De escola comunitária a referência regional em ensino de excelência, trajetória de cooperativa do Paraná mostra como o cooperativismo transforma a educação e fortalece comunidades

Em março de 1982, a pedido do Bispo Dom Agostinho, as Irmãs de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Castres — conhecidas como Irmãs Azuis — chegaram a Dois Vizinhos para conhecer um antigo colégio abandonado após um temporal. Com apoio da comunidade, aceitaram o desafio de revitalizar o espaço e retomar o trabalho educacional.

Assim nasceu, em 28 de fevereiro de 1984, o Colégio Regina Mundi, inicialmente com turmas da Educação Infantil e da 1ª série do Ensino Fundamental. O colégio se expandiu rapidamente e, em 1990, já atendia até o antigo Segundo Grau (atual Ensino Médio).

Quando, em 1997, o então mantenedor precisou se afastar, pais, professores e colaboradores criaram uma cooperativa educacional. Assim surgiu a Coopermundi – Cooperativa de Educação e Cultura Regina Mundi, que assumiu a gestão da escola e iniciou uma nova fase da instituição.

Crescimento com base no cooperativismo

A partir de então, o crescimento da Coopermundi foi marcado por reinvestimento contínuo e gestão participativa. Desde 1997, o número de alunos passou de 288 para 702 em 2025, e os cooperados foram de 280 para 548. Hoje, são 107 professores e funcionários, mantendo um quadro altamente qualificado e dedicado.

Mesmo com oscilações ao longo dos anos, a trajetória mostra expansão constante, sustentada por confiança no modelo cooperativo e no compromisso com educação de qualidade.

AnoNº de alunosNº de cooperados
1997288
2000427371
2010450387
2015676596
2020625541
2025702548

“Na Coopermundi, o modelo cooperativo se concretiza por meio de uma gestão participativa e transparente. Os cooperados — pais, professores e colaboradores — têm voz ativa nas decisões que impactam a escola. Isso fortalece o sentimento de pertencimento e o compromisso com uma educação de qualidade e alinhada aos valores da comunidade”, explica Alexandra Miotto, vice-diretora pedagógica.

Educação e cidadania desde cedo

Segundo Alexandra, o reinvestimento dos recursos na própria instituição garante a melhoria contínua da infraestrutura e da proposta pedagógica, sem deixar de lado a acessibilidade das mensalidades.

“Além disso, os alunos vivenciam os princípios cooperativos desde cedo por meio da CONESCO – Cooperativa dos Estudantes do Coopermundi, uma cooperativa mirim administrada por eles próprios. Participam da criação do estatuto social, da eleição de cargos e da gestão de atividades. Aprendem, na prática, sobre cidadania, liderança e cooperação.”

“Esse modelo faz da Coopermundi muito mais que um colégio: é um espaço de construção coletiva, inovação e transformação social.”

Missão, visão e valores que sustentam o projeto

Equipe da Coopermundi celebra trajetória de 40 anos de educação de excelência baseada no cooperativismo. (Foto: Divulgação/Coopermundi)
Equipe da Coopermundi celebra trajetória de 40 anos de educação de excelência baseada no cooperativismo. (Foto: Divulgação/Coopermundi)

A Coopermundi promove educação de excelência inspirada nos valores cristãos e cooperativistas, com a missão de contribuir para o desenvolvimento pleno do ser humano. Entre seus valores estão: cooperativismo, excelência, espiritualidade, respeito, sustentabilidade e ética.

Sua visão é ser reconhecida nacionalmente como uma cooperativa educacional inovadora e comprometida com a qualidade de ensino.

Uma referência para o Brasil

Hoje, a Coopermundi é considerada um caso exemplar do cooperativismo de consumo no Paraná. Seu crescimento consistente, a forte participação da comunidade e a gestão democrática mostram que o modelo cooperativista é mais do que viável — é transformador.

“A busca por modelos educacionais mais inclusivos abre espaço para que as cooperativas se consolidem como agentes de transformação. Com apoio institucional e engajamento dos cooperados, o cooperativismo educacional tem potencial para se tornar referência sólida e sustentável no Paraná e no país”, afirma Alexandra.

