Durante décadas, o som das rotativas foi a trilha sonora das madrugadas na Tribuna do Paraná. Um ruído metálico e constante, cheiro de tinta, papel e café fresco. Era o som da notícia ganhando forma e da vida de centenas de pessoas que fizeram do jornal o próprio lar.
A Tribuna nasceu no coração de Curitiba, na Rua Barão do Rio Branco, quando ainda se montavam letras de chumbo, linha por linha, bloco por bloco. “Lá era tudo manual”, lembra Marcos Paulo Assis, que começou como teclador e viu cada etapa da revolução tecnológica. “A gente montava o texto com chumbo, depois veio o past-up, o recorta e cola, até chegar no offset e na diagramação digital. Vivemos todas as fases da fabricação do jornal.”
Uma coisa curiosa e engraçada da Tribuna é que lá quase todo mundo ganhava apelidos. “Tinha Socó, Catatau, Mussão, Cuco, Boca de Lajota, Zé Cadela e Cadelinha (pai e filho), Maré Mansa, Cambacica, Piranha, Techo, Raposinha, Lambari, Zé Feio, Tatão … Era como uma família”, conta o veterano Edenelson de Lima, o “Ferrugem”, que trabalhou 29 anos no jornal.
Ferrugem começou aos 11 anos, como auxiliar no setor de fotomecânica. “Entrei no Dia da Mentira. Meu pai mandou eu ir lá, achei que era piada. Mas nunca mais saí. Fiz de tudo: revelava filme, passava tinta, mandava pra rotativa.” E um dia ele gritou a frase que todo jornalista sonha em dizer: “Parem as máquinas!”, por ocasião da morte do presidente Tancredo Neves. Ele ficou três dias sem dormir e sem ir pra casa, de plantão, pois Tancredo estava na UTI e podia morrer a qualquer momento.
E assim como na reportagem policial, a Tribuna também tinha suas histórias trágicas e cômicas: o repórter famoso que levava a amante no carro do jornal (e o pessoal precisou correr e esconder a amante porque a esposa do repórter apareceu por lá); e o japonês que trabalhava na rotativa e surpreendeu a redação quando a polícia invadiu o jornal e o prendeu, pelo assassinato das “mulheres de Tamandaré”, caso que tinha grande cobertura da Tribuna.
Das bobinas ao offset
Nos anos 1970, o barulho das máquinas aumentou. Renato Urbanek, impressor desde 1978, lembra: “A gente chegava 17h no jornal, pegava bobinas de papel de 300 quilos e instalava na rotativa. Cada uma rendia sete mil jornais. Um jornal de 24 páginas precisava de 3 bobinas”, diz ele, lembrando que a Tribuna de segunda-feira – que nas épocas de ouro tinha uma tiragem de 35 mil a 40 mil exemplares – demorava até 3h30 para imprimir.
A Tribuna era o jornal da madrugada. Entrava na rotativa entre meia-noite e uma da manhã, trazendo as últimas notícias da cidade.
A virada técnica veio com o offset, e depois com o CTP (Computer to Plate), implantado em 2006. Cláudio Staichok esteve no comando dessa transição. “A gente passou do filme fotográfico pro laser. Deixamos de usar o fotolito e gravamos direto no computador. Era o ápice da tecnologia. Ganhamos quase uma hora de produção”, diz Cláudio, que ainda comenta do orgulho que era fazer parte da Tribuna.
“Quando eu via alguém na rua com o jornal na mão, o coração batia diferente. Aquele produto era o resultado de todos nós. Um jornal inimitável, querido por uma geração inteira. Foram tempos felizes. Foram tempos de ouro”, diz Cláudio.
Digital
Enquanto o papel rodava, o futuro batia à porta. Marcos Paulo Assis foi o primeiro a conectar a Tribuna à internet. “O doutor Paulo Pimentel achava tudo aquilo estranho, mas aos poucos foi acreditando. A Vera Pimentel bancou a ideia. Nasceu o Paraná Online, um dos primeiros portais de notícias do Sul do Brasil”, disse Marcos, que trabalhou por 29 anos no jornal e foi do chumbo à internet.
“Se a Tribuna desligar o servidor, não tem nada pra mostrar da cidade. Nesse período de quase 60 anos que teve jornal, ninguém vai saber o que aconteceu na história. A Tribuna era um poço de histórias.”



