A Alemanha que a seleção brasileira enfrentará nesta terça-feira, em Belo Horizonte, é um time bem diferente daquele que foi a grande sensação do Mundial de 2010, na África do Sul. Há quatro anos, Joachim Löw apresentou ao planeta uma equipe veloz, incisiva e com enorme senso de urgência, dona de um contra-ataque mortal. Agora, o mesmo técnico exibe uma equipe que faz da troca de passes sua marca principal e da posse da bola seu grande objetivo. É uma Alemanha “à espanhola” a que vemos nesta Copa.

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As estatísticas mostram que os alemães roubaram dos espanhóis o título de “reis do passe”. Na média, a Alemanha deu 715 passes por partida no Mundial, contra 690 da Espanha. Em passes certos, outra vitória alemã: 587 a 567 por jogo. Como é fácil imaginar, as duas seleções lideram o ranking da Copa nesses dois quesitos.

Os números não fazem falta, no entanto, para notar a “espanholização” da seleção alemã. Basta ver um único jogo da equipe no Mundial para perceber esse fenômeno. O jogo da turma de Joachim Löw se baseia na troca de passes nas proximidades da área adversária, à espera de um espaço para a assistência e a finalização.

O que Schweinsteiger, Lahm, Kroos, Özil, Müller e companhia têm feito é o mesmo que Xavi, Iniesta, Fabregas e Busquets passaram os últimos anos fazendo no Barcelona e na seleção da Espanha. A influência, aliás, já foi assumida pelo treinador da Alemanha e por seus colegas de comissão técnica, que sentiram a necessidade de alterar um estilo que, segundo eles, já não surpreendia mais ninguém.

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“É verdade que, em 2010, nós tínhamos um estilo de jogo mais profundo, com transições muito rápidas da defesa para o ataque”, comentou Hansi Flick, auxiliar técnico de Löw. “O problema é que os adversários aprenderam a anular essa maneira de jogar. Eles passaram a se fechar na defesa e isso nos fez buscar outras soluções. Mas o contra-ataque ainda é um dos nossos pontos fortes”.

Flick argumenta também que o clima brasileiro está influindo no futebol de sua equipe. Com exceção das oitavas de final, que disputou em Porto Alegre, a Alemanha sempre jogou em cidades quentes, o que a fez preferir um ritmo lento, que não desgasta tanto os jogadores. Isso ficou claro na última sexta, quando os alemães derrotaram a França sob o sol inclemente do Rio de Janeiro.

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FATOR GUARDIOLA – Se a Alemanha está mostrando na Copa um estilo que o mundo todo associa à Espanha, é também por causa de Pep Guardiola, o homem que, no Barcelona, elevou o “tiki-taka” ao status de arte. Bastou ao espanhol uma temporada no comando do Bayern de Munique para conseguir influenciar, de maneira decisiva, o estilo de jogo da seleção alemã.

Com Guardiola, o Bayern trocou o ritmo alucinado de anos anteriores pelas intermináveis trocas de passes que torturam seus adversários – e também espectadores que preferem um jogo mais agressivo. Como a base da seleção é formada por jogadores do clube bávaro (no jogo contra a França, sete dos onze titulares eram do Bayern), Löw concluiu que seria útil aproveitar as ideias de Guardiola.

O treinador alemão, aliás, sempre se mostrou aberto a aproveitar as “invenções” dos colegas de profissão. Ao ver que Guardiola havia escalado no Bayern o lateral-direito Philipp Lahm como volante e o meia Thomas Müller como centroavante – e com sucesso -, Löw resolveu fazer o mesmo na seleção.

E o espanhol não foi o primeiro a ter ideias “roubadas” por Löw. Quatro anos atrás, na África do Sul, o técnico utilizou Schweinsteiger, que era um ponta, como volante e ele jogou tanto que se tornou um dos melhores da Copa do Mundo. A mudança de posição do craque havia sido uma criação de Louis van Gaal em seus tempos de Bayern de Munique.