Adriano do Coritiba, convocado para seleção

Os olhos de Adriano estão voltados para o futuro. Convocado ontem para a seleção brasileira sub-23 que disputará a Copa Ouro (nos Estados Unidos e no México), o lateral-esquerdo do Coritiba tem consciência que uma boa participação pode garantir uma vaga no Pré-Olímpico – e, antes mesmo das Olimpíadas, emplacar uma convocação para a seleção principal.

Seria a realização de um sonho para o fã de Roberto Carlos. “Ele foi o exemplo que eu tive, o meu ídolo”, admite Adriano, que tenta aproximar suas características das do lateral pentacampeão mundial. “Ele tem arranque e velocidade, coisas que eu também exploro”, afirma o jogador coxa, que no entanto não tem o chute forte como o de Roberto Carlos, que tem hoje como suplentes Júnior (do Parma), Gilberto (que está indo para o Dínamo de Kiev) e Kléber (do Corinthians), sendo que os dois últimos não foram bem na Copa das Confederações.

E a má campanha na França pode obrigar os comandados de Ricardo Gomes a mostrar maior serviço do que o normal. “Eles tiveram azar na Copa das Confederações, e é natural que a expectativa com esse grupo aumente”, explica Adriano, que terá companheiros famosos, como Kaká, Diego e Robinho. “Vai ser bom conviver com esses jogadores, que já têm experiência”, diz.

Apesar de já esperar a convocação, Adriano não recebeu nenhuma dica dos homens da CBF. Por isso a alegria no momento da chamada. E o lateral nem precisou acompanhar pela internet ou pelas emissoras de rádio, já que havia uma ?força-tarefa? pronta para avisá-lo. “Muita gente me ligou para contar”, afirma. No CT da Graciosa, todos estavam apenas esperando para falar com o convocado, que é chamado pela segunda vez para uma seleção (antes, esteve na sub-20). “É uma alegria muito grande. Espero repetir esse momento mais vezes”, diz.

Além de ser o único jogador da posição na seleção sub-23 (o que implica que será o titular), Adriano é o representante do futebol do estado na seleção – Nilmar (do Internacional), nascido em Bandeirantes, é o outro paranaense entre os dezoito convocados. “Espero representar bem nosso estado. É mais uma responsabilidade”, confessa.

Para o técnico Paulo Bonamigo, a convocação é mais uma prova do bom trabalho do lateral. “O Adriano é titular há um ano, e sempre jogou bem. É um prêmio para a qualidade dele”, afirma. O treinador garante que Lima e Marcel, que estavam cotados e não foram chamados, não sentirão qualquer baque. “Eles sabem que estão valorizados. Quanto melhor eles jogarem, mais perto da seleção vão ficar”. Para Adriano, esse tipo de pensamento não precisa mais passar pela cabeça.

Um celeiro de craques criado com base nos CTs

A partir dos anos 70, o futebol gaúcho e mineiro explodiu no Brasil e começou a fazer frente aos cariocas e paulistas por causa da construção dos estádios Beira Rio, Olímpico e Mineirão. Naquela época, era condição sine qua non posuir estádios gigantescos. O Paraná correu por fora, primeiro com o Belfort Duarte, depois com o Café, Willie Davids, Olímpico Regional de Cascavel, Waldomiro Wagner de Paranavaí e, por fim, Arena da Baixada.

Mas ao mesmo tempo, o futebol paranaense avançou em outra frente no patrimônio, deixando o Estado numa condição invejável nos dias de hoje: são os centros de treinamentos, os chamados CTs, verdadeiros ninhos de revelações de jogadores. O apelo é tão forte que alguns clubes não têm estádio e sequer disputam o profissionalismo e no entanto investiram pesado na construção de seus CTs. Todos eles equipados com administração, departamento médico e fisioterapia.

A produção de grandes craques é tão verdadeira que o Matsubara, o primeiro a fazer isto no Estado foi, durante vários anos o maior fornecedor de jogadores para as categorias de base. No início dos anos 80, o Japonês construiu sua vila olímpica e disputou os últimos 20 campeonatos estaduais com esquadrões essencialmente formados em sua casa. De lá saíram Toninho Carlos, Evandro, Afonso Djalma Bahia, todos com passagem pelas seleções de base.

Seu arquirrival, o União, possui quatro campos de treinamento espalhados em três áreas diferentes nas fazendas da família Meneghel. Além de ser um dos poucos clubes do Brasil a participar de torneios internacionais nos EUA, Espanha, Peru, México, Bolívia e Inglaterra todos os anos com suas categorias de base, já revelou Vitor, Fábio e agora Nilmar paras as seleções recentes.