De um prédio abandonado a uma das escolas mais respeitadas da região, a história da Coopermundi reafirma que, no cooperativismo, cada passo é coletivo — e cada conquista, compartilhada.

Cooperativismo de consumo no Paraná projeta crescimento e maior geração de valor

Cooperativas de consumo reforçam seu papel estratégico na diversificação do cooperativismo no Paraná. (Foto: Valtecir Santos/Sistema Ocepar)
Cooperativas de consumo reforçam seu papel estratégico na diversificação do cooperativismo no Paraná. (Foto: Valtecir Santos/Sistema Ocepar)

Embora ainda representem uma fatia muito pequena do sistema cooperativo paranaense quando comparadas aos ramos Agropecuário e de Crédito, as cooperativas do ramo consumo no Paraná mostram consistência e evolução, reforçando seu papel estratégico na diversificação do cooperativismo no estado. O próprio desempenho financeiro e social registrado em 2024 confirma que há espaço para ampliação da atuação, inovação e ganho de escala.

De acordo com dados consolidados da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), em 2024 o setor teve um valor adicionado de R$ 12,2 milhões – um salto expressivo de 33,5% em relação ao ano anterior, consolidando sua capacidade de geração e distribuição de riqueza.

O superintendente do Sescoop/PR, José Ronkoski,ressalta a importância do ramo consumo na diversificação do sistema. “Os diversos ramos de atividades que nós temos mostram que existem alternativas boas para as pessoas gerarem renda e crescer como pessoa. Eu acho que esse é o papel do cooperativismo, de você unir suas forças para que todos ganhem. E existe um mundo amplo atuar”, diz.

Destaque do setor de alimentação

O ramo de consumo abrange diversos segmentos no Paraná, incluindo educação, turismo, produtos agropecuários e bens de consumo em geral, mas o destaque vai para os supermercados, que representam a maior parcela do faturamento. Entre as categorias de consumo, as análises indicam que entre 76% e 81% da receita está concentrada em uma única categoria dominante, enquanto as demais respondem por 19% a 24%.

Essa concentração evidencia a força do varejo alimentar dentro do modelo cooperativista e sua capacidade de gerar escala em ambientes locais.

Um dado importante é que a maior parte da riqueza gerada pelas cooperativas de consumo no Paraná é direcionada aos seus trabalhadores: mais de 70% do valor adicionado projetado é distribuído ao pessoal. Os cooperados também têm participação relevante: cerca de 15% da riqueza é destinada à capitalização e retorno aos associados.

Esses números confirmam o papel do cooperativismo de consumo como instrumento de inclusão econômica, não apenas promovendo acesso a bens e serviços, mas distribuindo valor de forma mais justa e direta às comunidades.

Desafios do setor no estado

Um desafio é aumentar o quadro de cooperados, que encerrou 2024 com 4.897 associados, dos quais 98% pessoas físicas. Apesar disso, o setor tem ampliado sua força de trabalho: o número de funcionários cresceu 16,7% desde 2019, totalizando 183 colaboradores em 2024.

Para Alexandra Miotto, da Coopermundi, o crescimento do ramo de consumo passa por ações estratégicas em vários níveis. “É necessário investir na formação dos cooperados, fortalecer a gestão participativa e ampliar o uso de tecnologias como plataformas digitais e ferramentas de marketing”, explica.

Ela defende também parcerias com instituições de ensino, universidades e órgãos públicos para desenvolver projetos cooperativos voltados à educação. Segundo Alexandra, políticas públicas como incentivos fiscais, crédito facilitado e regulamentações adequadas podem criar um ambiente mais propício à expansão.

“Promover a cultura cooperativista desde a base escolar é essencial para formar cidadãos conscientes e engajados com os princípios da cooperação e da economia solidária”, afirma.

