Nos anos 1999 e 2000, a redação da Tribuna fervilhava. Ainda vivíamos a transição da máquina de escrever para o computador. Então, era muito comum entrar na redação e ouvir a “sinfonia” das teclas das máquinas de escrever, deslizando o “carro” para lá e pra cá e “imprimindo” na hora laudas e mais laudas com o que estaria estampado nas bancas no dia seguinte.

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Sem esquecer que naquele tempo, fumar em ambientes fechados era a coisa mais comum do mundo, por isso, ao entrar na redação dava para ver a névoa de fumaça que se formava em todo o ambiente. Praticamente todos os jornalistas fumavam e o cinzeiro era quase que uma simbiose com as mesas.

Eu ainda era um novato na editoria de esportes, que tinha o Armindo Berri como editor. Minha missão diária era trazer as últimas do Paraná Clube, que ainda fazia inveja aos rivais naquele tempo. O Rodrigo Baptista, o Tusca, era o responsável pela cobertura do Coritiba e no Atlético (sem h e com acento) estava o Rafael Tavares, que depois virou diretor de redação.

Assim como os times em campo tinham uma rivalidade para saber quem levava a melhor, na redação, nós três também disputávamos para saber quem conseguia emplacar a manchete de capa. Essa disputa, saudável e amistosa, diga-se de passagem, fez um bem tremendo para a Tribuna. Sempre estávamos atrás daquela notícia exclusiva, o famoso furo.

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E cada um queria entregar a melhor matéria do dia para ter o gostinho de ser capa, mesmo as matérias não sendo assinadas naquela época. A competição dependia muito, também, da fase do time. Às vezes, um estava mais em destaque do que o outro e isso facilitava a escolha do Armindo.

Foram bons tempos dedicados a fazer da Tribuna uma referência no Esporte. E isso se deve muito a essa “rivalidade” criada dentro da redação, que fez com que a busca pela qualidade da informação levasse o melhor ao nosso leitor, justamente o objetivo maior de qualquer jornal impresso. Ganhamos vários prêmios de melhor equipe esportiva ao final de cada temporada.

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Depois de algum tempo, o Tusca foi trabalhar no antigo Canal 12, hoje RPC, como produtor do Globo Esporte, eu virei editor e o Rafael assumiu a chefia de reportagem e em seguida virou diretor de redação.

Velha guarda

Além de nós três, praticamente novatos na função, o ambiente da Tribuna permitiu conviver e aprender muito com verdadeiras lendas do jornalismo. Um dos maiores nomes da profissão, com mais de 50 anos de Tribuna, Nelson Comel era o dono do esporte amador. Era uma pessoa fantástica, com um coração gigante. Criou o maior campeonato de pelada do Brasil, o famoso Peladão do Comel. Reunia milhares de jogadores amadores, que disputavam troféus e medalhas em diversas categorias e, no final do ano, sempre tinha a festa de encerramento do Peladão.

Além disso, Comel gostava de pescar e de receber os amigos para um churrasco. Quantos carneiros não comemos ali na Carlos de Carvalho. Sem contar com a panelada de pinhão, quando era época. Ele tinha araucárias no quintal de casa e sempre levava para a redação.

Outro que também era sinônimo de Tribuna, Levi Mulford, que cobria a Suburbana, um dos campeonatos mais disputados de Curitiba. Ao contrário do Comel, que chegava na redação fazendo um estardalhaço, Levi era quieto, tranquilo, se você estivesse muito concentrado no seu trabalho, provavelmente nem perceberia que ele foi até a redação entregar seu texto.

No começo da cobertura da Suburbana, Levi ia de bicicleta percorrendo os estádios e depois redigia as matérias, também fazia fotos dos jogos, quando não tinha a ajuda do fotógrafo Irineu Horbatiuk. Levi trabalhou até os 90 anos, se tornando o funcionário mais antigo da Tribuna em atividade. Sua casa era um verdadeiro museu da Suburbana, pois ele guardava todo material.

Outra figura inesquecível, que tive a felicidade de conviver foi o Boleslau Sliviany, o Boluca. Ex-jogador do Athletico, advogado, Boluca era colunista da Tribuna. Na famosa “Súmula”, ele destilava sua sagacidade e deixava muita gente com a orelha quente. Famoso pelos bordões que criou,

Boluca comparecia todos os dias na redação para levar sua coluna e adorava ficar conversando e contando causos do tempo em que era jogador profissional. “Vai com Deus, guri!”, “Quem viver verá!”, “Nada mais disse, pois também nada mais lhe foi perguntado” e “Eis tudo” foram alguns dos mais famosos bordões criados por Boluca.

Quem também desfilava pela redação da Tribuna com toda sua experiência era Raphael Munhoz da Rocha, que era o editor da página de Turfe. Hoje é raro de encontrar algum jornal que ainda dê espaço para o turfe, mas naquela época era bem lido. Raphael também era um doce de pessoa, sempre andava com umas balinhas de banana no bolso e distribuía para os amigos na redação. Um sujeito incrível, que tinha tanta história para contar.

E não dá para esquecer do Pedro Viana, outra figuraça da redação. Pedro era o responsável pelo futebol de base. Escrevia sobre os futuros craques dos nossos times. Um cara do bem, sempre bem-humorado, que adorava uma boa conversa e gostava de contar causos. Ele e o Socó viviam trocando provocações.  

Ainda bem que consegui dividir a redação com eles.