A medicina esportiva ao alcance de todos da mídia

Partiu o craque pelo meio-campo em alta velocidade. No meio do caminho, ele sente uma fisgada e desaba no gramado. O que terá acontecido? Os solertes repórteres ficam em dúvida: foi um “princípio de fratura”? Foi uma “contratura do músculo sedutor”? Teria sido um “deslocamento de retina”? Ou mesmo uma pancada no “pomar de Adão”? Poderia ser aquela famosa lesão no “cúbis”?

Não, não foi nada disso. Até porque as lesões acima não existem. São sim, faltas graves, mas na língua portuguesa e na nomenclatura médica. Por isso, o Comitê de Traumatologia Esportiva da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia programou uma série de palestras em todo o país. O objetivo principal é evitar que a imprensa cometa erros quando fala em lesões, e acabe desinformando ao invés de informar.

Em Curitiba, a conversa foi comandada pelo médico do Atlético Edílson Thiele, ao lado dos titulares dos departamentos médicos de Coritiba (Lúcio Ernlund) e Paraná (Mohty Domit). “Quando a terminologia é usada de forma errada, ninguém entende o que está realmente acontecendo”, afirma Thiele. “A idéia é explicar aos jornalistas alguns termos básicos, facilitando o entendimento”, completa Ernlund.

Para ajudar ainda mais, foi entregue uma cartilha explicativa, para que os jornalistas pudessem visualizar as lesões e, com isso, criarem condições de explicar com mais facilidade aos leitores, ouvintes e telespectadores. “A gente não sabe, somos leigos. Uma oportunidade como essa é fundamental para aprender coisas que são básicas para os médicos, mas complicadas para nós”, comenta Marcelo Dias Lopes, editor de esportes da RPC.

A capital paranaense foi a primeira a receber a palestra, que fez parte de uma série de encontros médicos, realizados no hotel Bourbon. “O objetivo é fazer reuniões como essa em todos os grandes centros”, revela Edílson Thiele.

Só que há idéias mais profundas nos planos dos médicos. Este mês, um congresso em Recife tomará posições claras para evitar o aumento das lesões nos esportes de alto rendimento, principalmente no futebol. “Não há apoio, e por isso não há pesquisa. Aqui no Brasil, só se fez um estudo aprofundado sobre lesões no futebol, enquanto na Suécia ou na Finlândia existem vários, saindo quase todo ano”, explica o médico atleticano.

A idéia é criar um critério único de avaliação, envolvendo todos os clubes que participam de campeonatos nacionais. A iniciativa não é inédita. “Os Estados Unidos fazem isso no beisebol, no hóquei, no basquete e no futebol americano”, lembra Lúcio Ernlund. “Se possível, vamos normatizar a conduta médica esportiva. Por que as súmulas não têm espaço para a explicação das lesões. Só essa atitude já facilitaria e muito o trabalho dos médicos”, garante Thiele.

Além disso, médicos e maqueiros deverão passar por programas de aperfeiçoamento em emergências. “Eles precisam saber o que é necessário em situações-limite, como a do jogador camaronês que morreu em campo”, diz o médico rubro-negro, citando Marc-Vivien Foe, que teve uma parada cardíaca durante a Copa das Conferderações.

Tudo que para que, no início das temporadas, haja um registro completo do que aconteceu em anos anteriores. “Com esses dados, é mais fácil fazer uma projeção do que vai acontecer e, se possível, fazermos um trabalho preventivo”, diz Mohty Domit. Evitando tudo isso, é possível que até mesmo as “amputações de olho” e as “lesões do menisco” sejam evitadas nos campos brasileiros.

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