Xaxim

Chega de água!

Não precisa chover durante muito tempo para que os moradores da Vila Esmeralda, no Xaxim, fiquem em alerta. Além da preocupação, também é comum entre a comunidade a instalação de dispositivos para evitar que as águas do Ribeirão dos Padilhas invadam as casas, como constantemente acontece no local.

Quem pode, está elevando a casa para além do nível da rua. Outros investiram em portões com largas placas de metal enquanto alguns optam pela estratégia artesanal. É o caso do aposentado Jair Camões, 75, que mora há 40 anos no bairro e conta que não tem hora para o problema acontecer. “Passou de dez minutos de chuva forte a gente já tem que descer”, diz. Em frente de casa ele adaptou as muretas com um suporte para instalar uma placa de madeira em dias de chuva. É uma espécie de sistema de contenção que ele utiliza para evitar que a água entre no local.

“A gente vai criando as estratégias de proteção, mas o pior de tudo é perder móveis, alimentos. Já perdi uma compra inteira, tive que arrumar o carro que estava com água no tanque e o estofamento todo molhado. E a maioria das casas aqui não é clandestina, aqui se paga água, se paga esgoto, está tudo encanado”, comenta o vice-presidente da Associação de Moradores da Vila Esmeralda, Sandro Reis da Silva, 37, há 28 anos no local. Ele destaca ainda a situação das duas creches do local, que também sofrem com os alagamentos, além dos riscos para as crianças que podem ser surpreendidas pela água.

Tem gente erguendo a casa para não sofrer com inundações. Foto: Ciciro Back
Tem gente erguendo a casa para não sofrer com inundações. Foto: Ciciro Back

Enxurrada

Ribeirão dos Padilhas está no centro de muita discussão. Foto: Ciciro Back
Ribeirão dos Padilhas está no centro de muita discussão. Foto: Ciciro Back

A origem do problema se concentra na ponte localizada no cruzamento entre as ruas Dante Honório, Odenir Silveira e Teodomiro Furtado. De acordo com os moradores, a estrutura não é larga o suficiente para escoar a água em dias de chuva forte, especialmente porque neste ponto o Rio Esmeralda se junta ao Ribeirão dos Padilhas. “A ponte não comporta o volume de água”, diz Silva. Além disso, quando a água sobe, vão para o fundo do rio terra e outros objetos que reduzem a profundidade da água, fazendo que ela suba mais rápido nas chuvas seguintes”.

Os moradores contam ainda que a situação se agravou depois da construção da Linha Verde, pois todo o escoamento da água da via é destinada para o Ribeirão dos Padilhas, o que aumenta ainda mais o volume de água. “Antes não alagava tanto, tinha enchente no máximo três vezes por ano, mas depois da Linha Verde piorou muito, agora qualquer chuva forte já inunda. Trovejou e a gente já fica em alerta”, lamenta o morador ZenóbioKerneski, 60, também há 40 anos na vila.

No mesmo ponto, o aposentado Vilmar Correa, 65, alerta para o perigo da erosão na rua ao lado de sua casa, já que as margens não contam com estrutura adequada para manter o solo. “Está desmoronando, não tem mais segurança pra pedestres e motoristas”, diz. Ele conta que a situação só piora a cada chuva forte, quando a força da água aumenta a erosão. “Tem que fazer com concreto, a água está entrando por baixo das placas que estão ali, não adianta nada”, opina.

O representante dos moradores acredita que o problema pode ser resolvido de maneira simples. A sugestão é, além do alargamento da ponte, o afundamento do fundo do rio. “São medidas que não têm tanta dificuldade de fazer. Dizem que vão vir dragar, mas não fazem isso, só limpam as margens”, reclama.

Por todo o Ribeirão

Os pedidos de melhorias no entorno do Ribeirão dos Padilhas não ficam restritos à Vila Esmeralda. Moradores de toda a extensão do rio, que vai do bairro Capão Raso ao Ganchinho, solicitam mudanças que podem impactar diretamente na segurança da comunidade: a realocação de famílias que vivem irregularmente nas margens do rio e a construção de pontes em trechos que ficam isolados, mas que poderiam melhorar o fluxo de pessoas e veículos pela região.

