol europeu em termos táticos?
Felipão: De 0 a 10, a Europa fica entre o 8,5 e o 9.

AG – E os sul-americanos?
Felipão: O sul-americano não gosta muito deste tipo de trabalho, mas, quando aceita, as diferenças são facilmente notadas.

AG – Como é o seu novo contrato com a Federação Portuguesa?
Felipão: A partir de agora eu passo a ter mais controle das categorias de base. Terei também um olhar mais cuidadoso para com as equipes sub-21 e sub-20. Farei contatos semanais ou mensais com os treinadores e observarei o desenvolvimento dos jogadores. Será um trabalho voltado para a seleção principal. Estas foram as únicas alterações em relação ao meu contrato anterior.

AG – Como está a seleção portuguesa?
Felipão: Está bem melhor. Procuramos colocar um pouco de alegria, respeitando a forma de ser de cada um. Gostamos de trabalhar com um pessoal bem educado, correto, que trabalha dentro dos horários, respeitando todo o processo. Portugal tem hoje um maior sentido musical e um maior espírito cívico. Tudo fruto da Eurocopa.

AG – Como explicar a derrota para a Grécia na final da Eurocopa?
Felipão: Para começar, os gregos foram melhores. A Grécia usou toda a sua potencialidade em todos os jogos e conseguiu atingir os seus objetivos. Sabiam que tinham um grupo para jogar daquela forma e jogaram. Poderiam perder daquela forma, mas não modificaram nada. Foi o que aconteceu também com o Once Caldas nas Libertadores da América e com o Porto na Liga dos Campeões da Europa. Quando começou a competição, ninguém apostava no Porto. Fizeram um trabalho bem feito e, quando os outros acordaram, o Porto era o campeão europeu.

AG – Portugal tem chances nas Olimpíadas?
Felipão: Portugal tem chances. Com o time olímpico reforçado por três jogadores com mais de 23 anos, nossas chances aumentam muito. Eu espero que Portugal passe da primeira fase.

AG – A seleção brasileira é carta fora do baralho de Felipão?
Felipão: Não. Mas eu não penso nisso. Mesmo quando estava no Brasil, não pensava na seleção. Achava que jamais chegaria a minha vez. Mas depois de ter passado pela seleção, de ter convivido com aquele grupo, posso dizer que se um dia eu tiver outra oportunidade, voltaria sim. Mas não trabalho para isso. Se um dia acontecer ótimo, se não acontecer eu acho que já dei a minha contribuição e a seleção já deu a sua contribuição para mim também.

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