“Preta”, uma F1 de 1950 que está na família desde 1988

Uma das grandes dificuldades em se restaurar um carro antigo é a procura pelas peças originais. Ainda bem que hoje tem a internet. Senão, a tarefa teria sido impossível para a família Matuella, de Campo Largo. Rogério, 51 anos, e seu filho Duccio, 23, conseguiram restaurar uma Ford F1 ano 1950. Passaram cinco anos procurando e buscando peças, até que montaram a “Preta”, como a chamam carinhosamente.

Rogério conta que a caminhonete era de um colega de trabalho. No dia que o amigo foi trabalhar com a F1, Rogério se apaixonou pela picape. Quis a todo custo comprar o veículo e pediu ao amigo que fizesse preço. O dono da F1 não queria vende-la, mas pesquisou rápido e disse um valor qualquer. O que ele não esperava é que Rogério chegasse com o dinheiro no dia seguinte e fizesse a compra quase à revelia do dono. “Eu já peguei a chave e não devolvi mais. Insisti, até que ele topou”, contou aos risos.

A compra foi feita em 1988. Um ano depois nasceu Duccio, que embarcou na paixão do pai e foi quem deu início ao projeto de restauração, em 2004. Depois de muita pesquisa do filho na internet, de mandar trazer peças de vários estados brasileiros e de inúmeras estadias em oficinas, a “Preta” ficou pronta em 2009. “Quer dizer, nunca fica pronta. Apenas pudemos passear com ela”, contou o pai.

Mudanças

Além da restauração, a caminhonete passou por algumas pequenas mudanças. Ganhou frisos cromados, os bancos em couro com o bordado da Ford nos encostos e as rodas aro 20 polegadas (pneus 255/35), estas, bem modernas. O motor também foi trocado. Veio com a propulsor do Opala quatro cilindros e foi substituído pelo do Opala SS. Mas Duccio ainda quer mais. Seu objetivo, agora, é colocar um V8 americano. Com isto, terá que fazer algumas substituições mecânicas e estéticas, como por exemplo, as rodas. “Como o torque do V8 é muito grande, os pneus vão gastar muito rápido e a roda pode quebrar”, analisou o filho.

Infância

Rogério fala com felicidade que a picape fez parte da infância do filho. “Com uns cinco anos, o “Du” ia na caçamba, em cima de uma moto que ele tinha e ouvindo um CD do Elvis Presley. Andávamos com ele por um terreno grande que tinha na cidade”, lembrou Rogério.

Já numa outra saída, voltando da casa de parentes em São José dos Pinhais, Duccio e o irmão mais novo, João, ainda de colo, dormiram no carro.

Rogério se viu obrigado a parar a picape, pois os garotos cochilando estavam tomando espaço no veículo e o pai não conseguia dirigir. Enquanto a mãe ficou com João no colo, Duccio foi colocado no chão da cabine, para se espichar melhor. Mesmo assim, com o filho se esticando no assoalho, Rogério não conseguia dirigir e se viu obrigado a parar embaixo do viaduto do Orleans, na BR-277, para esperar que os garotos dormissem. “No fim, passou um vizinho nosso, o “Du” acordou e quis ir embora com eles”, riu o pai.

Mas nem tudo foram flores na vida da “Preta”. Uma vez, Rogério bateu a picape e por isto até hoje é proibido pelo filho de dirigi-la. Mas foi um acidente e o pai não teve culpa. Foi a outra motorista – coincidentemente uma amiga de Duccio -quem se distraiu no volante e bateu na picape. O seguro dela reinou no início pra pagar o conserto, mas acabou custeando o prejuízo. Depois do acidente, o filho sempre arranja uma desculpa pro pai não guiar a “Preta”. “Ele não limpa direito. Olha aqui (mostrando uma parte da lataria). Ele lava e não seca bem. Não espreme bem o pano e fica cheio de marcas na pintura”, analisou o filho. Rogério ficou observando a sabatina do filho, mas sem ligar para a bronca. Pelo contrário, ficou cheio de orgulho no olhar.

Outro fato trágico, e ao mesmo tempo cômico, foi a comemoração do aniversário de namoro de Duccio com a Camila. Depois d,a restauração da F1, a família passou a evitar ir mais longe e pegar estrada com a “Preta”. Mas como o casal estava de aniversário, em fevereiro deste ano, Duccio resolveu presentear a namorada, levando-a na caminhonete para jantar fora, em Curitiba.

Na saída do restaurante, o volante travou e a pick-up ficou atravessada bem na entrada e saída do restaurante. Ninguém podia passar, de nenhum dos lados. Nervoso, vendo que estava travando o trânsito, Duccio resolveu forçar o volante e acabou quebrando a barra de direção, pois por causa da roda muito grande que a caminhonete comportava e do rebaixamento, a suspensão engatou no eixo. A decisão foi pior, pois as horas estavam passando e ele não conseguia tirar a caminhonete do lugar, até que conseguiu puxa-la pra calçada e esperar o guincho.

Ainda bem que a Camila levou tudo numa boa e entendeu o namorado. O casal até que se divertiu, voltando de guincho pra Campo Largo, na cabine da caminhonete, namorando e sem se preocupar com o trânsito.

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Giselle Ulbrich

Veja na galeria de fotos a caminhonete.

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