Uberaba

Arco e faca!

Um gosto de infância que virou profissão. Nascido em Assis (SP), mas criado boa parte da sua vida no Paraná, Alcides Pileggi, 63 anos, é um artista que cria suas obras no quintal de casa, no Uberaba. Vivendo com a esposa e dois netos, seu Pileggi, como gosta de ser chamado, produz facas além de arcos e flechas com as próprias mãos. “Eu sempre gostei muito de arco e flecha. Desde pequeno eu fazia os meus próprios, mas claro com bambu, de madeira do mato. Eu fazia arcos simples, mas hoje faço profissionalmente e são bem trabalhados. Mas meu sonho também era trabalhar com facas”, explica Alcides.

Sonho de Pileggi virou profissão. Ele diz que aprendeu vendo vídeos na internet e trabalha no quintal de casa. (Felipe Rosa)
Sonho de Pileggi virou profissão. Ele diz que aprendeu vendo vídeos na internet e trabalha no quintal de casa. (Felipe Rosa)

arcoefaca_03O sonho ficou na infância e a vida de Pileggi tomou outros rumos. Foi entregador de bobinas, motorista e já teve até estúdio fotográfico. Também já foi dono de lanchonete, restaurante e pizzaria. Chegou a ter três restaurantes ao mesmo tempo, mas um assalto o tirou do ramo. “Durante o assalto eu levei um tiro nas costas e isso quase acabou com a minha vida. Fiquei sem andar por causa do tiro e tive muitos problemas em decorrência disso. Fiquei sem andar por três meses e tive problema nos rins. Com isso, cheguei a pesar 156 quilos”, conta Pileggi.

Em depressão, o artesão ficou parado por três anos, mas o sonho de menino voltou a sua cabeça quando foi passar um tempo na chácara do sobrinho, em Pinhais. Em meio à natureza, ele voltou a fabricar arcos e flechas com as madeiras que sobravam da chácara. “As madeiras são reaproveitas, mas como conheço bem, porque já trabalhei com reflorestamento com o meu pai, sabia que eram boas. Desde então nunca mais parei. Eu faço porque eu gosto”, relata Pileggi.

Todo o processo para fabricar os arcos e flechas também é artesanal e demora cerca de três dias. Cada arco chega a custar cerca de R$ 150.

Facas

Mas a vida impôs outra situação difícil para o artesão. A morte do filho. No entanto, da tristeza da perda do filho há dois anos, Pileggi tirou forças para voltar à ativa e retomar o gosto pelo trabalho. Com o incentivo dos amigos ele desenhou e confeccionou sua primeira faca. “Era simples, mas ela me deu gosto para continuar”, conta o artesão. Sua produção é variada desde facas de caça e sobrevivência até facas para acampamento e cortes de carnes. E um detalhe importante: aprendeu o ofício assistindo vídeos no YouTube. “Eu aprendi tudo sozinho. Mesmo vendo vídeos em outras línguas, até em russo e polonês, eu conseguia captar as imagens e entender. Quando eu me envolvo no processo eu viro um artista. Eu desenho uma faca na mente, por exemplo, e passo para o papel. E assim o processo continua e toma forma”, explica Pileggi.

O processo de produção das facas é todo artesanal e, dependendo do tamanho e do estilo da faca, pode-se demorar até um mês para ser finalizada. Exige muito esforço, habilidade, dedicação e amor por essa profissão que transforma trabalhadores em artistas. Como afirma o próprio Pileggi, “não faço uma única faca parecida com a outra. Cada uma tem sua particularidade”.

Facas podem demorar até um mês pra ficar prontas. (Felipe Rosa)
Facas podem demorar até um mês pra ficar prontas. (Felipe Rosa)

Seu próximo objetivo? Montar sua própria cutelaria completa e, através dela, poder viver do seu sonho. “Tudo o que eu tenho hoje fiz com as minhas próprias mãos, inclusive as máquinas onde produzo meus materiais. Queria criar meu nome e ter certeza que viveria da venda das facas, arcos e flechas”, conta, sorridente.

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Processo

Pileggi utiliza capas de rolamento que são aquecidas por 12 horas na forja adaptada dentro da churrasqueira. Depois disso ele deixa o aço esfriar naturalmente e então bate o aço na bigorna para tomar forma, faz o desenho da faca e recorta. A etapa mais demorada é a usinagem das facas que consiste em dar um melhor acabamento à peça. Depois disso, ele deixa a faca novamente no fogo e resfria de duas a três vezes para harmonizar o aço e então passa pelo processo de têmpera em parafina ou óleo para endurecer o material. Novamente vai para o forno a uma temperatura de 200 graus. Por último, ele faz os furos para o cabo.

Sobre o autor

Andrea Côrtes

(41) 9683-9504