Armstrong: o “rei” da França

Paris – O norte-americano Lance Armstrong, aos 32 anos, consolidou de vez seu nome na história do esporte ao garantir ontem o hexacampeonato da Volta da França, a mais importante competição do ciclismo mundial. Representando a equipe U.S. Postal, o texano foi ovacionado ao cruzar a linha de chegada na principal avenida de Paris, a Champs-Elysées.

Desde 1999, ganhou todas as temporadas e tornou-se o único a conquistar seis títulos. Até então, além dele, quatro outros ciclistas haviam sido campeões por cinco vezes (o espanhol Miguel Indurain, o belga Eddy Merckx e os franceses Bernard Hinault e Jacques Anquetil). “Este recorde me coloca na história do ciclismo. Esta é a corrida mais importante do mundo e a que dá sentido à minha vida pessoal e profissional. Tudo isto é emocionante”, afirmou Armstrong.

O norte-americano é não só um ciclista espetacular como um ser humano invejável. Em 1996, descobriu ser vítima de câncer nos testículos, a doença se espalhou pelos pulmões e pelo cérebro e por pouco não lhe tirou a vida. Armstrong venceu o câncer e, três anos depois, deu início a seu reinado na Volta da França.

Em 2004, as atenções estavam todas sobre ele. Os críticos mais ferozes lembravam que ele já não era o mesmo de antes, mais velho e não tão rápido, e recordavam que, em 2003, a decisão foi bastante apertada.

Acusações de doping voltaram a pesar sobre o ciclista. Em junho, os jornalistas David Walsh e Pierre Ballester lançaram o livro L.A. Confidential. A obra trazia declarações de uma ex-massagista do atleta e do tricampeão Greg Lemonde, ex-parceiro de equipe do texano. Ambos teriam testemunhado o uso contínuo de esteróides por Armstrong.

O organizador da Volta da França, Jean Marie Leblanc, declarou acreditar na inocência do então pentacampeão, mas ordenou mudanças no controle antidoping. Análises de sangue substituíram as coletas de urina e testes-surpresa foram feitos ao longo da prova.Supremacia

Tentativas em vão de barrar o fenomenal atleta. Sua supremacia este ano, entretanto, foi absoluta. Tanto que chegou à 20.ª e última etapa da competição (das quais, ganhou seis), com 1min11 na frente do alemão Jan Ullrich, segundo colocado. Precisava neste domingo apenas permanecer em pé. Chegou na 114.ª colocação, pouco mais de 19 minutos depois do vencedor, o belga Tom Boonen. Na somatória dos tempos, percorreu 3.390 quilômetros em 83h36min02, deixando 188 adversários para trás, em 22 dias de prova.

O triunfo mereceu telefonema do presidente dos Estados Unidos, George Bush, diretamente de seu rancho, em Crawford, no Texas, onde descansava no fim de semana. Além das congratulações presidenciais, o ciclista recebeu, como prêmio pela conquista, 400 mil euros dos organizadores.

Os Estados Unidos se orgulham dele, mas não o terão nos Jogos de Atenas, em agosto. “Pensei muito sobre isto e a resposta é que não vou. Não estou 100% motivado e não quero tirar a vaga de outra pessoa. Quero ir para casa”, afirmou Armstrong, decidido a passar mais tempo com os filhos Luke David, de 4 anos, e as gêmeas Isabelle Rose e Grace Elizabeth, de 2 anos.

Ele ainda pôs em dúvida sua continuidade no circuito profissional. “Quero decidir tudo nos próximos dois meses”, ressaltou. “O problema é que não me imagino sem a Volta.”

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