Apreensão na seleção: quem vai ser o titular?

Apreensão. Esse é o clima na seleção brasileira a cinco dias da estréia na Copa do Mundo da Coréia do Sul e do Japão. Sobretudo para os jogadores de meio-campo. A decisão do técnico Luiz Felipe Scolari de protelar ao máximo a definição do time que vai iniciar o primeiro jogo causa um certo desconforto entre os atletas que, sem saber se vão ou não ser escalados, acabam sofrendo um desgaste emocional desnecessário.

Ulsan, Coréia do Sul (AE) -Apesar de Scolari repetir por diversas vezes que uma de suas principais preocupações é formar um grupo homogêneo, com ideais de objetivos comuns, o que acabou denominado como “Família Scolari”, fica evidente, em conversas com os atletas, que algo no ar incomoda. Até mesmo os mais experientes, donos absolutos de posições no time, pressentiram o problema. “Essa situação acaba gerando uma apreensão”, afirmou o lateral-esquerdo Roberto Carlos.

Para o jogador do Real Madrid, titular da equipe de Scolari, essa situação pode trazer reflexos até mesmo dentro do campo. Só que, em sua opinião, de forma positiva. Para Roberto, a outra conseqüência seria a motivação maior e a disputa ainda mais acirrada entre os atletas do setor. “Desse jeito, nos próximos treinos o bicho vai pegar”, disse.

A opinião do lateral é compartilhada pelo meia Rivaldo, um dos envolvidos na “briga” pela vaga. De acordo com o jogador do Barcelona, o negócio, nesse momento, é encarar a indefinição do treinador como um fator para continuar treinando forte. “Ele (Scolari) não conversou com a gente sobre isso. Mas está parecendo que vai analisar todo mundo. Então o momento é de trabalhar forte”, observou.

Jeitão

O treinador brasileiro diz não acreditar que essa questão possa trazer problemas para o grupo. Saber que é uma peça importante no projeto de conquista do pentacampeonato, de acordo com Scolari, é o mais importante nesse momento. É dessa forma que justifica as seguidas alterações no time e a demora em resolver quem vai jogar no meio.

“Vou treinar minha equipe para disputar a Copa do Mundo, e não adversário por adversário”, garantiu. “Mas é claro que preciso treinar outras situações de jogo. Senão, quando elas ocorrerem, os atletas não saberão o que fazer e a comunicação durante o jogo é difícil”. Quando questionado sobre a posição desconfortável dos jogadores que ainda não sabem se estarão no campo, Scolari procura fazer uma ‘ode’ do espírito de união em seu grupo. “Só para vocês terem uma idéia, os atletas que não vão começar a partida já participaram de coletivos simulando o esquema de jogo da Turquia. Todos estão trabalhando para um objetivo em comum”, garantiu o treinador da seleção brasileira.

Luiz Felipe fala grosso

Ulsan

(AE) – Uma reunião de 25 minutos no campo de treinamento do Colégio Mipô entre o técnico Luiz Felipe Scolari e os jogadores da seleção serviu ontem como um ajuste tático da equipe. O treinador reforçou o pedido de dedicação dos atletas a seu esquema centrado num único termo: marcação. Explicava a importância de o time entrar em campo, contra a Turquia, dia 3, determinado a cumprir à risca o que foi treinado e discutido.

Mas não foi o único assunto tratado no encontro. Scolari fez questão de ressaltar que os atletas devem cobrar um do outro em campo, falando alto, orientando, gritando até, se preciso for sem se preocupar com a proximidade da imprensa. No treino da manhã, ele chamou a atenção para o fato de a equipe estar pouco falante e deu uma dica grosseira de como os jogadores deveriam se comportar diante do grande número de jornalistas presentes.

“Vocês têm que gritar; se eles quiserem escrever m., que escrevam. Não estou fazendo treino secreto. Estamos todos no mesmo barco”. Na primeira atividade do dia, ele comandou um treino tático, no qual escalou Juninho Paulista a maior parte do tempo no meio-campo, no lugar de Kleberson. A equipe correu bem, criou oportunidades e Juninho até que se entendeu bem com ataque. Poderia ter sido melhor se tivesse sido mais acionado. Ele mesmo reconheceu a falha.

Hoje, Scolari comanda o primeiro coletivo da equipe na Coréia do Sul. A expectativa é pela escalação de Juninho Paulista. Se começar o treino e tiver boa atuação, passa a ter grandes chances de enfrentar a Turquia, sobre quem os jogadores assistiram nesta terça a três teipes de jogos recentes. (SB e WV)

Rivaldo irritado com as mudanças

Ulsan

(AE) – Está cada vez mais evidente: Rivaldo é o primeiro nome do ataque da seleção a ser substituído no decorrer dos primeiros jogos do Mundial. Tem sido assim nos treinos da equipe, como em Kuala Lumpur, na Malásia, e agora na Coréia do Sul. Antes, em Barcelona, recuperava-se de problema clínico e não participou das atividades com bola da seleção. Em todos os treinos táticos e coletivos dos últimos dez dias e no amistoso contra a Malásia, Rivaldo deixou o campo após o primeiro tempo. Sempre para dar a vaga a Denílson.

Como Luiz Felipe Scolari não tem a intenção de escalar Denílson para sair jogando, é muito provável que a primeira troca na seleção, se não houver antes situação de emergência, seja a de Rivaldo pelo atleta do Real Bétis. É grande a possibilidade de isso ocorrer logo no jogo de estréia, contra a Turquia, na segunda-feira, em Ulsan.

Há um outro aspecto que pode reforçar a idéia. Rivaldo ainda precisa melhorar sua condição física. Mesmo que o Brasil esteja vencendo os turcos, não deve atuar os 90 minutos.

Rivaldo tem dificuldades de assimilar o estilo de jogo que Scolari quer impor a todos do time: marcação forte sobre o adversário. Sua característica é a de um driblador, que gosta de conduzir a bola desde a intermediária para finalizar com precisão, na maioria das vezes. Também tem boa presença nas bolas cruzadas na área e é um excelente cobrador de faltas e pênaltis. Ele esforça-se para atender Scolari. Nem sempre agrada. Ontem, foi chamado a atenção com gritos no primeiro treino do dia. Depois, conseguiu fazer o que o treinador pedira e recebeu o incentivo de Scolari.

Minutos depois, porém, deixaria o time titular para dar a vez a Denílson. Pouco antes, comentara com irritação a hipótese de vir a perder a vaga de titular após a estréia. “Vocês escrevem o que quiserem, não tenho que falar disso, é assunto do treinador”.

Contraste

Se Rivaldo não completa um treino com o colete da equipe principal, o oposto se dá com Ronaldinho Gaúcho. Ele é o único do ataque que começa e termina os treinos como titular. Ronaldo, o Fenômeno, fica no meio termo: às vezes é mantido ao lado de Ronaldinho Gaúcho até o fim, em outras, não. (SB e WV)

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