No Brasil, cooperativas de consumo movimentam R$ 7,6 bilhões e fortalecem economia local

No Brasil, cooperativas de consumo, como a Coop, fortalecem a economia local com modelos sustentáveis e participação dos cooperados (Foto: Divulgação/COOP)
No Brasil, cooperativas de consumo, como a Coop, fortalecem a economia local com modelos sustentáveis e participação dos cooperados (Foto: Divulgação/COOP)

O cooperativismo de consumo, primeiro ramo do movimento cooperativista no mundo, se firmou como uma alternativa inteligente e sustentável no Brasil. Com mais de 2,5 milhões de cooperados, esse modelo coletivo garante acesso a produtos e serviços com preços justos, atendimento diferenciado e, principalmente, um impacto positivo na vida das pessoas e no desenvolvimento das comunidades.

Criado em 1844 por um grupo de trabalhadores na Inglaterra, o modelo das cooperativas de consumo surgiu da necessidade de adquirir produtos básicos a preços mais acessíveis. Hoje, ele está presente em todo o país, em segmentos como supermercados, farmácias, vestuário, serviços educacionais e de turismo.

Um modelo que coloca o consumidor no centro

Diferentemente das empresas convencionais, o foco das cooperativas de consumo não é o lucro, mas o bem-estar dos cooperados. Quem consome em uma cooperativa não é apenas cliente, mas também dono do negócio. Isso significa poder de decisão em assembleias, direito a voto e participação na divisão dos resultados — as chamadas sobras.

Segundo o AnuárioCoop 2023, os números no Brasil são:

  • 221 cooperativas de consumo;
  • 2,5 milhões de cooperados;
  • 16 mil empregos diretos gerados;
  • R$ 7,6 bilhões em ativos;
  • Mais de R$ 689 milhões em salários e benefícios pagos a funcionários;
  • Mais de R$ 643,8 milhões recolhidos aos cofres públicos em 2022.

Além disso, a atuação das cooperativas contribui para aumentar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios em que estão inseridas.

Educação cooperativista alia gestão democrática e valores humanos

Um dos segmentos mais relevantes dentro do ramo de consumo é o da educação, que representa 32% das cooperativas do setor. A proposta vai além da prestação de serviço: é uma educação com propósito social.

Para a vice-diretora pedagógica da Coopermundi, Alexandra Miotto, o sistema cooperativo na educação apresenta “diferenciais relevantes que o tornam uma alternativa sólida e humanizada frente aos modelos tradicionais.” Ela destaca a gestão democrática como um dos pilares mais fortes. “Pais, professores e cooperados participam ativamente das decisões, o que fortalece o vínculo entre escola e comunidade”, afirma.

Desafios e caminhos para o fortalecimento do cooperativismo

Apesar dos avanços e da consolidação em várias regiões, Alexandra aponta que há espaço para crescimento. Em sua visão, falta maior integração entre os ramos do cooperativismo, o que poderia ampliar o impacto do movimento como um todo.

“Muitas cooperativas operam de forma isolada dentro de seus respectivos ramos, o que limita o potencial de colaboração entre elas. A integração com o ramo consumo, por exemplo, poderia gerar programas conjuntos de fidelização, ações intercooperativas mais efetivas e uma leitura mais estratégica das necessidades dos cooperados”, avalia.

Ela defende que essa cooperação entre os ramos não deve ser vista apenas como oportunidade, mas como “um caminho necessário para ampliar a relevância e a sustentabilidade do cooperativismo em todas as suas formas.”

Diversidade e impacto no dia a dia

Além da educação, as cooperativas de consumo estão presentes em outros sete segmentos:

  • Supermercados – 24%
  • Produtos alimentícios – 20%
  • Farmácias – 17%
  • Produtos e equipamentos – 16%
  • Vestuário e beleza – 14%
  • Serviços veiculares – 6%

Esse modelo garante ao cooperado condições especiais de compra, atendimento humanizado e consumo consciente. Ao consumir em uma cooperativa, o cidadão apoia práticas sustentáveis, valoriza a economia local e ajuda a construir comunidades mais fortes e resilientes.

O cooperativismo de consumo segue, portanto, como uma força transformadora que une economia, cidadania e solidariedade — promovendo desenvolvimento não apenas para os cooperados, mas para todo o Brasil.

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