Com o consumo de energia em alta e projeções para continuar crescendo nos próximos anos, a conta da energia elétrica pesa tanto no orçamento de empresas quanto das famílias brasileiras. Nesse cenário de alta demanda, a procura e oferta por alternativas para diminuir esse custo também crescem e surge a dúvida de qual a melhor opção para cada tipo de consumidor e o que cada um pode fazer.
Por muito tempo, a única opção para qualquer tipo de consumidor no país era o chamado ambiente cativo, no qual o dono ou inquilino do imóvel adquire a energia obrigatoriamente da concessionária que atende seu estado e/ou a sua região.
Esse cenário, no entanto, tem mudado – principalmente nos últimos anos – com maior facilidade no acesso à geração distribuída (com a produção de energia nas próprias propriedades, principalmente com placas solares) e também com a abertura gradual do mercado livre de energia. Neste modelo, o cliente pode negociar preço, quantidade, período e condições de pagamento da energia elétrica diretamente com o vendedor, com possibilidade de descontos até 35% e outras condições especiais.
Ao contrário da geração distribuída, que necessita de um grande investimento inicial e projeção de economia no médio-longo prazo, o mercado livre tem um baixo custo de adesão. Além disso, a economia é imediata após concluído o prazo de migração, que dura em média seis meses, tempo necessário para informar a saída do mercado cativo e fazer os trâmites para ingressar no livre seguindo o prazo regulatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Também conhecido por Ambiente de Contratação Livre (ACL), o mercado livre de energia completou 30 anos em 2025, mas até alguns anos atrás era restrito a poucos consumidores, como grandes indústrias, por exemplo. Ou seja, não era conhecido por boa parte da população.
Porém, desde o início de 2024 o segmento vive franco crescimento, após a Aneel liberar a modalidade para todos os consumidores conectados à rede de média e alta tensão (no chamado Grupo A). A decisão, na prática, permitiu o acesso de mais de 100 mil consumidores ao mercado livre, caso de empresas, comércios e instituições de médio ou até pequeno porte. Anteriormente, a regra vigente demandava o consumo de pelo menos uma carga de 500 kW (quilowatts).
Falando em dinheiro, isso permitiu que negócios com faturas próximas de R$ 10 mil por mês (desde que pertencentes ao Grupo A) pudessem ter essa liberdade de escolha na hora de comprar sua energia.
“Quanto mais esse mercado vai ficando maduro, com regras concretas e com parcerias bem estabelecidas, ele vai sendo mais acessível para as outras classes de tensão. No início do ano passado, teve um salto, de fato relevante, que todo cliente de alta e média tensão poderia migrar para o mercado livre. A cada ano se abre uma gama cada vez maior de clientes com perfis diferentes. E os dois últimos anos não foram diferentes. A gente começou a chegar em clientes que não tinham tanto conhecimento de energia”, diz Rodolfo Lima, diretor-geral da Copel Comercializadora, braço da Companhia Paranaense de Energia no segmento, criada em 2016 e presente em 24 estados do país com mais de dois mil clientes atendidos na compra e gestão de energia.
Forte expansão e novos clientes
O ‘boom’ no mercado é bem fácil de notar ao se observar os números da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) – organização responsável por viabilizar as negociações de compra e venda de eletricidade no Brasil –, que fechou 2023 com pouco mais de 38 mil unidades consumidoras registradas e durante o ano passado teve a migração de mais 26,8 mil consumidores, volume recorde que superou em mais de três vezes as adesões do ano anterior. No primeiro semestre deste ano, mais 13,8 mil consumidores haviam concluído o processo de adesão com a previsão de mais 6,2 mil até o fim de 2025, o que fará o ano terminar com mais de 83 mil unidades consumidoras no segmento, mais do que dobrando de tamanho nos últimos dois anos.
Essa migração foi liberada pelos ‘pequenos’ consumidores, pois a carga média dos que migraram para o mercado livre, que era de 790 kW em 2023, caiu para 267 kW em 2024 e 212 kW no primeiro semestre deste ano, de acordo com dados da CCEE, quando a abertura do mercado atingiu pequenas e médias indústrias e comércios.
Para se ter ideia do que isso representa, no fim do primeiro semestre deste ano, 42% de toda a eletricidade consumida no Brasil era por consumidores livres, sendo que em quatro estados, eles já eram responsáveis por mais da metade do consumo total: exemplo do Pará (58%), seguido por Minas Gerais (56%), Paraná (52%) e Maranhão (50%), segundo levantamento da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia).
“A cada classe de tensão que a gente chega para atuar, se abrem inúmeras necessidades e especificidades que você não tinha na classe anterior. Então, nós temos um time, uma superintendência focada em desenvolvimento de novos produtos, que é a área responsável por entender o que o mercado está pedindo, como a gente consegue gerar valor para esses novos clientes”, explica Lima sobre o trabalho da Copel Comercializadora.
E a clientela, inclusive, deverá crescer e muito daqui a dois anos, quando se iniciará mais uma fase na abertura do mercado livre de energia, aprovada pelo Congresso Nacional no fim de outubro. “Agora a gente está na expectativa desse próximo salto, que aí o mercado abre para todo cliente mesmo. Além de toda a alta e média, entra toda a baixa tensão [Grupo B]. Estamos falando de basicamente todos os consumidores. São duas etapas: a primeira vai ter os comércios de indústria em baixa tensão e lá na segunda etapa [daqui três anos] de fato, todos os clientes residenciais”, conclui.