A febre chegou até Campo Mourão, através de Zico, que construiu um centro de formação de jogadores em parceria com a prefeitura da cidade de Campo Mourão, com sete campos de treinamento. Hoje, a atual estrutura é ocupada pela Adap. O PSTC, de Londrina, investiu num projeto arrojado no seu centro antes de pensar em estádio. E foi de lá que saíram o pentacampeão Kléberson, além de Dagoberto e Fernandinho, todos no Atlético, assim como o meio-campista Reginaldo Vital, que já atuou no futebol japonês.

Em Curitiba, os clubes aumentaram seus patrimônios com a compra de terrenos para a construção de centros. O Coritiba adquiriu uma área de 73 mil metros quadrados no Atuba, que já conta com quatro campos oficiais e tem projeto para a construção de mais um construção. Além de Alex, sua cria mas expressiva é o excelente lateral Adriano, convocado ontem pela segunda vez. Mas antes dele vieram Mozart, Malzoni, Marcel, Fávaro…

O Malutrom é outro que ainda não tem estádio próprio, mas integra todas categorias no seu centro de treinamentos, construído em volta da sede do grupo J. Malucelli. Assim ocorre com o Partner, ligado a uma empresa da construção civil, que nunca disputou o profissionalismo mas ostenta um imponente local para seus adolescentes. De lá, saiu Zé Roberto para a seleção. O Paraná Clube já revelou nomes como Lúcio Flávio, Ricardinho, Milton do Ó, Anderson e Dennys muito antes de concluir seu CT em Quatro Barras – que inicialmente terá quatro campos de treinos – graças ao vasto patrimônio centrado nas suas “vilas”.

Além do Pinheirão, de propriedade da Federação Paranaense de Futebol com três campos e alojamentos o Atlético é o que dispõe da melhor estrutura, com um CT modelo, que serviu de concentração para a seleção brasileira em duas convocações. Além de lapidar Adriano, Lucas, Warley, Kléberson, Dagoberto e Fernandinho, produziu Jean, André Luis e Evandro na safra deste ano.

O próximo nome comum na história do centros de formação de jogadores será o Comercial, de Cornélio Procópio. No mês passado, o grupo português Superfute fez uma parceria com o clube e a prefeitura para transformar o estádio Ubirajara Medeiros em escola de futebol. Construiu um alojamento com 260m2, para 48 atletas e oito pessoas da comissão técnica. O objetivo: revelar jogadores para os mercados brasileiro e europeu. Já conta com 30 atletas e, a rigor, é o primeiro clube paranaense com “capital estrangeiro”.

Seleção com trio de ouro

O técnico da seleção brasileira olímpica, Ricardo Gomes, terá o privilégio de reunir pela primeira vez as três principais revelações do futebol brasileiro dos últimos anos: o meia Kaká, do São Paulo, além do meia Diego e do atacante Robinho, ambos do Santos. Os três integram a lista dos 18 convocados para a disputa da Copa Ouro, nos Estados Unidos e México, entre os dias 12 e 27. Mas o treinador já avisou que não existirá espaço no time para “estrelismos” e ainda cogitou a possibilidade de não escalar o trio entre os titulares, “caso não se entendam”.

Para Ricardo Gomes, o principal desafio será o de armar um esquema que possa explorar ao máximo a habilidade dos três jogadores. No entanto, alertou que só terá três dias para treinamentos antes da estréia contra o México, no dia 13, na Cidade do México.

“Se sentir que não vai dar certo, os três não vão atuar juntos”, afirmou Ricardo Gomes. Em seguida, reconheceu a má fase de Kaká, mas não se furtou em elogiar o meia são-paulino, a quem espera ajudar a recuperar o futebol durante a Copa Ouro. Robinho e seus problemas de finalização foram outro assunto a merecer atenção especial do treinador.

“Ainda bem que o Robinho tem alguma coisa para evoluir e ele vai ter tempo para isso”, considerou Ricardo Gomes. “O problema é que esses meninos têm jogado muito e sobra pouco tempo para treinar. Com o tempo, o jogador vai ficando destreinado.”

Ricardo Gomes frisou que não está levando a “força máxima” para a competição continental, mas garantiu que espera contar com 80% desse grupo para a disputa do pré-olímpico, em janeiro. O técnico da seleção Sub-23 admitiu que precisou negociar com os técnicos de clubes brasileiros para poder montar sua lista de convocados.

Voltar ao topo