Americanos rejeitam a candidatura de Nova York

A cidade venceu, mas não necessariamente convenceu uma parte de seus moradores, que não acha bom negócio a candidatura oficial de Nova York, representando os Estados Unidos, para sediar os Jogos Olímpicos de 2012. A escolha foi anunciada no sábado, vencendo São Francisco, e já no domingo ativistas tratavam de divulgar panfletos e prender cartazes em postes do lado Oeste da cidade, onde está prevista a construção de um estádio, contra a candidatura.

Há argumentos sobre perda de qualidade de vida devido a engarrafamentos numa cidade já naturalmente engarrafada; descaracterização de bairros, com sobrevalorização de imóveis e encarecimento de aluguéis; má relação custo-benefício num momento em que a cidade enfrenta déficit bilionário, e parte do dinheiro do projeto tem de vir do contribuinte; e a inutilidade de vilas olímpicas na vida das grandes cidades, depois do fim dos jogos.

O custo total do projeto é de cerca de US$ 6 bilhões, mais ou menos o equivalente ao déficit fiscal que Nova York terá neste ano e no ano que vem, em função dos ataques terroristas do ano passado e do desaceleramento econômico dos Estados Unidos. Cerca de US$ 1,5 bilhão é o custo da construção de um estádio olímpico em Manhattan, no West Side, que depois dos jogos servirá de morada para o time de futebol americano New York Jets. Se a cidade for escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional, o time entrará somente com US$ 400 milhões para dispor de um estádio com teto retrátil e capacidade para 86 mil espectadores. O contribuinte paga o resto.

O projeto prevê a utilização de 23 instalações nas cinco regiões que compõem a cidade, das quais oito precisam ser construídas do zero; cinco precisam de grandes reformas; e o restante, de reparos menores. A construção de quadras, pistas e arenas consumirá um sexto do orçamento. A maior parte será consumida não só pelo estádio, como também por novas linhas de metrô e unidades residenciais para as delegações.

O complicado mecanismo fiscal a ser utilizado no financiamento das obras é inédito em Nova York – prevê emissão de títulos a serem pagos com receita fiscal imobiliária e venda de direitos de desenvolvimento – e, por isto, dependerá de aprovação municipal e estadual. Noutras palavras, o dinheiro não existe e só existirá quando houver investidores.

O próprio estádio é de viabilidade política questionável. O ex-prefeito Rudolph Giuliani tentou construir um estádio de beisebol em Manhattan e não conseguiu. O estádio olímpico será atrelado a um importante centro de convenções que, dada a intensa demanda de congressos e feiras, tem projetos de expansão, e tais projetos irão por água abaixo se a cidade vier a ser escolhida.

Porém, o atual prefeito Michael Bloomberg acredita que obstáculos serão superados, e os benefícios do projeto serão duradouros. Ele comprou a idéia do comitê formado há seis anos, ainda na gestão de Giuliani. Treze milhões de dólares foram gastos até agora, na montagem do projeto. O derradeiro movimento se deu este ano, quando a prefeitura de Nova York convocou os cidadãos para tomar parte nas filmagens de rua de um fictício documentário que mostrou o clima da cidade já recebendo a tocha olímpica.

E astros como Woody Allen e Robert de Niro gravaram depoimentos defendendo a candidatura. Contra o poder do dinheiro e do lobby notório, São Francisco mostrou um custo mínimo, de US$ 211 milhões, e instalações já prontas. “Não tivemos apenas uma coisa de relações públicas”, disse o prefeito, depois da vitória. “Reunimos um plano de como faremos, como financiaremos, onde será. A maioria das coisas de que os jogos precisam, a cidade precisa, de qualquer modo”.

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