Argentino é solto depois de quase 40h de prisão

São Paulo – Depois de quase 40 horas preso, o zagueiro argentino do Quilmes, Leandro Desábato, foi colocado em liberdade na tarde de ontem pela polícia paulista, num episódio que certamente vai entrar para a história do futebol brasileiro. Acusado de racismo pelo atacante Grafite, do São Paulo, o jogador argentino foi preso na quarta-feira, ainda no gramado do Morumbi, num procedimento inédito no mundo. Levado ao 34.º Distrito Policial, na Vila Sônia, zona Sul da cidade, próximo ao estádio, ele foi autuado por injuria racista e corre o risco de ser condenado a pena que varia de 1 a 3 anos de prisão. Ele saiu da prisão e poderá viajar para a Argentina, mas assinou termo de responsabilidade, se comprometendo a voltar ao Brasil sempre que requisitado.

No dia seguinte à prisão, a Justiça estabeleceu uma fiança de R$ 10 mil, mas os advogados e os dirigentes do clube não conseguiram reunir o dinheiro a tempo de conseguir o alvará de soltura. Por conta disso, o atleta foi transferido na noite de ontem para o 13.º DP, na zona norte da cidade, onde estava até agora.

O zagueiro foi preso depois de ter chamado Grafite de "negrito de mierda" e ter feito outras ofensas de cunho racista. Ao final do jogo, o advogado do São Paulo, José Carlos Ferreira Alves, acionou o delegado Oswaldo Gonçalves, o Nico, que estava no estádio, pedindo um flagrante por crime de racismo. A autoridade entrou no gramado e intimou Desábato ali mesmo.

Nico já havia sido acionado pelo delegado geral da Polícia Cicil, Marco Antônio Desgualdo, e pelo secretário da Segurança Pública, Saulo Abreu. Ambos são são-paulinos, assistiam ao jogo pela TV e ficaram indignados com a atitude do argentino. Grafite também compareceu ao Distrito para prestar depoimento.

Jornais de todo o mundo noticiaram a prisão do zagueiro. A notícia chegou até o outro lado do mundo: no China View, a punição ao jogador do Quilmes estava em seu canal de esportes. O assunto estava nos principais jornais especializados: As e Marca, da Espanha, Olé, da Argentina, Gazzetta dello Sport, da Itália, e A Bola, de Portugal.

O incidente também foi abordado por diários que não se dedicam só ao esporte, como o americano The New York Times e o argentino Clarín, principal jornal do país.

O presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), Nicolás Leoz, promete ser duro com o zagueiro. "Não podemos admitir o racismo no futebol. Seguramente, será punido severamente", afirmou o dirigente. O argentino pode ser suspenso até o fim da Taça Libertadores – o Quilmes tem mais dois jogos na primeira fase, contra The Strongest, dia 28, e Universidad do Chile, dia 11 de maio. Leoz, no entanto, vai aguardar o relatório do árbitro Martín Vasquez, do Uruguai, e do delegado do jogo contra o São Paulo para tomar uma decisão oficial. "Ele está fora do próximo jogo pela Libertadores", antecipou.

Cela

 Apesar de não ter diploma universitário, Desábato foi colocado numa cela especial, de 2 metros quadrados, por motivo de segurança. De acordo com a polícia, ele passou a noite numa cela individual, com banheiro e colchão. Mostrou-se abatido e teria chorado diversas vezes durante a noite.

Ontem pela manhã, recebeu visitas dos advogados. pediu para falar com os familiares, mas não foi atendido. Alimentou-se de sanduíches levados por seus representantes e tomou chimarrão.

Indenização

A diretoria do Quilmes afirma que o time argentino está sendo alvo de uma campanha realizada pelo setor esportivo brasileiro, que o pretende utilizar como "bode expiatório" para demonstrar, perante os times europeus, de que o Brasil também está lutando contra a discriminação racial nos estádios. O técnico do Quilmes, Gustavo Alfaro, definiu a acusação de racismo como "uma farsa".

O vice-presidente do clube argentino, Julio Garcia prometeu mover uma ação judicial pedindo reparação de danos em conseqüência da prisão. O dirigente considera que a prisão foi injustificada e que o jogador e a delegação argentina foram maltratados no Brasil.

Grafite disse que até aceita desculpas do jogador argentino, mas garantiu que não vai retirar a denúncia.

A delegação do Quilmes permaneceu em São Paulo durante todo o tempo. Nestes dois dias, os jogadores realizaram rápidas atividades físicas na academia do hotel onde estão hospedados. Os argentinos deveriam viajar somente às 22h30 para Buenos Aires e o cônsul argentino já pediu às autoridades brasileiros que o grupo fosse mantido num sala especial no aeroporto de Guarulhos. O objetivo era evitar contatos com a população brasileira.

Desábato antecipa a viagem de volta

São Paulo – O zagueiro argentino Leandro Desábato decidiu antecipar sua viagem de volta para a Argentina. Ao contrário da maioria da delegação do Quilmes, que tinha vôo marcado para as 22h30, Desábato embarcaria para Buenos Aires às 18h45, do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. O técnico do clube argentino Gustavo Alfaro contou que conseguiu 15 passagens no vôo do início da noite e que o zagueiro estaria neste grupo.

O zagueiro – preso na noite de quarta-feira acusado de racismo pelo atacante Grafite, do São Paulo – foi colocado em liberdade no início da tarde desta sexta-feira. Agora, vai responder processo por injuria racista e corre o risco de ser condenado a pena de 1 a 3 anos de prisão. Desábato saiu da cadeia e poderá volta para casa, mas assinou termo de responsabilidade comprometendo-se a voltar ao Brasil sempre que requisitado pela Justiça.

Voltar ao topo