Jair improvisou uma barreira de contenção. Foto: Ciciro Back
Jair improvisou uma barreira de contenção. Foto: Ciciro Back

“Temos um problema seriíssimo de tráfico de drogas e pequenos furtos em alguns pontos. E esse pessoal usa os pontilhões para fugir da polícia. Como não temos ponte nestes locais, a polícia não consegue chegar. É bem complexo”, destaca o presidente do Conselho Comunitário de Segurança do Bairro Xaxim (Conseg Xaxim), Izidoro Paulino Lachovitz.

O pedido é para construção de três pontes, para ligação de três pontos: ruas Primeiro de Maio e Tenente Antônio Pupo; ruas Barão de Santo Ângelo e Dr. Antônio Gomes; e ruas Mahatma Ghandi e Expedicionário Ernesto Gonçalves, além de mais uma via de acesso na ponte já instalada entre as ruas Gabriel Frecceiro de Miranda e Christiano Schmitz. De acordo com o município, o assunto já foi debatido entre a comunidade e administração pública e está em fase de estudo por órgãos técnicos.

A comunidade reclama ainda do processo de realocação, tanto pela demora como a situação como a área fica após a saída das famílias. A situação, inclusive, se transformou em ofícios enviados para a Regional Boqueirão, pedindo providências. “O Ribeirão está ficando no total abandono, causando problemas de saúde à população do bairro, sendo causador de enchentes em vários pontos por onde passa, receptor de lixo das mais variadas espécies, esgotos são despejados neste rio”, argumenta o ofício.

“Queremos um serviço de primeiro mundo, padrão Fifa. Com retirada dos moradores, plantio de árvores, criação de vários espaços de lazer, hortas comunitárias, espaços públicos dignos, iluminação adequada estilo parques e praças, eliminação dos esgotos clandestinos, afundamento do leito para prevenir enchentes, canalização aberta com paredes de concreto”, pede a comunidade.

Em nota, a Cohab informou que o reassentamento das famílias que viviam nas margens do Ribeirão dos Padilhas envolveu moradores das vilas Rex, Mariana e Esmeralda. Ao todo, 283 famílias foram cadastradas, mas somente 223 foram transferidas, em 2012, para novas casas e sobrados dos Residenciais Boa Esperança, construídos no Tatuquara.

“As demais não aceitaram os imóveis ofertados e permaneceram nos locais de origem. Atualmente vivem 36 famílias na vila Mariana, 36 na vila Esmeralda e sete na vila Rex. A Cohab está buscando outras alternativas para oferecer a esta população”, informou o órgão.

Obras previstas

De acordo com a Prefeitura de Curitiba, a região do Ribeirão dos Padilhas deve ser beneficiada com cinco projetos. Conforme a secretaria municipal de Obras informou, as propostas estão em análise pela Caixa Econômica Federal e contam com recursos do PAC 2 – Gestão de Riscos, do governo federal. A licitação deve acontecer ainda este ano.

“Os projetos vão beneficiar a região e têm como objetivo aumentar a capacidade de reserva de água e de controle da vazão do Ribeirão dos Padilhas”, afirmou, em nota, a secretaria. São eles: Bacia de Detenção Jardim Esmeralda, Perfilamento do Ribeirão dos Padilhas, Bacia de Detenção Arroio Boa Vista, Bacia de Detenção Parque do Semeador e Bacia de Detenção Arroio Cercado.

Além disso, a secretaria ressalta a execução de intervenções no local, com limpezas preventivas em pontos críticos do córrego e obras de contenção, ou seja, construção de muro de arrimo em Gabião no trecho entre as ruas Mani Z. Bourges e Vitelio Parzianello. “O Núcleo de Proteção e Defesa Civil Comunitária (NUPDEC) está em formatação na localidade e vai auxiliar no acompanhamento dos incidentes relacionados à Defesa Civil como alagamentos e inundações”, informa.

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Sobre o autor

Carolina Gabardo Belo

(41) 9683-9504